O ENCONTRO DOS OPOSTOS
Todos no mundo reconhecem o belo como Belo
E desta forma sabem o que é o Feio.
Todos no mundo reconhecem o bem como Bem
E dessa forma sabem o que é o Mal.
Assim, o Ser e o não-ser geram-se mutuamente,
O curto e o longo se delimitam
O alto e o baixo se inclinam
O tom e o som se harmonizam
O antes e o depois seguem-se um ao outro.
Tao Té Ching- Verso 2
Como sabemos quando algo é belo e quando é feio? Como sabemos o que é bom e o que é ruim? O que é verdadeiro e o que é falso?
Simplesmente não sabemos, apenas sentimos que sabemos quando um fere nossos sentidos e o outro o agrada. Isso quer dizer: prazer e dor são complementos um do outro. Só podemos saber o que é um se tivermos consciência do que é o outro. Não dá para distinguir o prazer sem antes ter sentido dor, ou vice-versa.
Assim, o bem e o mal, o belo e o feio, o exato e o falso, dia e noite, pecado e virtude, só existem como complementos um do outro. São resultado dos critérios de comparação instalados em nossa mente para valorar os nossos estados neurológicos.
Para podermos “sentir” que algo é belo precisamos de uma noção de fealdade para fazer a comparação.
Para dizermos que algo foi bom para nós precisamos ter noção do que que não foi para podermos medir a intensidade dos dois estados.
No mundo dos valores, nada existe por si mesmo, sem que nele seja chumbado um elemento de identificação sensorial. Não há o silêncio, sem que nele esteja inserido o contraste do som. Não podemos sentir a aspereza de uma superfície sem termos a noção da que é a suavidade. Nossos olhos jamais saberão medir a intensidade de uma luz sem antes saber o que é escuridão. Não haverá um depois se não houver acontecido um antes, nem amanhã sem um ontem a anteceder-lhe. E hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã.
A filosofia taoísta se fundamenta na ação dos contrários. Ela ensina que o universo se formata e se equilibra pela ação do Tao. O Tao é o Princípio Único, indissociável, eterno e desconhecido que dá origem a tudo que existe. Não podemos saber o que ele É, não podemos Vê-lo, nem Compreendê-lo em sua Essência, mas podemos sentir a sua ação no mundo das realidades. Essa ação é a Natureza atuando com suas múltiplas leis, gerando todas as realidades do universo. Essas ações são comandadas por duas forças contrárias entre si, mas igualmente necessárias e complementares, porque uma não existe sem a outra. Essas forças são Yin e Yang, energias positiva e negativa, masculina e feminina, que estão na origem de tudo que existe.
Dessa forma, sabendo que não existem, por si mesmos, coisas como bem e mal, verdade ou mentira, exato ou falso, vida e morte, mas que tudo são categorizações urdidas pela nossa mente para identificar a nossa posição perante a realidade, tudo passa a ser apenas e tão somente uma questão de escolha. De saber medir o que nos faz bem ou mal; o que nos embrutece ou suaviza; o que corresponde aos fatos e o que foi mistificado. O mundo, por efeito do encontro dos opostos, está sempre em perfeito equilíbrio. É a nossa pressão, por um ou por outro, que ás vezes, o leva ao desequilíbrio.
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Comentários ao Tao Te Ching- de Lao Tse- Ed. Pensamento, São Paulo, 1987
Todos no mundo reconhecem o belo como Belo
E desta forma sabem o que é o Feio.
Todos no mundo reconhecem o bem como Bem
E dessa forma sabem o que é o Mal.
Assim, o Ser e o não-ser geram-se mutuamente,
O curto e o longo se delimitam
O alto e o baixo se inclinam
O tom e o som se harmonizam
O antes e o depois seguem-se um ao outro.
Tao Té Ching- Verso 2
Como sabemos quando algo é belo e quando é feio? Como sabemos o que é bom e o que é ruim? O que é verdadeiro e o que é falso?
Simplesmente não sabemos, apenas sentimos que sabemos quando um fere nossos sentidos e o outro o agrada. Isso quer dizer: prazer e dor são complementos um do outro. Só podemos saber o que é um se tivermos consciência do que é o outro. Não dá para distinguir o prazer sem antes ter sentido dor, ou vice-versa.
Assim, o bem e o mal, o belo e o feio, o exato e o falso, dia e noite, pecado e virtude, só existem como complementos um do outro. São resultado dos critérios de comparação instalados em nossa mente para valorar os nossos estados neurológicos.
Para podermos “sentir” que algo é belo precisamos de uma noção de fealdade para fazer a comparação.
Para dizermos que algo foi bom para nós precisamos ter noção do que que não foi para podermos medir a intensidade dos dois estados.
No mundo dos valores, nada existe por si mesmo, sem que nele seja chumbado um elemento de identificação sensorial. Não há o silêncio, sem que nele esteja inserido o contraste do som. Não podemos sentir a aspereza de uma superfície sem termos a noção da que é a suavidade. Nossos olhos jamais saberão medir a intensidade de uma luz sem antes saber o que é escuridão. Não haverá um depois se não houver acontecido um antes, nem amanhã sem um ontem a anteceder-lhe. E hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã.
A filosofia taoísta se fundamenta na ação dos contrários. Ela ensina que o universo se formata e se equilibra pela ação do Tao. O Tao é o Princípio Único, indissociável, eterno e desconhecido que dá origem a tudo que existe. Não podemos saber o que ele É, não podemos Vê-lo, nem Compreendê-lo em sua Essência, mas podemos sentir a sua ação no mundo das realidades. Essa ação é a Natureza atuando com suas múltiplas leis, gerando todas as realidades do universo. Essas ações são comandadas por duas forças contrárias entre si, mas igualmente necessárias e complementares, porque uma não existe sem a outra. Essas forças são Yin e Yang, energias positiva e negativa, masculina e feminina, que estão na origem de tudo que existe.
Dessa forma, sabendo que não existem, por si mesmos, coisas como bem e mal, verdade ou mentira, exato ou falso, vida e morte, mas que tudo são categorizações urdidas pela nossa mente para identificar a nossa posição perante a realidade, tudo passa a ser apenas e tão somente uma questão de escolha. De saber medir o que nos faz bem ou mal; o que nos embrutece ou suaviza; o que corresponde aos fatos e o que foi mistificado. O mundo, por efeito do encontro dos opostos, está sempre em perfeito equilíbrio. É a nossa pressão, por um ou por outro, que ás vezes, o leva ao desequilíbrio.
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Comentários ao Tao Te Ching- de Lao Tse- Ed. Pensamento, São Paulo, 1987