ARQUÉTIPOS MAÇÔNICOS
Exercício espiritual
A prática da maçonaria é essencialmente um exercício espiritual que tem por meta moldar o caráter do seu praticante, fazendo dele um verdadeiro obreiro do universo. Por isso se diz que nos templos maçônicos não se pratica uma religião, mas sim uma Arte, cujo propósito é o aperfeiçoamento do ser humano. Esse resultado é obtido a partir de uma forma de pensar e de um modelo de conduta, no qual se releva o respeito pela pessoa humana e o bem estar da comunidade.[1]
É muito freqüente um irmão, depois de satisfeita a curiosidade da iniciação, e após ter freqüentado algumas seções em Loja, se desiludir da maçonaria e abandoná-la logo nos primeiros graus do noviciado. É que, premido pelas necessidades do dia a dia, que exigem da sua mente um constante exercício de racionalidade e atitudes práticas, parece-lhe que o que se discute e se fala em Loja, muitas vezes acaba se tornando um tedioso repertório de bizantinas elucubrações, que desperdiça o seu tempo e o leva a arrepender-se por estar ali, quando poderia estar fazendo coisa mais útil.
Por isso é que se recomenda, em muitas Lojas, que o irmão, ao ingressar no templo, deixe do lado de fora a sua vestimenta carnal e nele entre só munido do seu espírito. Essa é uma metáfora que significa: vigie sua mente racional, pois ali dentro você está proibido de julgar; vigie seus preconceitos, seus pressupostos e supostas sabedorias, pois ali você poderá ouvir coisas que lhe parecerão, de início, inúteis e absurdas e contrárias á seu próprio entendimento; exercite a sua tolerância, pois é na prática dessa virtude que o irmão irá adquirir a flexibilidade de espírito necessária para entender o verdadeiro significado da maçonaria.
A maçonaria é, muito mais que uma fraternidade de pessoas que se reúne para um objetivo social− que também se insere entre suas atividades−, uma comunidade de pensamento, cuja finalidade é formar mentalidades dignas e capazes de conduzir os assuntos da sociedade em que está inserida com a eficiência e o zelo que os valores por ela consagrada exige.
Daí sua insistência no pressposto de que seus membros nela entrem “limpos e puros” e nela se conservem “justos e perfeitos”. Pois é desse exercício de virtude que se moldam os líderes necessários para a condução desse processo. Essa não é, como se vê, uma tarefa fácil de ser planejada, executada e mantida como processo de educação, e como em todos os sistemas do gênero, “muitos são os chamados, e poucos são os escolhidos”, pois como dizia Jesus, é mais fácil para uma criança do que para um adulto entender certas verdades, pois esta ainda não tem a chamada “sabedoria” que julga. [2]
Por isso, a nossa sabedoria em nada lucrará se ao freqüentarmos uma Loja, os nossos pensamentos se mantiverem no território da racionalidade útil e proveitosa, que só valora aquilo que, em princípio, pode nos acrescentar bons dividendos materiais. Isso porque não poderemos usar os conhecimentos maçônicos para construir uma ponte, um edifício, como faziam nossos irmãos operativos, ou então lucrar na bolsa de valores ou de mercadorias, arrumar um bom emprego, conseguir um empréstimo no banco, etc. (embora todas essas coisas estejam implicitamente relacionadas como objetos dessas relações), como esperam fazer muito dos nossos atuais irmão especulativos, pois esse não é o objetivo. Mas ao adquirir esse conhecimento, um dia perceberemos que todas essas coisas necessárias à vida do dia a dia, sempre estiveram ali, à nossa disposição, como acréscimo ao cabedal de bens que a verdadeira maçonaria nos proporciona.[3]
O Método maçônico
Não há na maçonaria um modelo filosófico a ser seguido nem uma orientação religiosa imposta como paradigma. Por essa razão os fundamentos da sua prática estão assentados em símbolos, lendas e alegorias, e sua aprendizagem se dá através do método iniciático. Isso que exige do seu praticante um espírito aberto e avesso a dogmas, já que ele terá que trabalhar com temas esotéricos e exotéricos ao mesmo tempo, ora tratando-os pragmaticamente, ora especulativamente, mas nunca sem perder o senso de realidade e utilidade que tais temas encerram para a realização do aprendizado. A maçonaria é eclética enquanto escola de pensamento e ecumênica enquanto orientação espiritual.
Método iniciático, ou psicológico, é aquele segundo o qual os ensinamentos não são dirigidos à razão do aprendiz, mas ao seu inconsciente. Por isso, os ensinamentos maçônicos não seguem a organização epistemológica própria de uma ciência ou doutrina, como seria de praxe em qualquer forma de aprendizado. O aprendiz maçom deve participar desses ensinamentos através de repetidas iniciações, que têm como objetivo "impressionar” o seu espírito e levá-lo, mais a “sentir” o ensinamento, do que propriamente compreender a sua lógica.[4]
Os arquétipos maçônicos
A Maçonaria, sendo uma sociedade de caráter iniciático, têm seus ensinamentos transmitidos através de símbolos e alegorias que transmitem valores morais e espirituais. Por isso, encontraremos nos rituais de todos os graus uma alusão a símbolos, mitos e lendas, de alguma forma conectados com os ensinamentos que se deseja transmitir. Esses modelos lingüísticos são os arquétipos sobre os quais o ensinamento maçônico se fundamenta.
Como sabemos, a mitologia é a forma mais antiga que o pensamento humano encontrou para integrar os conteúdos do inconsciente coletivo da humanidade com os fatos com os quais somos confrontados na nossa vida diária. Não podendo explicar a origem de um relâmpago, por exemplo, nem a sua força destruidora, imaginou-se ser o mesmo um atributo dos deuses no exercício da sua cólera contra os homens.[5] Não concebendo a forma pela qual o conhecimento aflora dentro da mente, criou-se a imagem de um herói roubando o fogo dos deuses e dando-o, de presente aos homens. Não se vislumbrando, nas brumas da História, a origem do conflito entre a agricultura e o pastoreio, criou-se a lenda de Cain e Abel, da mesma forma que o mito de Édipo revela o conflito entre o nosso instinto animal e a moral adquirida no exercício das nossas virtudes sociais.
George Smith, em seu livro “Antiguidades Assírias”, assinala que todos os grandes mitos religiosos tiveram uma origem comum. Moisés, por exemplo, segundo aquele estudioso, seria uma criação do cronista bíblico Esdras, que o interpolou na Bíblia, inspirado na história do rei assírio Sargão, que semelhante ao legislador hebreu, teria sido retirado das águas do Rio Eufrates e dado início ao povo assírio. Da mesma forma o próprio mito cristão teria sido inspirado no mito persa do deus Mitra, o qual, semelhante a Jesus, também nasceu de uma virgem e veio ao mundo para salvar a humanidade.[6] Assim, esses mitos, veiculados através dos contos, lendas e símbolos cultivados pelos diversos povos, em todo o mundo, tem origem comum, pois fazem parte do acervo da mente coletiva da humanidade.[7]
Daí a necessidade de estudarmos os arquétipos sobre os quais o ensinamento maçônico se fundamenta, se quisermos realmente aproveitar essa instigante aventura intelectual que se convencionou chamar de Arte Real.(...)
Exercício espiritual
A prática da maçonaria é essencialmente um exercício espiritual que tem por meta moldar o caráter do seu praticante, fazendo dele um verdadeiro obreiro do universo. Por isso se diz que nos templos maçônicos não se pratica uma religião, mas sim uma Arte, cujo propósito é o aperfeiçoamento do ser humano. Esse resultado é obtido a partir de uma forma de pensar e de um modelo de conduta, no qual se releva o respeito pela pessoa humana e o bem estar da comunidade.[1]
É muito freqüente um irmão, depois de satisfeita a curiosidade da iniciação, e após ter freqüentado algumas seções em Loja, se desiludir da maçonaria e abandoná-la logo nos primeiros graus do noviciado. É que, premido pelas necessidades do dia a dia, que exigem da sua mente um constante exercício de racionalidade e atitudes práticas, parece-lhe que o que se discute e se fala em Loja, muitas vezes acaba se tornando um tedioso repertório de bizantinas elucubrações, que desperdiça o seu tempo e o leva a arrepender-se por estar ali, quando poderia estar fazendo coisa mais útil.
Por isso é que se recomenda, em muitas Lojas, que o irmão, ao ingressar no templo, deixe do lado de fora a sua vestimenta carnal e nele entre só munido do seu espírito. Essa é uma metáfora que significa: vigie sua mente racional, pois ali dentro você está proibido de julgar; vigie seus preconceitos, seus pressupostos e supostas sabedorias, pois ali você poderá ouvir coisas que lhe parecerão, de início, inúteis e absurdas e contrárias á seu próprio entendimento; exercite a sua tolerância, pois é na prática dessa virtude que o irmão irá adquirir a flexibilidade de espírito necessária para entender o verdadeiro significado da maçonaria.
A maçonaria é, muito mais que uma fraternidade de pessoas que se reúne para um objetivo social− que também se insere entre suas atividades−, uma comunidade de pensamento, cuja finalidade é formar mentalidades dignas e capazes de conduzir os assuntos da sociedade em que está inserida com a eficiência e o zelo que os valores por ela consagrada exige.
Daí sua insistência no pressposto de que seus membros nela entrem “limpos e puros” e nela se conservem “justos e perfeitos”. Pois é desse exercício de virtude que se moldam os líderes necessários para a condução desse processo. Essa não é, como se vê, uma tarefa fácil de ser planejada, executada e mantida como processo de educação, e como em todos os sistemas do gênero, “muitos são os chamados, e poucos são os escolhidos”, pois como dizia Jesus, é mais fácil para uma criança do que para um adulto entender certas verdades, pois esta ainda não tem a chamada “sabedoria” que julga. [2]
Por isso, a nossa sabedoria em nada lucrará se ao freqüentarmos uma Loja, os nossos pensamentos se mantiverem no território da racionalidade útil e proveitosa, que só valora aquilo que, em princípio, pode nos acrescentar bons dividendos materiais. Isso porque não poderemos usar os conhecimentos maçônicos para construir uma ponte, um edifício, como faziam nossos irmãos operativos, ou então lucrar na bolsa de valores ou de mercadorias, arrumar um bom emprego, conseguir um empréstimo no banco, etc. (embora todas essas coisas estejam implicitamente relacionadas como objetos dessas relações), como esperam fazer muito dos nossos atuais irmão especulativos, pois esse não é o objetivo. Mas ao adquirir esse conhecimento, um dia perceberemos que todas essas coisas necessárias à vida do dia a dia, sempre estiveram ali, à nossa disposição, como acréscimo ao cabedal de bens que a verdadeira maçonaria nos proporciona.[3]
O Método maçônico
Não há na maçonaria um modelo filosófico a ser seguido nem uma orientação religiosa imposta como paradigma. Por essa razão os fundamentos da sua prática estão assentados em símbolos, lendas e alegorias, e sua aprendizagem se dá através do método iniciático. Isso que exige do seu praticante um espírito aberto e avesso a dogmas, já que ele terá que trabalhar com temas esotéricos e exotéricos ao mesmo tempo, ora tratando-os pragmaticamente, ora especulativamente, mas nunca sem perder o senso de realidade e utilidade que tais temas encerram para a realização do aprendizado. A maçonaria é eclética enquanto escola de pensamento e ecumênica enquanto orientação espiritual.
Método iniciático, ou psicológico, é aquele segundo o qual os ensinamentos não são dirigidos à razão do aprendiz, mas ao seu inconsciente. Por isso, os ensinamentos maçônicos não seguem a organização epistemológica própria de uma ciência ou doutrina, como seria de praxe em qualquer forma de aprendizado. O aprendiz maçom deve participar desses ensinamentos através de repetidas iniciações, que têm como objetivo "impressionar” o seu espírito e levá-lo, mais a “sentir” o ensinamento, do que propriamente compreender a sua lógica.[4]
Os arquétipos maçônicos
A Maçonaria, sendo uma sociedade de caráter iniciático, têm seus ensinamentos transmitidos através de símbolos e alegorias que transmitem valores morais e espirituais. Por isso, encontraremos nos rituais de todos os graus uma alusão a símbolos, mitos e lendas, de alguma forma conectados com os ensinamentos que se deseja transmitir. Esses modelos lingüísticos são os arquétipos sobre os quais o ensinamento maçônico se fundamenta.
Como sabemos, a mitologia é a forma mais antiga que o pensamento humano encontrou para integrar os conteúdos do inconsciente coletivo da humanidade com os fatos com os quais somos confrontados na nossa vida diária. Não podendo explicar a origem de um relâmpago, por exemplo, nem a sua força destruidora, imaginou-se ser o mesmo um atributo dos deuses no exercício da sua cólera contra os homens.[5] Não concebendo a forma pela qual o conhecimento aflora dentro da mente, criou-se a imagem de um herói roubando o fogo dos deuses e dando-o, de presente aos homens. Não se vislumbrando, nas brumas da História, a origem do conflito entre a agricultura e o pastoreio, criou-se a lenda de Cain e Abel, da mesma forma que o mito de Édipo revela o conflito entre o nosso instinto animal e a moral adquirida no exercício das nossas virtudes sociais.
George Smith, em seu livro “Antiguidades Assírias”, assinala que todos os grandes mitos religiosos tiveram uma origem comum. Moisés, por exemplo, segundo aquele estudioso, seria uma criação do cronista bíblico Esdras, que o interpolou na Bíblia, inspirado na história do rei assírio Sargão, que semelhante ao legislador hebreu, teria sido retirado das águas do Rio Eufrates e dado início ao povo assírio. Da mesma forma o próprio mito cristão teria sido inspirado no mito persa do deus Mitra, o qual, semelhante a Jesus, também nasceu de uma virgem e veio ao mundo para salvar a humanidade.[6] Assim, esses mitos, veiculados através dos contos, lendas e símbolos cultivados pelos diversos povos, em todo o mundo, tem origem comum, pois fazem parte do acervo da mente coletiva da humanidade.[7]
Daí a necessidade de estudarmos os arquétipos sobre os quais o ensinamento maçônico se fundamenta, se quisermos realmente aproveitar essa instigante aventura intelectual que se convencionou chamar de Arte Real.(...)
[1] Por isso é a maçonaria tem sido, amiúde, comparada à prática da alquimia. A alquimia, também chamada de Arte do Amor, tinha como objetivo, mais que a descoberta da pedra filosofal, a transmutação do espírito do operador.
[2] Um famoso ensinamento zen diz que um discípulo procurou um famoso mestre para aprender com ele os fundamentos da doutrina. O mestre pediu que o aluno falasse um pouco de si mesmo e do que já havia aprendido. Enquanto ele falava o mestre servia enchia a sua xícara com chá. Ao ver que a xícara transbordava e o chá derramava pelo chão o discípulo exclamou: − Mestre, o senhor não viu que a xícara já está cheia?−Exatamente− respondeu ele. –Como espera aprender o zen se você já está cheio com sua própria sabedoria?
[3] Aqui está implícito o preceito ensinado por Jesus: “buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.” A alusão aos maçons operativos, vem do fato de que suas guildas, as antigas corporações de ofício eram mais que simples sindicatos que defendiam os interesses corporativos dos associados, mas verdadeiras fraternidades que cuidavam também de todos os aspectos da vida material e espiritual dos seus membros. Dai a sua caracterização como verdadeiras seitas e a conexão que delas se faz com as origens históricas da maçonaria.
[4] O método iniciático é próprio para o ensino das doutrinas esotéricas. É muito utilizado para a transmissão dos chamados conhecimentos indutivos, ou seja, aquele que se obtém mais por insights (descobertas, iluminação) do que por dedução(raciocínios). O exemplo mais perfeito do ensino pelo método iniciático é o budismo zen, onde a quase totalidade da doutrina é transmitida através de koans, tipo de mensagens dirigidas ao inconsciente do aluno. Um tipo bem elaborado de koan é a forma poética conhecida como haikai, onde o poeta, em três versos livres, exprime uma descoberta. Como nestes versos de Bashô( ) o rei do haikai: “Quando olho atentamente/Vejo florir a flor nazuna/ Na base do muro fendilhado.” Aqui o poeta nos diz que é preciso estar atentos para surpreender a natureza em seu processo de criação.
[5] Referência ao mito de Prometeu, que roubou o fogo sagrado e o entregou ao homem, dando origem ao conhecimento humano.
[6] Ele assinala que Sargão, Moisés, Ciro, o rei persa, Mitra, Jesus, etc. são mitos que tem por base o mesmo arquétipo.
[7] O Simbolismo e a teoria dos arquétipos são a base de um dos mais interessantes trabalhos de Jung. A esse respeito veja-se o capítulo II deste livro, o tema Jung e os Arquétipos.
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DO LIVRO LENDAS DA ARTE REAL- NO PRELO
DO LIVRO LENDAS DA ARTE REAL- NO PRELO