Os pastores da noite, de Jorge Amado
Pouco falado o livro “Os pastores da noite”. Ambientado nas regiões pobres de Salvador, seus heróis são o povo pobre, os malandros e as prostitutas. Jorge Amado retoma com esse, o cenário utilizado anteriormente na trilogia "Jubiabá", "Mar morto", e "Capitães de areia", aproveitado também no maravilhoso "A morte e a morte de Quincas berro d’água".
Tendo abandonado a preocupação com a incrustação de pregações marxistas no texto, as histórias ganham fluidez e naturalidade. Nesse livro, o lirismo de "Mar morto", a emotividade de "Capitães de areia" e o humor de "Quincas", se misturam na composição de histórias.
Aliás, não posso me furtar a falar da elegância de "Quincas". Note que o ambiente pobre não ajuda, nem tampouco o protagonista, nem tanto por já estar morto, mais por seus hábitos. Mesmo assim, ou sobre tudo isso, a elegância da narrativa se impõe, revelando com ela um senso de humor sutil, mas profundo.
Os herois dessas histórias não são reis nem princesas. Jorge Amado pinta com destreza o heroísmo de uma gente esquecida, igualando-os aos mais nobres viventes. Em sua visão, não seriam mais heroicos se tivessem nascido em berço de ouro, talvez até, ao contrário, seu heroísmo fosse nesse caso, mais fácil. São as dificuldades que tornam os atos heroicos.
A maior pregação social feita pelo autor, a mais contundente, é a descrição da vida de seus personagens, do cotidiano do povo à beira da miséria. É igualando os miseráveis aos mais nobres que se revelam os sentimentos do autor e sua mensagem simples e inegável: somos todos iguais, embora possamos diferir quanto ao heroísmo.