O SONHO DO CELTA
                           
“O Sonho do Celta”,novo livro de Vargas Llosa é uma história da vida real,mas,com toques da mais perfeita irrealidade.Pois nos apresenta a um mundo que nem em nossos piores pesadelos  acreditaríamos existir.
O livro descreve a vida de um aventureiro irlandês, Sir Roger  Casement,que foi um diplomata do Império Britânico, trabalhou em muitas causas humanitárias,esteve na África e na América do Sul, sempre como observador  crítico de como os governos tratavam os nativos colonizados e os denunciava numa guerra sem quartel.
  Um novo Quixote que não estava lutando contra moinhos de vento,mas,sim,contra muros poderosos sabendo que jamais teria oportunidade de saborear a vitória.
Era um idealista;se fosse nos dias de hoje lutaria ao lado dos palestinos,pois,sua opção preferencial sempre foi pelos mais fracos e explorados,os deserdados da sorte.
Após lutar freneticamente para denunciar as atrocidades cometidas pelo rei Leopoldo II,rei da Bélgica, no Congo Belga e pelas grandes empresas inglesas ,no Peru,engajou-se na luta pela independência da Irlanda e foi considerado um traidor pela Inglaterra que tanto o respeitara.
 
Afinal,esse era o sonho do celta,tratado assim por ser irlandês e estudioso da cultura celta,a cultura do seu país;transformar o mundo num lugar melhor onde vigorasse o respeito e a harmonia entre fracos e fortes.
Aldeias eram destruídas,mulheres e crianças mortas e os homens forçados a trabalho escravo,mal alimentados e maltratados obrigados a trazer a cota certa do látex ou do marfim  que enriqueceria seus algozes.
Assim foram exterminados de 5 a 10 milhões de nativos.
O relatório,pedido pelo governo inglês para tomar pé da situação e escrito por Casement,gerou uma indignação mundial.Casement foi elevado a herói nacional,para logo depois cair em desgraça por ter se aliado aos alemães contra a Inglaterra na esperança de assim facilitar a independência da Irlanda,seu berço bem amado.Esse fato e mais a reputação de homossexual e pedófilo  selou o seu destino.
Confinado numa prisão inglesa ,de segurança máxima,isolado dos seus amigos e desprezado pelos carcereiros,começou a escrever a estória da sua vida e sua participação neste mundo monstruoso que tanto tentou modificar.
Preso e esquecido,abandonado pelos amigos ficou  ignorado por muito tempo,difamado como pervertido por causa das suas preferências sexuais e desprezado como um traidor vil ,capaz de trair a nação que o acolhera e respeitara.
Se você,meu amigo ,minha amiga tem uma natureza sensível não leia esse livro apesar da sua qualidade literária;talvez você não agüente conhecer   as barbaridades que os ditos civilizados perpetravam contra os nativos por ganância e  desprezo pela vida humana.
Llosa não tem medo da verdade,nem dos acontecimentos,nem das palavras;sua narrativa é crua,cortante como a chibata no lombo dos infelizes de  quem  ele descreve tão bem os sofrimentos.
O Sonho do Celta,nome escolhido por Vargas Llosa para o livro era o nome de um poema épico escrito pelo irlandês patriota e dedicado á causa do seu pais.
O livro de Llosa mostra acima de tudo quão diferente é a história humana contada pelos vencedores e os fatos  como realmente aconteceram.
Descrevendo acontecimentos chocantes vividos por um homem contraditório  Llosa engendrou um livro magistral saído da pena de um dos mais extraordinários escritores da América Latina contemporânea.
“O Sonho do Celta” é um livro instigante e comovente que trás para nós as diversas “personas”  que se escondem  dentro das nossas personalidades,algumas assustadoras.
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 21/09/2011
Código do texto: T3232089
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