O MITO S A L O M É
A Dança de Salomé na Literatura e nas Artes
AUTOR: Jeová Mendonça
EDITORA: Idéia
LOCAL DE PUBLICAÇÃO: João Pessoa
ANO: 2007
CONTCTO ELETRÔNICO:georocha@uol.com.br
Jeová Rocha de Medonça -Possui Licenciatrura em Letras pela Universidade da Paraíba (1984); Especialização em Literatura Anglo- americana (1985); e Mestrado em Letras (1990); Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC - São Paulo (2005). É lotado como professor da UFPB desde 1992.
A Dança de Salomé na Literatura e nas Artes, do escritor Jeová Mendonça, nos mostra como esse mito foi ricamente explorado nas diversas artes. Entretanto, o objetivo do autor foi apenas analisar o mito Salomé sobre o prisma da peça de Oscar Wilde, intitulada “Salomé” (1893) e o filme “A Última Dança de Salomé” (1987), produzida e dirigida por Ken Russel.
O primeiro acesso que se tem de Salomé data dos registros dos evangelhos de São Mateus cap. XIV vs. 1-12; e de São Marcos, até bem mais detalhado, cap.VI vs. 14-29 (onde se encontra denominada como a filha de Herodíades, esposa de Herodes que incentivada por sua mãe, dança para Herodes em troca da cabeça de João Batista).
Resgate do mito Salomé em Mateus – cap. 14 1-12
O Banquete da morte – Naquele tempo, Herodes, governador da Galileia, ouviu falar da fama de Jesus. Disse então a seus oficiais: “Ele é João Batista, que ressuscitou dos mortos. É por isso que os poderes agem nesse homem.” De fato, Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e coloca-lo na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, a mulher do seu irmão. Porque João dizia a Herodes: “Não é permitido você se casar com ela.” Herodes queria matar João, mas tinha medo da multidão, porque esta considerava João um profeta.
Quando chegou o aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou a Herodes. Então Herodes prometeu com juramento que lhe daria tudo o que ela pedisse. Pressionada pela mãe, ela disse: “Dê-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista.” O rei ficou triste, mas por causa do juramento na frente dos convidados, ordenou que atendessem o pedido dela, e mandou cortar a cabeça de João na prisão. Depois a cabeça foi levada num prato, foi entregue à moça, e esta a levou para a sua mãe. Os discípulos de João foram buscar o cadáver e o enterraram. Depois foram contar a Jesus o que tinha acontecido.
O estudo, em foco, é baseado nas teorias da “escola semiótica russa”, em nomes como: Yuri Lotman, V. V. Yvanov e B. Vspensky; como também, entre outros teóricos da paródia, como: Linda Hutcheon, Margaret A. Rose e Affonsonso Romano de Sant’Anna. Com reflexões a partir da peça Salomé, de Oscar Wilde, ed. Inglesa da Dover Publications, Inc. de Nova York de 1967; e a confrontação do filme de Ken Russel, em inglês, Salome's Last Dance.
“Meu Herodes é como o Herodes de Gustave Moreau, envolto em suas joias e tristeza. Minha Salomé é uma mística, irmã de Salammbô, uma Santa Tereza que cultua a lua.” Beardsley
“...os dois modos como o texto de Wilde e o texto de Russel são constituídos: enquanto o primeiro dilui o evento Festim com outros intertextos, alterando-os, atualizando-os e ampliando-os; o segundo apenas parece se conformar a uma citação direta deste primeiro texto, preocupando-se apenas em delimitar a linha entre discurso citado e discurso citante.” (p. 220)
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“O próprio bordel/teatro representa todas as possibilidades dessas relações “clandestinas”. Mas, digamos que a dança de Wilde é o que revela de mais explícito nesse tipo de relação e, por isso também, é provocadora e desafia convenções sociais sublinhadas pela intolerância arraigadas até hoje.
Uma dança com passos de ironia assim encenada vem endossar o que diz Hutcheon (1995) “...a ironia pode e realmente funciona taticamente a serviço de uma larga extensão de posições políticas, legitimando ou minando uma grande extensão de interesses.” (p.254)
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“Para nós, leitores e espectadores, o ato de ver e complementar um sentido da dança de Salomé parece se fazer subordinar, dentro desse filtro metalinguístico (literatura e cinema), aos olhares de Herodes e “Wilde”, que, em último caso, são também os olhares de Oscar Wilde enquanto dramaturgo, e de Ken Russel enquanto cineasta. No entanto, as leituras, quer de Wilde, de Russel e as nossas próprias leituras são parciais e complementares em relação à Salomé e sua dança.” (ps. 258-259)
Por fim, destaca-se, assim, a passagem que expõe a crítica à peça de Wilde no The Times; considera Salomé “um arranjo de sangue e ferocidade, mórbido, bizarro, repulsivo e muito ofensivo em sua adaptação da fraseologia bíblica para situações, o oposto do sagrado.”
Findo, então, dizendo que não deixem de ler tal obra, pois o veredicto dos senhores é de suma importância. Bom discernimento e ótimo feedback.