Tópicos da psicolinguística
A natureza e a função do input na interação em sala de aula de língua estrangeira.
Uma introdução
O input em que o aluno está acostumado e de que precisa para adquirir uma língua pode ser examinado segundo três abordagens diferentes. Uma primeira pode ser encontrada quando observamos e registramos a percepção e produção do aprendiz quando este interage com um falante mais experiente é capaz de fazer generalizações indutivas a partir do input que recebe.Em uma segunda abordagem, o conhecimento não vem do input recebido, mas é determinado pelas propriedades intrínsecas da faculdade lingüística interna de qualquer falante. Uma terceira abordagem advoga que a preocupação não deve ser com a complexidade lingüística, mas com os modelos de processamento que o indivíduo dispõe.
A natureza do input
Krashen (1987) ao propor sua teoria sobre a aquisição da segunda língua, destacou entre as cinco hipóteses (distinção entre aquisição/aprendizagem, hipótese de ordem natural, modelo monitor, hipótese de input e a do filtro afetivo) (...) Para o teórico, o input constitui condição necessária para que o aprendiz possa ir de um estágio de aprendizagem para outro.(...) (p.122)
Os argumentos apresentados por Krashen são refutados por McLaughlin (1987),(...) McLaughlin lembra que não podemos negar a importância para o desenvolvimento linguístico da interação com falantes cuja língua já esteja bem estruturada; no entanto, questiona, em primeiro lugar, a natureza deste tipo e input e, em segundo lugar, o fato do input desempenhar um papel importante, porque é compreensivo.(...) (p.123)
Críticas à parte, a questão que nos interessa é, pois, definir que input é esse que vários autores se referem (...) (p. 123)
O emprego da apercepção (apperception) já nos revela uma forma diferente de Abordar a questão, A apercepção, para Gass (1997), nada mais é do que o primeiro estágio da utilização do input.(...) A apercepção é, pois, um processo de compreensão e, como tal, é um processo cognitivo interno, contudo não pode ser entendida como uma variável dicotômica.(...) (p.123)
Retomando uma das questões proposta por Krashen, a saber, aquela que destacava a importância de um input compreensível na passagem de um indivíduo de um estágio para o outro de aprendizagem, Gass (1997) também apresenta uma visão um pouco diferente. Inicialmente, procura estabelecer um distinção entre o que designa de input compreensível. (...) Outra distinção a ser considerada é com relação ao fato de que nem toda input é apercebido pelo aprendiz (...) Gass destaca entre esses: pressão, freqüência, atitudes, conhecimento anterior, distância sociocultural, etc. (p,124)
Não devemos deixar de mencionar ainda que esses fatores não devem ser necessariamente tomados independentemente. (...) (p.125)
À parte esses fatores, não podemos desconsiderar aqueles relacionados às interações,propriamente ditas, e que são fundamentais na determinação do formato, se assim podemos dizer, do input. (...) ( p.125)
Boulouffee (1986) afirma que este estágio entre o input e a produção final sempre foi desconsiderada por muitos pesquisadores e aqueles que se dedicaram a tal questão ou foram negativos e lacônicos ou positivos a extremo (...) (p.126)
Intake
Certos autores ( Corder,1972; Frauenfelder e Porquier, 1979) têm procurado investigar o intake, ou seja, aquele intervalo entre o input o output e fatores de natureza diversa têm sido apresentados. Outros autores ainda têm adotado uma postura diferente (...) O que podemos observar destas duas posições é, antes de tudo, um direcionamento diferente na abordagem da questão, pois Boulouffee o faz tendo em vista o aprendizado e não a aquisição.(...) (p.126-127)
Mais informações sobre a natureza do input e sua função
É inquestionável, em especial, nos estudos de aquisição de primeira língua, no mundo ocidental, o fato de que as crianças, desde muito cedo, recebem um input nas interações que mantêm com suas mães ou qualquer outro falante da língua.(...) (p.127)
Levando-se em conta a importância das interações nas trocas humanas e lembrando que o ambiente de aprendizado de um língua – seja ele formal ou informal – deve promover oportunidades para que os aprendizes envolvam-se em interações sociais com falantes mais competentes (...) (p.128)
Face ao input recebido, o que o falante não-nativo ou aprendiz faz? Como se utiliza esse input? Responder a estas questões no parece responder a nossa investigação inicial: a da natureza e função do input.(...) (p.129)
As pesquisas aqui descritas, ainda que brevemente, acrescidas das considerações feitas nos permitem agora transpor os limites da lingüística teórica e tentar verificar a repercussão de toda essa discussão no ambiente escolar.(...) ( p.129)
Referência bibliográfica:
MELO, Lélia Erbolato. Tópicos da psicolinguística aplicada. 3ª ed. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005.