Resenha de conto: O Horla
Título original:Le Horla
Autor: Guy de Maupassant (1850-93)
Data de publicação da terceira versão:1887
Curiosidades:
O autor utilizou a casa do amigo e escritor Gustave Flaubert como modelo para a construção do cenário.
Em uma viagem Paris-Holanda em 1887, Maupassant batizou o balão como Le Horla.
Com suas alusões a uma desconhecida raça de seres, o conto serviu de inspiração para O Chamado de Cthulhu do escritor americano H. P. Lovecraft.
O Horla foi um dos primeiros contos a insinuar uma ameaça invisível com relativo grau de realismo psicológico e verossimilhança, servindo de base e inspiração para inúmeros textos, incluindo o clássico A Coisa Maldita (1893) do americano Ambrose Bierce.
Sinopse:
Cidadão de classe média sente a presença de uma entidade invisível que se alimenta de água e leite. Fatigado físico e emocionalmente pela criatura, viaja para fora e presencia uma poderosa sugestão hipnótica, experiência que o faz associá-la à criatura e enfermidade. De volta à sua casa e aparentemente recuperado, a criatura se faz gradualmente mais intensa e dominadora e por fim ele sucumbe à sua influência.
Crítica:
O Horla é um conto de loucura e paranóia como nenhum outro. Parte do seu apelo se deve ao fato de ter sido escrito no fim da carreira quando, acometido pela sífilis, o autor parecia injetar em seus relatos, talvez in
voluntariamente, uma genuína atmosfera de angústia, demência e obsessão (suas cartas escritas na mesma época nos fazem crer que seus últimos contos são [quase] “ficcionalizações” de estados d’alma e aberrações do espírito.)A descida à loucura do protagonista, lenta e gradual, é narrada com uma intensidade melodramática e finura psicológica dignas de um Poe, Hoffmann e Dostoiévsky; notável também é a maneira como o autor estrutura o conto (mini capítulos divididos em meses e datas), permitindo que o leitor acompanhe de perto – e sinta – o drama do protagonista (Maupassant escreveu uma interessante primeira versão estruturada de modo mais convencional, porém menos impactante). Não é difícil ao leitor atento sacar de cara que a aberração invisível não passa de um produto da mente, mas a maneira como o autor insinua sua existência e como ela afeta o protagonista é um primor de comedimento, construção e artesanato. As constantes alusões a uma raça de seres e seu poder de domínio sobre os humanos, assim como o parágrafo final, são momentos que dificilmente sairão da mente do leitor.
Um clássico de primeira água.
Nota:10