Livro: MOisés e o Monoteísmo
Autor: Sigmund Freud
Moisés E o Monoteísmo é um velho livro que está na minha estante há anos e eu nunca tinha tido a curiosidade de ler por inteiro. Lembro-me que quando ganhei esse livro(ou comprei, não me recordo bem, esse era um assunto que não me interessava nem um pouco. Freud, para mim era um tema de psicanálise, coisa que me chamava muito pouco a atenção, talvez porque eu não conseguisse entender bulhufas daquela linguagem tão pouco popular que ele usava e então eu passava a largo dos conceitos que ele discutia em suas obras.
Mais tarde, ao estudar Lingüística para o meu mestrado em Direito, meu professor, o Dr. Paulo de Barros Carvalho, me fez entender que certos assuntos que a gente não gosta, ou que não entram no catálogo das nossas preferências, no mais das vezes são dele excluídos por falta de linguagem necessária para entendê-los. Quer dizer, não é que não gostemos deste ou daquele assunto, nós é que não dominamos os códigos necessários para incluí-los na nossa pauta de preferências. Aí percebi que para um assunto cair no nosso agrado é preciso primeiro dominar a linguagem em que ele é codificado.
Não estamos falando aqui em idiomas, mas sim de códigos lingüísticos. Cada disciplina, ou ciência tem seus códigos. Existe o economês, o bacharelês, o medicinês, etc. Cada profissão tem a sua. Quanto mais sofisticada, ou misteriosa é a profissão, ou prática, mais cifrada é a linguagem que ela usa. Quem consegue entender, de verdade, um livro de alquimia, ou de psicanálise? Só quem é alquimista de verdade, ou psicanalista também de verdade.
Faço essas reflexões porque só neste fim de semana tive coragem para tirar da estante o livro “Moisés e o Monoteísmo” de Sigmund Freud e ler até o fim a sua tese acerca de Moisés e a religião monoteísta. Na época em que adquiri o livro, não fui além da terceira página.
Entendi, ou acho que entendi, porque um sujeito com o currículo dele, médico, cientista dos mais conceituados, foi se meter a escrever (expor seu nome) sobre um assunto tão polêmico e obscuro quanto esse, que é mais um tema de fé do que de História, propriamente dito. É que Freud, sendo psicanalista, profissional que trabalhava fundamentalmente com conteúdos inconscientes da mente humana, não podia deixar de sentir que toda a História da humanidade é arquetípica, e que ela se repete continuamente, sem que a gente perceba.
Freud era judeu e vivia em Viena no apogeu da ascensão do nazismo. Logo, em 1938, a sua própria terra natal, a Áustria, iria ser engolfada por esse juggernaut sanguinário que iria provocar uma aventura que deixaria mais de trinta milhões de mortos. E nas terras alemãs, a Áustria entre elas, Hitler era visto como um Messias que iria levar os alemães a uma terra prometida. Assim, o tema de Moisés, o messianismo e temas recorrentes, era uma decorrência normal do ambiente em que se vivia.
Freud deve ter imaginado que havia uma conjuntura semelhante no Egito, ao tempo do Êxodo. O quanto um povo que se sente escravizado não sonha com um líder que o conduza á liberdade? Mas para um psicanalista, que antes de tudo, é um filósofo, não basta situar a estrutura da sua análise na conjuntura política e social vigente, pois mais que tudo, o que impulsiona o ser humano para a ação é muito mais o conteúdo do seu inconsciente do que a noção vaga de uma ideologia de vida, na qual se assenta, no mais das vezes, as nossas cores político-partidárias.
Sendo judeu, Freud sabia que o judaísmo, sua religião de berço, era muito mais do que uma ideologia; era uma crença forjada em um modo de vida mesmo, onde a segregação, o chauvinismo, o racismo e a recusa deliberada de se fazer parte de um todo – tal como o judaísmo se nos afigura- é muito mais um mecanismo de defesa do que propriamente uma crença.
Moisés e o Monoteísmo ("Der Mann Moses und die Monotheistiche Religion") continua sendo, mesmo hoje, um livro não muito fácil de ler. Conforme nos informa um dos seus comentadores (Rabinovich, 1977), o livro foi baseado em ensaios publicados por Freud em revistas de psicanálise em três partes distintas, chamadas Moisés, Um Egípcio (Imago ,1937), Se Moisés Fosse Egípcio (Imago, 1937) e por fim um ensaio completo, com as duas primeiras e a última parte do trabalho, publicados na mesma revista em 1939.
Freud adorava egiptologia. Dessa forma tomou conhecimento da existência de um príncipe egípcio chamado Thotmes, que vivera aproximadamente na época em que a arqueologia situa a possível existência de Moisés. Logo imaginou, dada a semelhança entre nomes e circunstâncias de vida e ações entre os dois personagens, que esse príncipe poderia ser o Moisés bíblico. O nome viria do termo egípcio mos, que quer dizer menino, ou filho de. A idéia não era original. Já havia sido aventada antes por autores antigos como Estrabão e Celso, por exemplo, e modernos, como John Tolland, Schiller, Max Weber, Otto Rank e Karl Abraham, para citar os mais conhecidos. Essa tese supunha ser o monoteísmo hebreu uma continuação, um tanto deformada, da revolução religiosa egípcia, intentada pelo faraó Akhenaton. Freud dava uma justificativa psicanalítica para essa idéia em um de seus trabalhos (Totem e Tabu), onde ele descrevia “a horda primitiva que matava o pai, o macho mais forte, depois devorava-o para incorporar sua força, e mais tarde o cultuava como um deus lar (mane). Em Moisés e o Monoteísmo o tema do assassinato reaparece. (1)
Moisés, nobre egípcio, mata um egípcio (o pai) liberta os judeus, então na servidão (a horda), impõe a ela o culto monoteísta e intolerante de Aton,(uma forma de cultuar o arquétipo paterno). Freud não deixa de observar a semelhança que o nome do deus hebreu (Adonai ) guarda com o nome do deus egípcio Aton.
Em sua história, que Freud chama de romance histórico, Moisés, após conduzir o povo hebreu para fora do Egito, é assassinado. Essa idéia ele tomou emprestada de outros autores que já haviam aventado essa hipótese em seus trabalhos. Aqui, Freud trabalha com a hipótese de que o povo judeu era, na origem, um povo do deserto que adorava Jeová, um cruel e vingativo deus do deserto, até que um novo profeta, assumindo o nome de Moisés, os introduz a uma religião, também monoteísta, mas baseada em princípios morais, provavelmente originária do Egito. Essa era uma hipótese, que segundo ele, tinha mais condições de ser verdadeira, por estar fundamentada numa análise psicanalítica do comportamento humano, do que aquela veiculada na Bíblia, que foi adaptada para dar contornos históricos palatáveis à cultura judaico-cristã que então se instalou no ocidente a partir da adoção do cristianismo.
Como todo trabalho que contraria a ortodoxia da religião adotada pelo mundo ocidental, Moisés e o Monoteísmo foi mal recebido tanto por judeus quanto por cristãos. Também causou uma certa repulsa nos meios científicos e intelectuais pelo fato de ter sido escrito por um cientista de renome. Se fosse um romancista, perdoar-se-ia. Mas a um homem de ciência não se perdoa o fato de ele também ter imaginação e sentir, às vezes, necessidade de expressá-la.Todavia, o que os críticos da época parecem não ter entendido, é que Freud, mesmo rotulando seu trabalho de romance histórico, na verdade, estava é fazendo o seu próprio trabalho, isto é, de psicanálise de um povo, ao qual ele pertencia, e ao qual devotava o maior respeito. Na verdade, o que Freud coloca neste livro é uma autêntica tese sobre a culpa coletiva da humanidade, desenvolvida e purgada em toda a História do povo judeu, continuada através da escatologia do cristianismo e adotada por todos os povos do Mediterrâneo. No inconsciente dessa parte da humanidade está a culpa por terem matado o seu “Deus”. Essa tese transparece em toda a história bíblica, no sacrifício continuado dos profetas, e na redenção através da morte de um deus. Assim é que Freud escreve:
"Aqueles que a rechaçaram(a doutrina cristã) seguem chamando-se judeus, e por esta decisão separaram-se ainda mais do resto da humanidade. Tiveram de sofrer da nova comunidade religiosa - que além dos judeus, incorporou egípcios, gregos, sírios, romanos, e finalmente os germanos - a acusação de terem assassinado a Deus. Em sua versão completa, esta acusação seria assim: ‘Não querem admitir que mataram a Deus, enquanto nós sim o admitimos e por isso fomos redimidos de nossa culpa." ( p.132).Assim pensa Freud, os cristão estão redimidos dessa culpa, por que se reconhecem culpados e realizaram o ritual de expiação, mas os judeus, por insistirem que não a devem,serão eternamente culpados por isso. ( E inculpados também.)
A importância desse trabalho de Freud está, não tanto na historicidade dele, que não existe, pois seu Moisés é tão fictício quanto o da Bíblia e de outros romancistas que escreveram sobre o tema. Nem nas teses psicanalíticas, que são facilmente contestáveis, mas sim no fato, este sim, histórico e psicologicamente comprovado que o genocídio que os judeus viriam a sofrer por parte dos nazistas foi, em grande parte, provocado por essa conduta neurótica e obsessiva, de duas facções em luta, uma querendo “vingar-se” daquilo que ela considerava uma subversão dos verdadeiros valores humanos (a queixa dos nazistas contra os judeus), e a outra, com sua obsessão em se manter “puros”, ignorando e negando sua parte na culpa coletiva da humanidade.
Sendo a Maçonaria o que é, em grande parte um modelo arquetípico fundamentado na experiência da Israel bíblica, o tratamento dado por Freud a esse assunto nos aparece como um excelente tema para estudos mais avançados em nossas Lojas.Não nos parece nem um pouco temerária uma conexão dessa tese com a estranho ritual da morte do Arquiteto Hiram Abbif, que encontramos na elevação de grau de companheiro para mestre.(2)
iás, não há, na Bíblia, nem em nenhum dos seus apócrifos,qualquer alusão ao assassinato do Mestre Hiran, nem consta dos antigos manuscritos da Ordem qualquer registro de uso dessa simbologia nos riuais dos antigos irmãos operativos. E que se trata de simbolismo de sentido puramente metafórico, todo irmão também sabe. E se é verdade que as temáticas do Velho Testamento e sua simbologia só tenha sido introduzido na Maçonaria a partir do advento dos chamdos "maçons aceitos", que transformaram a prática iniciática da maçonaria em um rito puramente simbólico, então quem sabe, o nosso Mestre Hiran Abbit também não seja uma corruptela desse "deus assassinado" de quem fala Freud?(3)
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Autor: Sigmund Freud
Ed. Imago, 1962
Moisés E o Monoteísmo é um velho livro que está na minha estante há anos e eu nunca tinha tido a curiosidade de ler por inteiro. Lembro-me que quando ganhei esse livro(ou comprei, não me recordo bem, esse era um assunto que não me interessava nem um pouco. Freud, para mim era um tema de psicanálise, coisa que me chamava muito pouco a atenção, talvez porque eu não conseguisse entender bulhufas daquela linguagem tão pouco popular que ele usava e então eu passava a largo dos conceitos que ele discutia em suas obras.
Mais tarde, ao estudar Lingüística para o meu mestrado em Direito, meu professor, o Dr. Paulo de Barros Carvalho, me fez entender que certos assuntos que a gente não gosta, ou que não entram no catálogo das nossas preferências, no mais das vezes são dele excluídos por falta de linguagem necessária para entendê-los. Quer dizer, não é que não gostemos deste ou daquele assunto, nós é que não dominamos os códigos necessários para incluí-los na nossa pauta de preferências. Aí percebi que para um assunto cair no nosso agrado é preciso primeiro dominar a linguagem em que ele é codificado.
Não estamos falando aqui em idiomas, mas sim de códigos lingüísticos. Cada disciplina, ou ciência tem seus códigos. Existe o economês, o bacharelês, o medicinês, etc. Cada profissão tem a sua. Quanto mais sofisticada, ou misteriosa é a profissão, ou prática, mais cifrada é a linguagem que ela usa. Quem consegue entender, de verdade, um livro de alquimia, ou de psicanálise? Só quem é alquimista de verdade, ou psicanalista também de verdade.
Faço essas reflexões porque só neste fim de semana tive coragem para tirar da estante o livro “Moisés e o Monoteísmo” de Sigmund Freud e ler até o fim a sua tese acerca de Moisés e a religião monoteísta. Na época em que adquiri o livro, não fui além da terceira página.
Entendi, ou acho que entendi, porque um sujeito com o currículo dele, médico, cientista dos mais conceituados, foi se meter a escrever (expor seu nome) sobre um assunto tão polêmico e obscuro quanto esse, que é mais um tema de fé do que de História, propriamente dito. É que Freud, sendo psicanalista, profissional que trabalhava fundamentalmente com conteúdos inconscientes da mente humana, não podia deixar de sentir que toda a História da humanidade é arquetípica, e que ela se repete continuamente, sem que a gente perceba.
Freud era judeu e vivia em Viena no apogeu da ascensão do nazismo. Logo, em 1938, a sua própria terra natal, a Áustria, iria ser engolfada por esse juggernaut sanguinário que iria provocar uma aventura que deixaria mais de trinta milhões de mortos. E nas terras alemãs, a Áustria entre elas, Hitler era visto como um Messias que iria levar os alemães a uma terra prometida. Assim, o tema de Moisés, o messianismo e temas recorrentes, era uma decorrência normal do ambiente em que se vivia.
Freud deve ter imaginado que havia uma conjuntura semelhante no Egito, ao tempo do Êxodo. O quanto um povo que se sente escravizado não sonha com um líder que o conduza á liberdade? Mas para um psicanalista, que antes de tudo, é um filósofo, não basta situar a estrutura da sua análise na conjuntura política e social vigente, pois mais que tudo, o que impulsiona o ser humano para a ação é muito mais o conteúdo do seu inconsciente do que a noção vaga de uma ideologia de vida, na qual se assenta, no mais das vezes, as nossas cores político-partidárias.
Sendo judeu, Freud sabia que o judaísmo, sua religião de berço, era muito mais do que uma ideologia; era uma crença forjada em um modo de vida mesmo, onde a segregação, o chauvinismo, o racismo e a recusa deliberada de se fazer parte de um todo – tal como o judaísmo se nos afigura- é muito mais um mecanismo de defesa do que propriamente uma crença.
Moisés e o Monoteísmo ("Der Mann Moses und die Monotheistiche Religion") continua sendo, mesmo hoje, um livro não muito fácil de ler. Conforme nos informa um dos seus comentadores (Rabinovich, 1977), o livro foi baseado em ensaios publicados por Freud em revistas de psicanálise em três partes distintas, chamadas Moisés, Um Egípcio (Imago ,1937), Se Moisés Fosse Egípcio (Imago, 1937) e por fim um ensaio completo, com as duas primeiras e a última parte do trabalho, publicados na mesma revista em 1939.
Freud adorava egiptologia. Dessa forma tomou conhecimento da existência de um príncipe egípcio chamado Thotmes, que vivera aproximadamente na época em que a arqueologia situa a possível existência de Moisés. Logo imaginou, dada a semelhança entre nomes e circunstâncias de vida e ações entre os dois personagens, que esse príncipe poderia ser o Moisés bíblico. O nome viria do termo egípcio mos, que quer dizer menino, ou filho de. A idéia não era original. Já havia sido aventada antes por autores antigos como Estrabão e Celso, por exemplo, e modernos, como John Tolland, Schiller, Max Weber, Otto Rank e Karl Abraham, para citar os mais conhecidos. Essa tese supunha ser o monoteísmo hebreu uma continuação, um tanto deformada, da revolução religiosa egípcia, intentada pelo faraó Akhenaton. Freud dava uma justificativa psicanalítica para essa idéia em um de seus trabalhos (Totem e Tabu), onde ele descrevia “a horda primitiva que matava o pai, o macho mais forte, depois devorava-o para incorporar sua força, e mais tarde o cultuava como um deus lar (mane). Em Moisés e o Monoteísmo o tema do assassinato reaparece. (1)
Moisés, nobre egípcio, mata um egípcio (o pai) liberta os judeus, então na servidão (a horda), impõe a ela o culto monoteísta e intolerante de Aton,(uma forma de cultuar o arquétipo paterno). Freud não deixa de observar a semelhança que o nome do deus hebreu (Adonai ) guarda com o nome do deus egípcio Aton.
Em sua história, que Freud chama de romance histórico, Moisés, após conduzir o povo hebreu para fora do Egito, é assassinado. Essa idéia ele tomou emprestada de outros autores que já haviam aventado essa hipótese em seus trabalhos. Aqui, Freud trabalha com a hipótese de que o povo judeu era, na origem, um povo do deserto que adorava Jeová, um cruel e vingativo deus do deserto, até que um novo profeta, assumindo o nome de Moisés, os introduz a uma religião, também monoteísta, mas baseada em princípios morais, provavelmente originária do Egito. Essa era uma hipótese, que segundo ele, tinha mais condições de ser verdadeira, por estar fundamentada numa análise psicanalítica do comportamento humano, do que aquela veiculada na Bíblia, que foi adaptada para dar contornos históricos palatáveis à cultura judaico-cristã que então se instalou no ocidente a partir da adoção do cristianismo.
Como todo trabalho que contraria a ortodoxia da religião adotada pelo mundo ocidental, Moisés e o Monoteísmo foi mal recebido tanto por judeus quanto por cristãos. Também causou uma certa repulsa nos meios científicos e intelectuais pelo fato de ter sido escrito por um cientista de renome. Se fosse um romancista, perdoar-se-ia. Mas a um homem de ciência não se perdoa o fato de ele também ter imaginação e sentir, às vezes, necessidade de expressá-la.Todavia, o que os críticos da época parecem não ter entendido, é que Freud, mesmo rotulando seu trabalho de romance histórico, na verdade, estava é fazendo o seu próprio trabalho, isto é, de psicanálise de um povo, ao qual ele pertencia, e ao qual devotava o maior respeito. Na verdade, o que Freud coloca neste livro é uma autêntica tese sobre a culpa coletiva da humanidade, desenvolvida e purgada em toda a História do povo judeu, continuada através da escatologia do cristianismo e adotada por todos os povos do Mediterrâneo. No inconsciente dessa parte da humanidade está a culpa por terem matado o seu “Deus”. Essa tese transparece em toda a história bíblica, no sacrifício continuado dos profetas, e na redenção através da morte de um deus. Assim é que Freud escreve:
"Aqueles que a rechaçaram(a doutrina cristã) seguem chamando-se judeus, e por esta decisão separaram-se ainda mais do resto da humanidade. Tiveram de sofrer da nova comunidade religiosa - que além dos judeus, incorporou egípcios, gregos, sírios, romanos, e finalmente os germanos - a acusação de terem assassinado a Deus. Em sua versão completa, esta acusação seria assim: ‘Não querem admitir que mataram a Deus, enquanto nós sim o admitimos e por isso fomos redimidos de nossa culpa." ( p.132).Assim pensa Freud, os cristão estão redimidos dessa culpa, por que se reconhecem culpados e realizaram o ritual de expiação, mas os judeus, por insistirem que não a devem,serão eternamente culpados por isso. ( E inculpados também.)
A importância desse trabalho de Freud está, não tanto na historicidade dele, que não existe, pois seu Moisés é tão fictício quanto o da Bíblia e de outros romancistas que escreveram sobre o tema. Nem nas teses psicanalíticas, que são facilmente contestáveis, mas sim no fato, este sim, histórico e psicologicamente comprovado que o genocídio que os judeus viriam a sofrer por parte dos nazistas foi, em grande parte, provocado por essa conduta neurótica e obsessiva, de duas facções em luta, uma querendo “vingar-se” daquilo que ela considerava uma subversão dos verdadeiros valores humanos (a queixa dos nazistas contra os judeus), e a outra, com sua obsessão em se manter “puros”, ignorando e negando sua parte na culpa coletiva da humanidade.
Sendo a Maçonaria o que é, em grande parte um modelo arquetípico fundamentado na experiência da Israel bíblica, o tratamento dado por Freud a esse assunto nos aparece como um excelente tema para estudos mais avançados em nossas Lojas.Não nos parece nem um pouco temerária uma conexão dessa tese com a estranho ritual da morte do Arquiteto Hiram Abbif, que encontramos na elevação de grau de companheiro para mestre.(2)
iás, não há, na Bíblia, nem em nenhum dos seus apócrifos,qualquer alusão ao assassinato do Mestre Hiran, nem consta dos antigos manuscritos da Ordem qualquer registro de uso dessa simbologia nos riuais dos antigos irmãos operativos. E que se trata de simbolismo de sentido puramente metafórico, todo irmão também sabe. E se é verdade que as temáticas do Velho Testamento e sua simbologia só tenha sido introduzido na Maçonaria a partir do advento dos chamdos "maçons aceitos", que transformaram a prática iniciática da maçonaria em um rito puramente simbólico, então quem sabe, o nosso Mestre Hiran Abbit também não seja uma corruptela desse "deus assassinado" de quem fala Freud?(3)
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1.Provavelmente por Dathan e seus irmãos, que são referidos no Êxodo.
2.Oepisódio, segundo alguns autores, é o arquétipo usado pela Maçonaria para a inspiração da Lenda de Hiran. Segundo Peter Gay, comentando a hipótese de Freud “ "Um Fundador assassinado por seus seguidores, incapazes de se alçarem a seu nível, mas herdando as conseqüências do crime e finalmente se corrigindo sob o peso de suas lembranças - não podia haver nenhuma fantasia mais talhada para Freud.(...) Tocava-o mais de perto o fato de se considerar o criador de uma psicologia subversiva, agora se aproximando do fim de uma longa e encarniçada carreira que encontrara sólidos e constantes obstáculos, por parte de inimigos abusivos e desertores covardes" (Gay, op. cit., p.549).
3. Entre os chamados "maçons aceitos" havia uma quantidade expressiva de judeus (cristãos novos) Veja-se Jean Palou-AMaçonaria Simbólica e Iniciática- Ed Pensamento, 1986
2.Oepisódio, segundo alguns autores, é o arquétipo usado pela Maçonaria para a inspiração da Lenda de Hiran. Segundo Peter Gay, comentando a hipótese de Freud “ "Um Fundador assassinado por seus seguidores, incapazes de se alçarem a seu nível, mas herdando as conseqüências do crime e finalmente se corrigindo sob o peso de suas lembranças - não podia haver nenhuma fantasia mais talhada para Freud.(...) Tocava-o mais de perto o fato de se considerar o criador de uma psicologia subversiva, agora se aproximando do fim de uma longa e encarniçada carreira que encontrara sólidos e constantes obstáculos, por parte de inimigos abusivos e desertores covardes" (Gay, op. cit., p.549).
3. Entre os chamados "maçons aceitos" havia uma quantidade expressiva de judeus (cristãos novos) Veja-se Jean Palou-AMaçonaria Simbólica e Iniciática- Ed Pensamento, 1986