O Clube do Filme

Há alguns anos o crítico de cinema canadense David Gilmour (não confundir com o David Gilmour do Pink Floyd) amargava uma fase de desemprego regada a autopiedade, enquanto tentava acompanhar o desenvolvimento emocional de seu filho Jesse, de apenas 16 anos, que, como todo bom adolescente, só conseguia ser bom em duas coisas: vadiar o dia inteiro e fumar. Como se não bastasse a encrenca morando no porão de casa, David teve uma idéia que apenas um presidente da república apedeuta ou um hippie bebedor de absinto se permitiriam levar a cabo: permitiu ao filho substituir a escola por três sessões semanais de cinema em casa, e esta seria a única educação formal que ele receberia.

Entre demonstrações exacerbadas de afeto e discussões juvenis pueris pontuadas por latas de cerveja, este drama familiar real é contado em detalhes no livro "O Clube do Filme", uma obra simpática, envolvente e bem escrita, que agrada o leitor logo nas primeiras páginas e que se pode devorar em duas ou três viagens de avião. Porém, é para os cinéfilos e admiradores da sétima arte que o livro ganha um sabor especial, pois o texto de Gilmour é pontuado por curiosidades e referências cruzadas interessantíssimas sobre filmes, atores, roteiristas e escritores de gêneros e matizes artísticas variadas: de Tchekov a Ernest Hemingway, de Willie Friedkin a Steven Spielberg e de obras clássicas da "nouvelle vague" francesa como "Os Incompreendidos" até trastes cinematográficos como "Showgirls".

Por último, mas não menos importante: quando eu comprei o livro, ele estava a 9 reais na Saraiva.

Então, vale a pena dar uma chance a "O Clube do Filme", pois nem a eterna condescendência de David para com Jesse consegue retirar o brilho destes simpáticos e autênticos momentos de convivência entre pai e filho.

PS.: David Gilmour é doido, então... Por favor, mantenham seus filhos na escola.

Cotação: 3 latinhas de cerveja e um DVD de "Amores Expressos".