DEBORA MORENO EM “SAPATOS DO TEMPO” - ( Resenha)


No livro “Sapatos do tempo” (2010), (ed. Livre Expresssão – Poesias). Debora Moreno abre o leque de sua sensibilidade. Através de palavras casadas harmonicamente e singular, espalha suas observações poéticas num misto de simplicidade versus necessidade de falar ao mundo.
Na poesia “a cor do sofrimento na beleza da poesia”, a autora inicia o livro nos mergulhando num rio que corre para o mar e lágrimas que não apenas representam dor e sofrimento, mas também a possibilidade do sorriso, do captar essências enriquecedoras das experiências vividas.
E assim, ela segue trilhando linguagens, aberturas, conversas lapidadas no intuito maior de falar, dizer que é possível sentir, amar, encontrar nos percalços da vida a felicidade tão almejada por todos os seres humanos.
A poesia nasce, surge, emerge não apenas da impar introspecção isolada do exterior, mas numa viagem interna/externa que nos joga num barco onde as ondas poéticas chamuscam por sair, existir, ser algo concreto, real, expressivo. Desse modo, Débora Moreno elabora sua forma de entender o surgimento deste fazer poético, numa gostosa sintonia em “Assim nasce a poesia”.
Desembarcamos em “Estrela”, uma poesia repleta de sutiliza que a poeta costura frases, nos joga no leito do pensar, nos envolve numa dança aonde ficção e realidade vão deixando o recado através de uma voz rica de poder e, quando afirma que “Tenho mãos calejadas, cruas e quase nuas”. Deixa claro que a poesia é um prazeroso exercício de criação, sensação e percepção aguçada nas inúmeras possibilidades que a vida nos permite.
Mas estamos num universo, um espaço terrestre repleto de maravilhas, donde nós, seres humanos, somos também criações divinas. Mas onde tudo vai dar? Onde o homem com sua insaciável sede vai esbarrar? É preciso olhar o mundo, pensar a natureza e, dessa maneira a autora dá o seu recado de forma clara, questionando o futuro da natureza. A poesia que clama por este olhar é “O forte grito da natureza”.
Quando adentramos em “Quase Lamento” e “Vejo e sinto na pele o que você também pode ver”. Deparamos-nos com a critica social, o olhar sobre o ser que labuta, acorda cedo para ganhar o sustento e que repleto de sonhos sobe e desce as trilhas do morro. Na esperança infantil a criança brinca e pede o pão de cada dia. A poesia nos coloca neste olhar realista do viver, das artimanhas diárias, encontros e desencontros e acontecimentos diversos. Todo esse olhar seco acerca da vivencia humana reflete numa trajetória que começa e que nos equívocos da vida termina, quando uma chuva avassaladora cai e destrói casas, famílias, sonhos e uma sociedade desfavorecida que frenética lamenta por piedade divina. E Débora grita, critica, enche os olhos de lágrimas e ousa arrebentar barreiras para dizer que a vida merece ser tratada com mais dignidade e que ações sociais vindas de uma política responsável deve reconstruir os vestígios de sonhos que não foram levados pelas fortes correntezas.
Mediante todas essas reflexões embutidas nas poesias. Débora deixa mensagens macros, inteligentes e afirma que devemos apreciar e aprender com as experiências da vida e que o fazer poético não é apenas prazer, como também um trabalho serio, árduo e sonhador. Pautando no livro “Sapatos do tempo”, o prazer da apreciação e o enriquecimento humano.


Por: VALDON NEZ 12/10/2010 – Niterói RJ


 
Valdon Nez
Enviado por Valdon Nez em 15/05/2011
Reeditado em 24/08/2012
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