A noite dos cristais – Um conhecer do mais conhecido

A noite dos cristais – Luis Fulano de Tal

Antes de divagar sobre o livro que li em meu primeiro final de semana oficial de férias tenho que deixar bem claro que adorei ler um texto de um professor Uspesco (da USP) que contém o espirito de um jovem em meio as suas palavras e descrições. Geralmente, quando leio algo de cunho do corpo docente de universidades eu sinto o peso do pedantismo em cada palavra cavada dos limites das terras conhecidas dos literatos e depositada nas obra construidas por eles. E esta não é a energia do livro “A noite dos cristais” do psdeudonimo não muito pseudo de Luis Fulano de Tal.

A leitura flui como a água de uma cachoeira, a qual temos o prazer de observar com ares hipnóticos. Como de hábito, li as orelhas do livro e logo vi uma observação de Alfredo Bosi (claro que este sim é um dos literatos pedantes que citei em cima, mas mesmo assim um ser brilhante).

A obra de Luis Carlos Santana (nome oficial do autor) é uma história (novela) escrita a sangue e suor, narrada após séculos de nossa época de escravidão. Eu diria que este pequeno livro de 120 páginas lançou uma luz sobre o negrume de idéias minhas sobre os gêneros de negros vindos do continente africano. Sinceramente, eu em minha santa ignorância não havia cogitado a chegada de muçulmanos dentro dos navios tumbeiros que sofrivelmente chegavam em nossa costa comercial sangrenta. Acredito que muitos apenas (des) conhecem a religião dos Africanos descritas como o Animismo: Ubanda, Quimbanda, Voodoo, etc. Mesmo eu conhecendo e vendo muitos filmes falando sobre as origens do Islamismo e dos Muçulmanos nunca tinha lido sobre o movimento deles aqui em nossas terras tupiniquins. E este é o motivo que me senti ignorante ( e feliz) de conhecer a obra dessa resenha.

Acho que eu fui muito confusa em minhas colocações. Mas ainda vou dissertando até acertar minhas idéias embaralhadas.

O que mais me fascinou foram as descrições das diversas “familias” religiosas que acompanharam os Africanos até nossas terras. Neste momento entendi o motivo da Bahia ser de Todos os Santos, Credos e Religiões, mesmo que mal notemos suas nuances sutis devido a uma venda secular colocada em nossos olhos.

Senti uma descrição de uma Bahia que á poucos meses conheci, mas que não havia passado em minha mente. Senti uma Bahia de todo santo de cada dia, misturada com os navios de todos os dias carregados de vidas e de mortes, de dinheiro e sangue.

Estou bem longe da Bahia agora,escrevendo essa resenha em plena Uberaba-MG, mas parece que os sinos das igrejas perceberam que eu estava pensando nelas pois o badalar das dezoito horas parece querer enfeitar mais ainda a minha leitura e imaginação.

A forte narrativa dos acontecimentos espectrais de nosso passado é transmitida em cada pagina de forma brilhante. Bem como a descrição do jogo de capoeira que é quase lirica. Da quase para ouvir as batidas dos corações e do berimbal.

Confesso que deu uma imensa vontade de retornar para Salvador e andar novamente por suas ruas a procura de cada personagem, de cada pessoa que divide sua vida e sua cultura por elas.

Como muitos criticos disseram (inclusive Bosi) o livro é pequeno, penetrante e denso. Cheio de nuances e de uma narrativa que agarra o leitor. O devorei em pouco menos de 3 horas de leitura calma, reli no dia seguinte a procura do que tanto me apaixonou para poder descrever aqui, mas infelizmente a paixão é etérea e não consegui descrevê-la neste papel virtual nem em meu caderno de rascunhos que sempre me acompanha.

E que todos os santos da Bahia abençoem sua diversidade cultural. E meu caderninho de anotações divagadas sem eira nem beira.