“Ideologia no Livro Didático”
Adriano Rocha
Resenha: “Ideologia no Livro Didático”
FARIA, Ana Lúcia G. de. Ideologia no Livro Didático. 12ª ed. São Paulo: Cortez, 1996. – (Coleção questões da nossa época).
“Ideologia no Livro Didático”, um pequeno livro que tem muito a contar. A autora sintetiza nas páginas desse livro algumas idéias relacionadas à ideologia disseminada pela elite através do livro didático sobre o trabalho na sociedade. O livro organiza-se basicamente em quatro partes. Na primeira, a autora trabalha o conceito de trabalho constante no livro didático; no segundo momento, Faria (1996) realiza uma análise identificando quem trabalha no Brasil, que tipo de pessoas, a quais classes pertencem; o terceiro momento é marcado por reflexões sobre a divisão do trabalho e suas implicações; e num último momento a autora conclui suas exposições à cerca das três últimas partes citadas acima.
Em referência ao conceito de trabalho adotado pelo LD (livro didático) logo se vê que este trás uma abordagem alienante. Segundo a autora, o LD não privilegia o caráter histórico e social do trabalho. O LD ao fazer isso, reduz os seres humanos, a seres não racionais por nos comparar com os animais que trabalham simplesmente por instinto, para sua própria subsistência, como por exemplo: construindo casas ou caçando para se alimentar. Na verdade, a maioria da massa de trabalhadores do Brasil vem trabalhando nesta perspectiva – de subsistência – porém, há razões históricas e sociais para que isso aconteça. Tais razões, não aparecem no LD, ou quando aparecem não levam em consideração as reais características de um mundo capitalista, colocando o ser humano como o único responsável por seu sucesso. Como aponta Faria apud Marx “o livro didático confunde o fato do trabalho ser uma categoria antediluviana” (1996, p. 20), “com a eliminação do processo histórico para entendê-lo nas mais diversas sociedades (FARIA, 1996, p. 20). A autora levanta uma crítica ao LD onde ela o classifica como sendo o responsável por propagar a idéia de que o homem deve ser passivo nas relações de trabalho, aceitando-o seu desenvolvimento de forma árdua, docilmente, como se fosse normal, enquanto outras pessoas, teriam outros trabalhos mais leves, que não exigem esforço físico nenhum, e que geralmente, são melhores remunerados, pois é o trabalho enquanto “atividade, cansativa, penosa, inferior, manual, que é valorizada moralmente pelo livro didático visando o conformismo, a obediência e a resignação”. (FARIA, 1996, p. 25)
Na segunda parte:”Quem trabalha?”, o LD segundo Faria (1996), prega que o trabalhador é o pai de família que sustenta a casa. O LD, ou se omite ou não reconhece o trabalho do índio, a exploração do trabalho infantil e a desvalorização do trabalho feminino pelo capitalista. O trabalho da mulher quando aparece é sempre os afazeres domésticos. O LD nunca mostra o processo de exploração pelo qual o homem passa para sobreviver. Tudo isso revela o que a ideologia burguesa tenta esconder: Um país completamente injusto, cheio de diferenças sociais, culturais e econômicas. Neste contexto, “mulheres e crianças entram também para a produção e o marido que antes vendia” (FARIA, 1996, p. 44) “sua própria força de trabalho ... agora vende mulher e filhos. Torna-se traficantes de escravos”. (FARIA apud MARX, 1996, p. 44). Isto é o suficiente para nos mostrar que no LD, os verdadeiros sentidos e características do trabalho na sociedade atual, não aparecem.
No terceiro momento do livro a autora desenvolve o tema da divisão do trabalho. Segundo ela, o LD classifica a divisão do trabalho como “cooperação entre os homens”, e com isso, intensifica a idéia de que o ser humano precisa ter uma profissão. Profissão esta, que é inferida como especialização. Todo este processo faz com que o LD oculte a verdadeira face da cooperação, que resulta na fragmentação do trabalho na sociedade, impedindo que o trabalhador conheça todo o processo de produção, resultando num trabalhador desarticulado da política de produção, sem jamais ter a chance de ser autônomo. “A ênfase dada a necessidade de se ter uma profissão, é de caráter ideológico, disfarçando a divisão social do trabalho” (FARIA, 1996, p. 54). O LD também é responsável por difundir a proposição que o trabalho manual é inferior ao trabalho intelectual “separando o homo faber, do homo sapiens” (FARIA, 1996, p. 58), contribuindo para o enculcamento da naturalidade da hierarquia no trabalho.
Desta forma, em consonância com a conclusão feita pela autora, posso concluir que o livro didático é um veículo de informações que não fazem uma leitura integral da realidade. Sua visão é ideológica, e por isso fragmentada e alienante. Estão a serviço da burguesia, ou pelo menos, não estão a serviço das classes mais desfavorecidas, pois negam o caráter histórico do trabalho humano, deixando-o por vez, sem a sua essência que é a intervenção do homem no mundo com seu trabalho, transformando-o conscientemente.