Curtas-metragens, de Camila Nicácio
Serviço
O que: Livro "Curtas-Metragens - Courts-métrages"
Autora: Camila Nicácio
Onde comprar: www.editionsthot.com
Como propõe o texto de apresentação, o livro de Camila traz flashes de uma viagem. Podem ser das imagens vistas pela janela do vagão do trem, nas várias passagens pela mesma paisagem, podem ser da mão inglesa em que o coração saudoso teima em caminhar, no rumo inverso ao tomado pela multidão.
Nessa viagem a autora sente saudade de Paris, cidade onde vive e para onde volta, seja retornando de um passeio turístico a Dublin ou mesmo a Belo Horizonte, para visitar a família e lançar o bilíngüe “Courts-métrages”. A saudade não implica distância ou distanciamento do lugar, mas uma nostalgia da contra-mão, dos becos do coração, onde a poesia camufla ou finge esconder o verdadeiro sentido das palavras... Esta saudade não tem tradução no livro, nem na língua francesa, muito menos em português. É uma saudade particular, escondida, distorcida intencionalmente, a fim de perpetuar a dor que não pode ser transformada em prazer, pois perderia o sentido e a essência de existir.
Nos poemas, por mais que se busque descobrir sentidos nas entrelinhas, isso se torna intangível, pois a saudade é intangível, intraduzível e mesmo incompreensível. Só quem a sente, a própria Camila, tem a chave da sensação que essa saudade significa. E, pelo visto, não vai revelar a ninguém.
Com o olhar perspicaz, a poetisa se interroga sobre o por que de uma moça escolher sempre a cadeira em frente, quando há mais de 400 lugares disponíveis na biblioteca, ou no metrô, ou na praça. É uma incógnita que talvez nem a moça saiba responder, ou não queira responder.
Escrito em duas línguas de origem semelhante, as palavras falam e escondem sentidos, como os flashes de luz através da janela do trem, mostrando e cortando cenas.
No papel e tinta, a cor das letras em francês é mais viva; em língua lusitana, a mater de Camila, a cor é fosca, desbotada. Até aí a saudade se manifesta, porque o lusco fusco empurra pra longe a terra mãe, os falantes que entendem a autora. Para os franceses, fica o óbvio impresso em negrito, que nem assim será compreendido por eles, pois a essência está mesmo no original, ininteligível para quem vê apenas flashes na língua mãe, que engana por ser óbvia demais.
Assim, o livro parece ter sido feito para os franceses, devido à cor forte e marcada das letras. Ali, em Paris, Camila exercita e vive a França, pois domina a linguagem da rua, do trem, da escola, da biblioteca e da praça. Mas a dupla linguagem é, além de uma facilidade para leitores de terras diversas, um artifício para não dizer, uma forma de deixar por dizer, esconder as emoções nos mosaicos e labirintos do jogo de luz e sombra.
Por isso, “o sotaque de Josephine// me leva à América// sua cor de pele me retorna a minha casa”, ou seja, a autora se sente mestiça “no meu país é Paris”.
E, apesar de falar e não falar a mesma língua desse país-cidade, vez ou outra a poeta desenha, faz poemas sem escovar os dentes e tenta encontrar o amor que bateu à sua porta e partiu sem deixar rastros. Esse mesmo amor se corporifica e lhe visita na madrugada fria e branca, aquecendo o coração e a alma, como faz o pulôver daquele velho que passa pela janela do trem.
As pistas dessa saudade, desse amor vivido e sonhado são tão tênues que o fio da aranha faz o coração se arrebatar na porta da galeria, na mesma viagem e no mesmo compasso do equilíbrio do sono no sacolejo do trem-vida. Para não se perder na trama enfeitiçante da Paris-mãe e madrasta, só mesmo se refugiando no livro secreto de poesia, livro que ora é publicado por Camila. Nas entrelinhas, insisto, o pecado. Nas palavras, a pista. Em cada frase, um enigma.
Lido de trás pra frente, do meio ao fim, saltando páginas, o texto talvez revele o que é explícito e o que se esconde na trama urdida por duas línguas iguais e diferentes. Iguais no formato, diferentes no experimentar a interface cultural e sensorial do momento. Esta talvez seja a chave do sentir ausente quando se está presente, pois nada pode ser revelado aos olhos atentos que prescrutam pela janela do trem...
Por: Valdeck Almeida de Jesus: poeta, escritor e jornalista.Nos poemas, por mais que se busque descobrir sentidos nas entrelinhas, isso se torna intangível, pois a saudade é intangível, intraduzível e mesmo incompreensível. Só quem a sente, a própria Camila, tem a chave da sensação que essa saudade significa. E, pelo visto, não vai revelar a ninguém.
Com o olhar perspicaz, a poetisa se interroga sobre o por que de uma moça escolher sempre a cadeira em frente, quando há mais de 400 lugares disponíveis na biblioteca, ou no metrô, ou na praça. É uma incógnita que talvez nem a moça saiba responder, ou não queira responder.
Escrito em duas línguas de origem semelhante, as palavras falam e escondem sentidos, como os flashes de luz através da janela do trem, mostrando e cortando cenas.
No papel e tinta, a cor das letras em francês é mais viva; em língua lusitana, a mater de Camila, a cor é fosca, desbotada. Até aí a saudade se manifesta, porque o lusco fusco empurra pra longe a terra mãe, os falantes que entendem a autora. Para os franceses, fica o óbvio impresso em negrito, que nem assim será compreendido por eles, pois a essência está mesmo no original, ininteligível para quem vê apenas flashes na língua mãe, que engana por ser óbvia demais.
Assim, o livro parece ter sido feito para os franceses, devido à cor forte e marcada das letras. Ali, em Paris, Camila exercita e vive a França, pois domina a linguagem da rua, do trem, da escola, da biblioteca e da praça. Mas a dupla linguagem é, além de uma facilidade para leitores de terras diversas, um artifício para não dizer, uma forma de deixar por dizer, esconder as emoções nos mosaicos e labirintos do jogo de luz e sombra.
Por isso, “o sotaque de Josephine// me leva à América// sua cor de pele me retorna a minha casa”, ou seja, a autora se sente mestiça “no meu país é Paris”.
E, apesar de falar e não falar a mesma língua desse país-cidade, vez ou outra a poeta desenha, faz poemas sem escovar os dentes e tenta encontrar o amor que bateu à sua porta e partiu sem deixar rastros. Esse mesmo amor se corporifica e lhe visita na madrugada fria e branca, aquecendo o coração e a alma, como faz o pulôver daquele velho que passa pela janela do trem.
As pistas dessa saudade, desse amor vivido e sonhado são tão tênues que o fio da aranha faz o coração se arrebatar na porta da galeria, na mesma viagem e no mesmo compasso do equilíbrio do sono no sacolejo do trem-vida. Para não se perder na trama enfeitiçante da Paris-mãe e madrasta, só mesmo se refugiando no livro secreto de poesia, livro que ora é publicado por Camila. Nas entrelinhas, insisto, o pecado. Nas palavras, a pista. Em cada frase, um enigma.
Lido de trás pra frente, do meio ao fim, saltando páginas, o texto talvez revele o que é explícito e o que se esconde na trama urdida por duas línguas iguais e diferentes. Iguais no formato, diferentes no experimentar a interface cultural e sensorial do momento. Esta talvez seja a chave do sentir ausente quando se está presente, pois nada pode ser revelado aos olhos atentos que prescrutam pela janela do trem...
Serviço
O que: Livro "Curtas-Metragens - Courts-métrages"
Autora: Camila Nicácio
Onde comprar: www.editionsthot.com