O BERRO DO POVO NORDESTINO
Berro Novo -obra do autor Jessier Quirino
Edições Bagaço
Acompanha um CD
A obra Berro Novo, de Jessier Quirino, é o que há de mais bonito na literatura paraibana. É, literalmente, um “deboche”, bem humorado, às coisas, pessoas, e à vida nordestina.
O autor usa e abusa da paródia nos seus textos. E, por isso mesmo, o leitor, ao lê-lo sente toda a conotação burlesca. Não se tem como não achar graça com a leitura de Berro Novo! O Berro da graça, do riso, da alegria. O “Berro Novo” é terapêutico. Existe coisa melhor em nossos dias? Dias estressados com toda a famigerada vida moderna. Onde as pessoas se brutalizam dia a dia? Onde as pessoas se matam a três por quatro, como se a vida humana valesse menos do que casca de banana? Onde a violência cresce ao ritmo da velocidade da luz?
“E não podemos admitir que se impeça o livre desenvolvimento de um delírio, tão legítimo e lógico como qualquer outra série de idéias e atos humanos.” Antonin Artaud
“Poesia dita, escrita e musicada” afeita àqueles que estão no limite das suas desgraçadas vidas.
Em:
A Taba de Sarvação
Meu cumpade, o que eu escuto
Derna de pequenininho
É que o Brasil brasileiro
Pra sair do atoleiro
Tá faltando tanto assim.
(p.44)
...
Fim das esculhambação!
Credo-cruz, Ave-Maria!
Isso quase todo dia
Enche o saco, meu patrão
Já que a gente não tem vez
Empurre no de vocês
A Taba de Sarvação.
(p.47)
Nesse “Berro” tem de um tudo. Num farta nada, nadica de nadica. Tem inté uma prova parciá do autor Gesso Quirino, datada de 1962, onde mostra que o mesmo era bom nos estudos, no Instituto Domingos Sávio em Campina Grande, a sua terra Natá. Mas, o que dá vontade de Berrar também, até os óiuo aguarem, são seus versos dedicados à sua mestra Maria da Glória e a sua diretora Maria Terezinha.
Merenda Corriqueira
Ah, se minha aula retornasse
Pro giz da minha infância
Pro meu caderno encapado
E o meu nome escancarado:
EU, Primeiro ano A.
Ah, Primeiro ano A!
A professora: “Bom-dia!!!”
A bolsa, a banca, a folia
A turma do dia-a-dia
A lei da Diretora
A sineta, a correria
A hora de merendar...
(p.31)
A narrativa faz a gente viajar no tempo e no espaço. Lembrei-me do tempo que estudava no Grupo Santa Júlia. Ah, tempo bom! Minhas professoras, mas especialmente dna. Maria Luíza. Pois não é que na hora do recreio, ela fazia os alunos ficarem lanchando na sala pra me ouvir cantar!
De uma linguagem tão regionalista, que não tem como não identificar de imediato, de qual rincão se está falando e representando. Um dialeto peculiar do matuto nordestino; de ritmo e beleza ímpar. Que encanta a quem escuta e/ou lê.
Vê-se então:
Ô cumpade véi
O Riacho do Navio não corre pro Pajeú?
O Rio Pajeú não despega no S. Francisco?
E o Rio São Francisco
Não bate no mei do mar?
(p.25)
De cabo a rabo, a obra é encantamento. Desde da capa, com o Pau do Fuxico, o título Berro Novo até o próprio “Berro” que chega aos nossos tímpanos.
Nós, leitores, estamos deveras de P A R A B É N S com esse lindo presente de Deus! Que Jessier Quirino tenha muita força na guela pra berrar quanto queira!