A Cabana

Este é o grande sucesso de William Paul Young, um canadense com uma história interessante. Conforme a Wikipédia, ele é o mais velho de quatro filhos e passou grande parte da sua infância em Papua-Nova Guiné junto com seus pais, missionários, numa comunidade tribal, cujos membros vieram a se tornar parte de sua família. O fato de ser a única criança branca na comunidade e ainda saber falar a língua deles, veio a garantir um incomum acesso à cultura e à comunidade local. Talvez por isso seu livro é praticamente desprovido de preconceitos.

Em seu livro procura, de forma simples e bem intrigante, responder a questões complexas da vida, tais como: Onde Deus está quando sofremos? Se Deus é bom realmente, por que Ele nada faz para amenizar o nosso sofrimento e etc. E responde tudo isso dentro da perspectiva do amor de Deus. Além disso, mesmo sendo uma temática totalmente cristã - onde espera-se a presença maciça de dogmas e regras, o autor fala de Deus dentro da perspectiva do amor, do modo como Cristo fazia e o apóstolo Paulo deu prosseguimento. A compreensão dos mandamentos, transmitida pelo autor, caracteriza-se por uma proximidade maior do propósito bíblico original.

Para conseguir esse feito, ele foi criativo e muito ousado. Mas, como fez isso? Deu nomes a Deus e ao Espírito Santo e os caracterizou como pessoas, humanizando-os sem destituí-los de Sua divindade. Sempre pensamos apenas em Jesus como alguém próximo a nós, que apenas Ele nos ama e nos entende, e pensamos em Deus e o Espírito Santo como distantes, intocáveis e indiferentes. O propósito do autor é nos mostrar que a Trindade está conosco, ao nosso redor e nos ama. Ele expõe a Trindade como ela de fato é, ou seja, Deus é apenas um. Logo, se Jesus nos ama e se importa conosco, então Deus e o Espírito Santo também amam do mesmo modo que Jesus.

O enfoque no livro é o amor de Deus, o modo como Ele lida com nosso sofrimento e como podemos nos relacionarmos com Ele, além de questões relacionadas ao livre arbítrio também. Deus não nos envia problemas; as fatalidades da vida são apenas consequência das escolhas que fazemos ou escolhas de outros que nos atingem. Deus apenas usa essas consequências para transformá-las em bênçãos. Assim, na verdade, muitas vezes acusamos Deus de coisas que Ele não tem culpa e isso nos impede de construirmos um relacionamento com Ele.

Muitas vezes aprendemos e entendemos que o cumprimento da regra, do mandamento ou dogma é a única forma de nos relacionarmos com Deus, ou seja, aprendemos que Deus é apenas juiz, juri e carrasco. Assim, ignoramos completamente o fato de que Deus, antes de tudo, é Pai.

A Regra (o mandamento), na verdade, nos dá uma falsa sensação de liberdade, pois se existe um padrão a seguir, então nos sentimos no controle da situação como se tivéssemos em nossas mãos uma receita pronta para tudo, então basta seguir a receita que tudo dá certo, mas a grande verdade é que nós nunca temos esse controle. Os sofrimentos da vida são a prova da ausência desse controle. E para piorar, quando nos consideramos como autênticos cumpridores da lei, nos sentimos em condições de agirmos como Deus, ou seja, também nos tornamos juízes, juri e carrascos. Aquele que exclusivamente segue a regra, fatalmente, considera-se acima dos demais.

Podemos concluir que a regra na verdade não traz controle algum sobre a vida, apenas nos dá o poder de acusar. A ideia bíblica sempre foi substituir a regra pelo relacionamento, por isso existe a Nova Aliança instituída por Cristo no Novo Testamento. A regra, na verdade, apenas tem um caráter utilitário semelhante às proibições que uma mãe faz a seu filho quando é pequeno, pois sua intenção é protegê-lo. Entretanto, o relacionamento dela com seu filho não depende dessas regras, e por isso, quando a criança cresce, muitas regras deixam de existir, porém o relacionamento entre mãe e filho permanece.

Sempre consideramos seguir a regra como mais fácil do que relacionarmos com Deus, e no entanto, nos esquecemos que regras não amam. Seu amor é pleno em qualquer época da vida. É assim que aprendemos a ter fé em Deus, quando finalmente acreditamos que Ele nos ama.

A regra é apenas um sistema útil, uma referência de bem e mal e, portanto, funciona como ajuda e proteção até atingirmos a maturidade (que é quando a regra se torna desnecessária, pois um adulto não precisa levar palmadas na mão quando põe o dedo na tomada).

Assim, quando entendemos que não temos a obrigação de retribuirmos nada a Deus em troca de Seu amor, então experimentamos a liberdade de fato (e um grande alívio), pois sabemos que não será nosso comportamento que Lhe diminuirá o amor; Deus nos ama mesmo quando não nos comportamos bem.

Acredito que este livro pode ser compreendido mais amplamente por quem é cristão há algum tempo, mas nada impede que possa ser bastante proveitoso para quem nunca leu a Bíblia na vida. Inclusive a intenção do autor é que este livro seja lido também por quem não é cristão, para que possamos, todos, ser abraçados e amados pelo Pai de todos nós, que é Deus.

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