UMA GIGANTE ASA SOBRE O DIA

IMENSA ASA SOBRE O DIA - LIVRO DO AUTOR ANTÔNIO MARIANO

PUB. 2005 -JOÃO PESSOA/PB

"Qualquer destino, por mais longo e complicado que seja, vale apenas por um único momento: aquele em que o homem compreende de uma vez por todas quem é." Jorge Luís Borges

Antes de tudo, requer suscitar Anatol Rosenfeld em Literatura e Personagem (in A Personagem de ficção) “a ficção é um lugar ontológico privilegiado: lugar em que o homem pode viver e contemplar, através de personagens variadas a plenitude da sua condição em que se torna transparente a si mesmo”

A obra Imensa Asa sobre o dia, do escritor Antônio Mariano, reflete um contexto vivido por pessoas torturadas pelo caos de suas vidas vãs, meio a um famigerado ostracismo, onde o indivíduo vive à mercê de sua própria sorte. Existências que impingem aos elementos que não tiveram berço de ouro, isto é, aqueles que não nasceram em meio à famílias abastadas, a viverem como se fossem molambos de vida. Por isso mesmo, caracterizada por cotidianos sombrios e angustiantes, aspectos peculiares à estética modernista.

A Narrativa, em questão, se constitui por um mosaico estruturado ricamente por minicontos realistas que abordam temas bem variados; desde problemas familiares de todo tipo, de convivência (Veneno de Convivência), desemprego (Olhos no Chão), financeiros, afetivos (Estas Imagens) até psicológicos, como loucura (O Poeta), assassinatos (Três Cruzes) e, ainda sobre sexualidade (Seguindo Alice).

A personagem central (Jailson), que perpassa todas as histórias, é kafkaniana; se metamorfoseia em várias identidades: é poeta, funcionário público, louco, depois quase assassino ao tentar envenenar a própria tia. Outra hora, moleque, logo após homem feito. Personagem, multifacetado e contraditório, dá à narrativa um tom de unidade romanesca, já que é o fio condutor dos verossímeis enredos. Sutilmente, lembra Mário de Andrade com seu consagrado personagem Macunaíma; também, Fernando Pessoa com seus heterônimos; a diva da literatura Clarice Lispector e os complexos psicológicos, e ainda Machado de Assis e seus personagens fortes.

O grande barato da obra é que o autor vai bem mais além, em qualidade metafórica ao criar O dia em que comemos Maria Dulce (pg.54) – texto realista-fantástico que enleva muito mais o gosto do leitor ávido pelo ineditismo. A trama chega ao seu ápice quando a personagem Maria Alice é comida, literalmente, por uma cambada de gente faminta.

Com 13 contos, e 95 páginas; de linguagem direta e enxuta, o livro é, na verdade, uma senhora Gigante asa sobre o dia para todo e qualquer leitor que se preze.

E fecho minhas considerações a respeito dessa maravilhosa obra com um trecho da mesma ( p.94) “... um abutre assistia a tudo, num voo impaciente.”

Lourdes Limeira
Enviado por Lourdes Limeira em 25/08/2011
Reeditado em 20/07/2012
Código do texto: T3181268
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