O EMBLEMA VERMELHO DA CORAGEM

“Havia no chão algumas formas imóveis, sinistras, contorcidas em posições irreais. Braços estavam dobrados e cabeças viradas em ângulos inacreditáveis. Parecia-lhe que só uma queda de grande altura poderia ter deixado os mortos naquele estado. Era como se tivessem sido ativados para fora do céu, vindo se esborrachar aqui embaixo.”(página 84)

As palavras do jovem Henry Fleming são bem diferentes de outros tantos soldados que se alistam sonhando com grandes feitos e atos de coragem. Personagem-narrador de O emblema vermelho da coragem (The red badge of courage, tradução de Sérgio Rodrigues), Henry acaba se impressionando com o que encontrará nas fileiras de combate, como tantos outros jovens, que carrega em seu âmago as feridas da visão de uma guerra.

Escrito por Stepher Crane (1871-1900), o livro é um dos primeiros clássicos da literatura norte-americana, que consagrou seu autor ao cânone dos melhores escritores de todos os tempos. Em sua gênese, O emblema vermelho da coragem, seria um romence com um único objetivo: ganhar dinheiro, entretanto, impressionou pelo realismo das cenas de combate, levando críticas que compararam Crane a Tolstói, Balzac, Vitor Hugo, Mérimée e Zala. Ao descrever, em forma de relato, os pensamentos e sentimentos de um jovem inexperiente nos seus primeiros dias de luta ativa na Guerra Civil americana – a fatídica Guerra de Secessão – o autor consolida seu estilo naturalista como no enxerto da narrativa: “O exército e a guerra são coerentemente descritos com metáforas animais”, onde podemos notar o interesse pelas motivações irracionais do comportamento humano

O protagonista chega ao front da guerra, com suas ilusões albergadas da infância, calculando seu caráter, mas acaba racionalizando que foi coagido a se apresentar como voluntário. Era só mais uma engrenagem impessoal, sem sentido da máquina da guerra, e logo, acaba fugindo durante seu batismo de fogo. Um ato de covardia que lança o personagem a atos cegos, instintivos, animalescos de autopreservação, nessa retirada pela sobrevivência, ao aproximar de outro soldado, é infligido pelo mesmo, num surto de raiva e medo, com uma coronhada marcado com o irônico e o sarcástico “emblema vermelho da coragem”.

Um romance de guerra que certamente, por seu contexto e perspectiva, é único mesmo tendo mais de cem anos, ainda é contemporâneo.

Cadorno Teles
Enviado por Cadorno Teles em 02/08/2011
Código do texto: T3134951
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