O JOVEM JESUS QUE OS E VANGELHOS OCU LTARAM-CAP 31
EPÍLOGO
״
Estamos perto da hora nona, mas desde a hora sexta, as trevas envolvem o tétrico ambiente onde o Filho do Homem encena o seu último ato neste drama. O dia torna-se noite, e uma grande tempestade desaba sobre a terra. Os expectadores fogem espavoridos e sobre o Gólgota só permanecem as piedosas mulheres que o assistiram durante todo o seu ministério, e aquele menino, que identificamos como sendo o discípulo amado.
O Filho do Homem está no limite das suas forças e sabe que sua vida se esvaiu com o sangue que verteu na cruz. Foram muitas horas de um longo e doloroso suplício, mas finalmente suas dores estão para acabar. Estranhamente, neste momento final, sua consciência parece estar mais lúcida do que estivera durante todo o tempo da sua flagelação. Foram vários os instantes em que sua mente, anestesiada pela dor dos castigos sofridos, o lançou naquele território de sombras e esquecimento, onde as sensibilidades são todas amortecidas pelo desligamento dessa parte da consciência que se encarrega de nos manter em contato com o mundo.
E nesses momentos em que se refugiou na inconsciência para escapar das dores físicas que lhe infringiam seus algozes, ele delirou. Nesse delírio viu muitos templos, maiores e mais suntuosos que o de Jerusalém, sendo erguidos em sua homenagem; viu soldados marchando em seu nome, carregando em seus estandartes o símbolo da sua paixão. E nos lábios deles o seu nome era pronunciado como justificativa de mortes, pilhagens, defraudações, massacres, torturas e muita, muita ambição, muito mais do que aquela que ele pensara poder abolir destruindo o antigo Templo e construindo um novo. Viu que os novos sacerdotes não eram menos cúpidos, perversos, hipócritas e gananciosos que os escribas e fariseus, cujo comportamento ele tanto vituperou. E se pergunta: o que foi que mudou? Foi isso que ele veio fazer no mundo? Substituir o velho Templo pelo novo, somente para descobrir, no último momento, que tudo continuaria igual, somente os senhores seriam outros?
O que era a verdade, afinal? Quem poderia assegurar tê-la encontrado de fato, sem o temor de ser desmentido no momento seguinte? É então que lhe vem á mente uma estranha sensação de impotência, semelhante à que sentira quando o praefetus romano lhe perguntara o que era a verdade. Ele não soubera responder a essa pergunta. Ele, que sempre pensara que tinha vindo ao mundo para dar testemunho dela, naquele momento extremo, em que uma resposta adequada poderia, inclusive, salvar-lhe a vida, não encontrara o que responder.
Com muita nitidez recorda também as dúvidas que experimentara na noite anterior, quando suara sangue no Horto de Getsêmani e pedira a Deus que afastasse dele aquele cálice que lhe parecia, naquela hora, tão amargo de beber. Sua alma experimentara a agonia da morte antecipada, e sofria a angústia de não ter certeza de nada, nem de que o sacrifício que estava fazendo, tinha enfim, algum sentido. Valeria a pena passar por tudo isso? Estaria mesmo oferecendo aos homens uma alternativa de vida, um caminho para a perfeita felicidade, como ele pensou que estivesse, quando aceitou se engajar nessa missão?
Os homens aprenderiam, um dia, a se amarem uns aos outros, com força e empenho suficiente para abolir o ódio, as disputas, o desejo de sobrepor-se aos demais, a vontade de domínio e ambição de possuir mais do que se precisa para viver? A dúvida o faz vacilar e ele se sente, por um momento, traído e desamparado por todos, inclusive por Aquele a quem se prometera naquele cruel holocausto. Eli, Eli, lama sabachtani?, ele pronuncia, com o desconsolo e a decepção de quem fraqueja em suas crenças, mais ainda do que em suas forças físicas.
Por que aquele sentimento de que Deus o abandonara? E onde estavam aqueles que se diziam seus discípulos e seguidores, onde estava a multidão que o saudara, em triunfo, na Porta do Sol, quando, apenas uma semana atrás, ele entrara em Jerusalém? “Hosana, Hosana, ao que vem em nome do Senhor”, gritavam as pessoas, espalhando um tapete de ramos à sua passagem. E ele se sentiu realmente um rei, um Messias, um herói ansiosamente esperado e amado por todos, como aqueles a quem ele tanto reverenciou e desejou imitar. Teria sido enganado em sua visão? Não seria tudo fruto de um sonho doido, pretensioso e presunçoso, pelo qual agora estava pagando um alto preço? Pois agora, ele estava ali, alquebrado, sozinho, fraco, impotente, em seus últimos instantes de vida, e a assisti-lo nesse momento em que todas as verdades se revelam, apenas aquelas quatro mulheres e um rapazinho.
Sabia que teria que passar por tudo isso. Não ignorava que toda a sua vida tinha sido preparada para esse momento, e o evento que agora se desencadeava era a única certeza, o acontecimento inescapável, inevitável, decidido e certo, para o qual viera ao mundo. Porque então essa dúvida ainda o atormentava neste momento extremo? O que representava, afinal, o seu sacrifício? O mundo ficaria melhor depois disso?
Seu último olhar cai sobre as mulheres que assistem a sua agonia. Reconhece Joana, esposa de Cusa, o procurador de Herodes em Cafarnaum. Lembra-se que ela o amara como mestre e acreditara nele a ponto de servi-lo com suas posses. Ali está também Maria de Betânia, que fora sua discípula e anteriormente, noiva prometida; esta dera a ele o seu amor de mulher, de amiga e irmã. Vê também Maria Madalena, sua esposa querida, que lhe deu o maior amor que um homem pode desejar na vida. E o presenteou com a única forma de ressurreição física possível: um filho. Em seu ventre ele vê medrando a verdadeira imortalidade, a única garantia de sobrevivência perpétua, a vida, sendo transmitida de geração a geração. “ Mulher, eis aí o teu filho. Filho, eis aí a tua mãe”, murmura.
E vê também Maria, a mãe que o botou no mundo. E é nela que ele detém o olhar. Como ele, sua mãe também quebrou todos os paradigmas e assumiu com coragem a conseqüência do seu ato e enfrentou o sistema, tendo como única e exclusiva justificativa para esse comportamento um sonho de Amor. Por Amor ela o concebera contra a lei; por Amor ela o criara, compreendendo e apoiando todas as suas vontades e seu anseio de fazer uma diferença no mundo; por Amor ela abraçara esse sonho louco de ensinar os homens a se amarem uns aos outros. Esse sonho o levara a esse fim inglório, semelhante ao do pai que o adotou e criou, contra a lei e o sistema, também por Amor.
Ele vê nos olhos de Joana o Amor que vem do respeito, da confiança e da admiração; nos olhos de Maria de Betânia o Amor da irmã e da amiga, o Amor da renúncia e do desapego, que não conhece o ciúme nem o despeito, aquele Amor que se consuma na certeza que a pessoa a quem amamos é feliz; nos olhos da Madalena ele vê o Amor da mulher e da amante, da cúmplice e da consorte, o Amor que tudo divide, e quanto mais divide, mais aumenta a felicidade de quem é assim amado. E nos olhos de sua mãe o maior de todos os Amores, que é o Amor da doação, do perdão, da geração, da continuação, da perpetuação da espécie e da renúncia a si mesmo em prol de algo que é mais importante que a própria vida. Nos olhos do jovem discípulo o Amor do respeito, da amizade, da solidariedade e da verdadeira fraternidade que liga os homens pelo coração e pela fé numa verdade comum.
Todas essas pessoas o contemplam com os olhos do Amor. E ele sente que elas não duvidam do que ele lhes ensinou a acreditar. E que elas, pelo menos, ainda que outros possam vir a deturpar a sua doutrina, a entenderam e a transmitirão tal qual lhes foi ensinado. Por que ali estão a fé, a esperança, a confiança, a certeza, a auto-estima e a força, a mostrar que tudo é possível para aqueles que amam, pois amar é, antes de tudo, um ato de profunda fé e verdadeira coragem.
É nos olhos destas pessoas que o assistem nos últimos momentos da sua vida que ele vê, finalmente, o resultado da sua missão. Sente então que não falhou. Neles está impressa a face de Deus e escrito o seu Verdadeiro Nome. Compreende que toda a sua vida, tudo que almejou, tudo que fez não tinha outro objetivo: ver a Face de Deus e conhecer o seu Verdadeiro Nome. Tem agora a certeza qual é o Nome Dele e como é sua verdadeira Face. É a face de todos aqueles que amam. E se alguém aprender a Amar, como aquelas mulheres e aquele rapazinho, então o seu sacrifício não terá sido em vão. Não importa que sua doutrina venha a ser deturpada e usada para disseminar mais tirania e servidão; não importa que para justificar essa tirania alguns falsos seguidores acabem transformando seu magistério em religião, e sua extraordinária experiência pedagógica em culto. Ele sabe que se alguém foi capaz de aprender, como aquelas mulheres e o rapazinho, então todos podem, pois somos todos frutos da mesma célula máter que deu origem à vida.
Compreende que de agora em diante Deus não mais se mostrará aos homens apenas pelas costas. Seu Rosto poderá ser contemplado no olhar de todos aqueles que amam. Então ele pode perdoar aqueles que o flagelaram e o puseram naquela cruz para morrer. Eles não sabiam o que estavam fazendo.
Com essa certeza no coração ele passeia um ultimo olhar para as mulheres da sua vida e depois pelo horizonte E nesse momento ele institui a família humana, ligada agora, não pelos laços do sangue, mas pelo elo do Amor.
Finalmente, sem mais nenhuma dúvida a pesar-lhe na consciência, ele sente que sua mente está livre e leve o bastante para transcender da esfera do puramente humano para o mundo sutil das realidades divinas. É agora o Filho do Homem que se tornou, por adoção, o Filho de Deus. Perfeitamente consciente do mérito conquistado, reúne o que resta de suas forças para dizer as últimas palavras.
– Pai, em tuas Mãos entrego o meu espírito.
EPÍLOGO
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Estamos perto da hora nona, mas desde a hora sexta, as trevas envolvem o tétrico ambiente onde o Filho do Homem encena o seu último ato neste drama. O dia torna-se noite, e uma grande tempestade desaba sobre a terra. Os expectadores fogem espavoridos e sobre o Gólgota só permanecem as piedosas mulheres que o assistiram durante todo o seu ministério, e aquele menino, que identificamos como sendo o discípulo amado.
O Filho do Homem está no limite das suas forças e sabe que sua vida se esvaiu com o sangue que verteu na cruz. Foram muitas horas de um longo e doloroso suplício, mas finalmente suas dores estão para acabar. Estranhamente, neste momento final, sua consciência parece estar mais lúcida do que estivera durante todo o tempo da sua flagelação. Foram vários os instantes em que sua mente, anestesiada pela dor dos castigos sofridos, o lançou naquele território de sombras e esquecimento, onde as sensibilidades são todas amortecidas pelo desligamento dessa parte da consciência que se encarrega de nos manter em contato com o mundo.
E nesses momentos em que se refugiou na inconsciência para escapar das dores físicas que lhe infringiam seus algozes, ele delirou. Nesse delírio viu muitos templos, maiores e mais suntuosos que o de Jerusalém, sendo erguidos em sua homenagem; viu soldados marchando em seu nome, carregando em seus estandartes o símbolo da sua paixão. E nos lábios deles o seu nome era pronunciado como justificativa de mortes, pilhagens, defraudações, massacres, torturas e muita, muita ambição, muito mais do que aquela que ele pensara poder abolir destruindo o antigo Templo e construindo um novo. Viu que os novos sacerdotes não eram menos cúpidos, perversos, hipócritas e gananciosos que os escribas e fariseus, cujo comportamento ele tanto vituperou. E se pergunta: o que foi que mudou? Foi isso que ele veio fazer no mundo? Substituir o velho Templo pelo novo, somente para descobrir, no último momento, que tudo continuaria igual, somente os senhores seriam outros?
O que era a verdade, afinal? Quem poderia assegurar tê-la encontrado de fato, sem o temor de ser desmentido no momento seguinte? É então que lhe vem á mente uma estranha sensação de impotência, semelhante à que sentira quando o praefetus romano lhe perguntara o que era a verdade. Ele não soubera responder a essa pergunta. Ele, que sempre pensara que tinha vindo ao mundo para dar testemunho dela, naquele momento extremo, em que uma resposta adequada poderia, inclusive, salvar-lhe a vida, não encontrara o que responder.
Com muita nitidez recorda também as dúvidas que experimentara na noite anterior, quando suara sangue no Horto de Getsêmani e pedira a Deus que afastasse dele aquele cálice que lhe parecia, naquela hora, tão amargo de beber. Sua alma experimentara a agonia da morte antecipada, e sofria a angústia de não ter certeza de nada, nem de que o sacrifício que estava fazendo, tinha enfim, algum sentido. Valeria a pena passar por tudo isso? Estaria mesmo oferecendo aos homens uma alternativa de vida, um caminho para a perfeita felicidade, como ele pensou que estivesse, quando aceitou se engajar nessa missão?
Os homens aprenderiam, um dia, a se amarem uns aos outros, com força e empenho suficiente para abolir o ódio, as disputas, o desejo de sobrepor-se aos demais, a vontade de domínio e ambição de possuir mais do que se precisa para viver? A dúvida o faz vacilar e ele se sente, por um momento, traído e desamparado por todos, inclusive por Aquele a quem se prometera naquele cruel holocausto. Eli, Eli, lama sabachtani?, ele pronuncia, com o desconsolo e a decepção de quem fraqueja em suas crenças, mais ainda do que em suas forças físicas.
Por que aquele sentimento de que Deus o abandonara? E onde estavam aqueles que se diziam seus discípulos e seguidores, onde estava a multidão que o saudara, em triunfo, na Porta do Sol, quando, apenas uma semana atrás, ele entrara em Jerusalém? “Hosana, Hosana, ao que vem em nome do Senhor”, gritavam as pessoas, espalhando um tapete de ramos à sua passagem. E ele se sentiu realmente um rei, um Messias, um herói ansiosamente esperado e amado por todos, como aqueles a quem ele tanto reverenciou e desejou imitar. Teria sido enganado em sua visão? Não seria tudo fruto de um sonho doido, pretensioso e presunçoso, pelo qual agora estava pagando um alto preço? Pois agora, ele estava ali, alquebrado, sozinho, fraco, impotente, em seus últimos instantes de vida, e a assisti-lo nesse momento em que todas as verdades se revelam, apenas aquelas quatro mulheres e um rapazinho.
Sabia que teria que passar por tudo isso. Não ignorava que toda a sua vida tinha sido preparada para esse momento, e o evento que agora se desencadeava era a única certeza, o acontecimento inescapável, inevitável, decidido e certo, para o qual viera ao mundo. Porque então essa dúvida ainda o atormentava neste momento extremo? O que representava, afinal, o seu sacrifício? O mundo ficaria melhor depois disso?
Seu último olhar cai sobre as mulheres que assistem a sua agonia. Reconhece Joana, esposa de Cusa, o procurador de Herodes em Cafarnaum. Lembra-se que ela o amara como mestre e acreditara nele a ponto de servi-lo com suas posses. Ali está também Maria de Betânia, que fora sua discípula e anteriormente, noiva prometida; esta dera a ele o seu amor de mulher, de amiga e irmã. Vê também Maria Madalena, sua esposa querida, que lhe deu o maior amor que um homem pode desejar na vida. E o presenteou com a única forma de ressurreição física possível: um filho. Em seu ventre ele vê medrando a verdadeira imortalidade, a única garantia de sobrevivência perpétua, a vida, sendo transmitida de geração a geração. “ Mulher, eis aí o teu filho. Filho, eis aí a tua mãe”, murmura.
E vê também Maria, a mãe que o botou no mundo. E é nela que ele detém o olhar. Como ele, sua mãe também quebrou todos os paradigmas e assumiu com coragem a conseqüência do seu ato e enfrentou o sistema, tendo como única e exclusiva justificativa para esse comportamento um sonho de Amor. Por Amor ela o concebera contra a lei; por Amor ela o criara, compreendendo e apoiando todas as suas vontades e seu anseio de fazer uma diferença no mundo; por Amor ela abraçara esse sonho louco de ensinar os homens a se amarem uns aos outros. Esse sonho o levara a esse fim inglório, semelhante ao do pai que o adotou e criou, contra a lei e o sistema, também por Amor.
Ele vê nos olhos de Joana o Amor que vem do respeito, da confiança e da admiração; nos olhos de Maria de Betânia o Amor da irmã e da amiga, o Amor da renúncia e do desapego, que não conhece o ciúme nem o despeito, aquele Amor que se consuma na certeza que a pessoa a quem amamos é feliz; nos olhos da Madalena ele vê o Amor da mulher e da amante, da cúmplice e da consorte, o Amor que tudo divide, e quanto mais divide, mais aumenta a felicidade de quem é assim amado. E nos olhos de sua mãe o maior de todos os Amores, que é o Amor da doação, do perdão, da geração, da continuação, da perpetuação da espécie e da renúncia a si mesmo em prol de algo que é mais importante que a própria vida. Nos olhos do jovem discípulo o Amor do respeito, da amizade, da solidariedade e da verdadeira fraternidade que liga os homens pelo coração e pela fé numa verdade comum.
Todas essas pessoas o contemplam com os olhos do Amor. E ele sente que elas não duvidam do que ele lhes ensinou a acreditar. E que elas, pelo menos, ainda que outros possam vir a deturpar a sua doutrina, a entenderam e a transmitirão tal qual lhes foi ensinado. Por que ali estão a fé, a esperança, a confiança, a certeza, a auto-estima e a força, a mostrar que tudo é possível para aqueles que amam, pois amar é, antes de tudo, um ato de profunda fé e verdadeira coragem.
É nos olhos destas pessoas que o assistem nos últimos momentos da sua vida que ele vê, finalmente, o resultado da sua missão. Sente então que não falhou. Neles está impressa a face de Deus e escrito o seu Verdadeiro Nome. Compreende que toda a sua vida, tudo que almejou, tudo que fez não tinha outro objetivo: ver a Face de Deus e conhecer o seu Verdadeiro Nome. Tem agora a certeza qual é o Nome Dele e como é sua verdadeira Face. É a face de todos aqueles que amam. E se alguém aprender a Amar, como aquelas mulheres e aquele rapazinho, então o seu sacrifício não terá sido em vão. Não importa que sua doutrina venha a ser deturpada e usada para disseminar mais tirania e servidão; não importa que para justificar essa tirania alguns falsos seguidores acabem transformando seu magistério em religião, e sua extraordinária experiência pedagógica em culto. Ele sabe que se alguém foi capaz de aprender, como aquelas mulheres e o rapazinho, então todos podem, pois somos todos frutos da mesma célula máter que deu origem à vida.
Compreende que de agora em diante Deus não mais se mostrará aos homens apenas pelas costas. Seu Rosto poderá ser contemplado no olhar de todos aqueles que amam. Então ele pode perdoar aqueles que o flagelaram e o puseram naquela cruz para morrer. Eles não sabiam o que estavam fazendo.
Com essa certeza no coração ele passeia um ultimo olhar para as mulheres da sua vida e depois pelo horizonte E nesse momento ele institui a família humana, ligada agora, não pelos laços do sangue, mas pelo elo do Amor.
Finalmente, sem mais nenhuma dúvida a pesar-lhe na consciência, ele sente que sua mente está livre e leve o bastante para transcender da esfera do puramente humano para o mundo sutil das realidades divinas. É agora o Filho do Homem que se tornou, por adoção, o Filho de Deus. Perfeitamente consciente do mérito conquistado, reúne o que resta de suas forças para dizer as últimas palavras.
– Pai, em tuas Mãos entrego o meu espírito.