Grandes Esperanças ( Great Expectations- Dickens)

Uma das mais importantes ferramentas que os autores usam para ilustrar os temas em suas obras é uma personagem que passa por várias transformações do inicio ao fim da obra. Em Grandes Esperanças, Charles Dickens introduz o leitor para muitas intrigantes e memoráveis personalidades, incluindo a excêntrica e reclusa, Miss Hasvishan, o astuto e cuidadoso advogado, Mr. Jaggers, e o benevolente condenado, Abel Magwitch.

Entretanto, Grandes Esperanças é a história de Pip e os sonhos iniciais dele, e, resultando desapontamentos que eventualmente o lidera tornando-o um homem genuinamente bom.

O leitor desenvolve sentimentos cordiais a favor de Pip após as duas primeiras páginas do romance, as quais introduzem o fato de que os pais dele são mortos.

“Como eu nunca tivesse visto nem meu pai nem minha mãe, mesmo em retrato, porque ambos haviam morrido antes do aparecimento dos fotógrafos, a primeira idéia que fiz das suas pessoas foi deduzida – pouco razoavelmente, aliás – da lápide das suas sepulturas” (Dickens, 1960, p. 13).

Quando a personagem Pip se confronta com o condenado, Abel Magwitch, Dickens apresenta a bondade e a natureza inocente do menino.

...”Não me corte o pescoço,... Oh! Por piedade não me faça mal” (Dickens, 1960, p. 14).

Então, Pip se submete as exigências do condenado forçadamente devido sua genuidade e medo de outro condenado, inventado por Magwitch, estar por ali.

“Anda comigo um sujeito terrível. (...) tem um secreto caminho de conseguir o coração e o fígado dos meninos da tua espécie. (...) podes te deitar na tua cama quentinha, podes tapar a cabeça com as cobertas, e podes pensar que estás bem defendido contra todos os perigos...” (Dickens, 1960, p. 16).

A compaixão do leitor por Pip aumenta mais, quando ele se apresenta com enorme peso na consciência por roubar sua própria casa. Pip é torturado pelos pensamentos das ações que teria que cometer. Mas tendo consciência de que o ato seria ilícito, na realidade, agiria por covardia.

“A consciência, quando acusa alguém, seja esse alguém um homem ou uma criança, é simplesmente terrível”.(Dickens. 1960. p. 23).

Aproximadamente um ano depois de ter encontrado com o condenado, Pip é ainda mostrado como um menino inocente. Mas, como Pip desenvolve irreais esperanças na vida, essa característica positiva é substituída por outra indesejável.

As “esperanças” de Pip, que o motivou tornar-se menos simpático aos olhos do leitor, são aquelas desenvolvidas depois dele ser apresentado à Miss. Havisham e Estelle. Durante a primeira visita a “Satis House”, Estelle, que se considerava muito refinada e bem educada para a sociedade, despreza Pip.

“- O rapaz chama os valetes de joãozinho!... E que mãos tem ele! ... Que sapatões!”. “O visível desprezo de Estelle por toda a minha pessoa tornou-se contagioso e tomou conta de mim”. ( Dickens. 1960. p. 73).

Por outro lado, Pip pareceu apaixonar-se por ela durante este primeiro encontro. Ele mesmo admitiu para Miss. Havisham ser Estelle, não somente “muito orgulhosa” e “muito insultante”, mas, também, “muito bonita” e que tinha o desejo de revê-la. Em apenas uma tarde em “Satis House, Pip desenvolve um desejo de se tornar mais aceitável para Estelle na ”esperança” que a atitude cruel dela para com ele mudaria.

De volta para casa, Pip sente-se envergonhado de sua vida. Sua cabeça estava cheia de pesarosos pensamentos tais como:

...“não passava de um trabalhador vulgar; minhas mãos eram rudes, e grosseiros os meus sapatos; tinha contraído o deplorável costume de chamar de joãozinhos os valetes; era bem mais ignorante do que na véspera supunha; em suma, eu não valia grande coisa.” (Dickens. 1960. p.77).

Pip percebe então que está ocorrendo uma transformação em sua personalidade e o ponto de vista em relação a sua vida, como ele mesmo declara em seus pensamentos.

Quando cessa a visita dele a “Satis House”, e Pip torna-se um aprendiz de Joe, ele se sente profundamente envergonhado de sua posição na sociedade, porque acredita que isto arruinará suas “esperanças” de conseguir o amor de Estelle. Constantemente Pip se preocupa se Estelle desejará vê-lo em “pouca fortuna” ou “todo sujo” e em uma vida comum. Mas ele suporta a vergonha com uma “irracional esperança”.

Mr. Jaggers, advogado de Miss. Havisham informa ao Pip da “grande esperança” que tinha sido colocada sobre ele. Logo, ele pensou,... “sem dúvida, “Miss. Havisham esta se encarregando generosamente da minha fortuna”, (p. 51). Ele começou acreditar, também, que Miss. Havisham tinha destinado ele para ser marido de Estelle.

Imediatamente, o ego de Pip cresceu tremendamente, tornou-se arrogante. Em uma conversa com Biddly, ele falou que seu bom amigo Joe “é em certo ponto um pouco atrasado em algumas coisas, por exemplo, quanto a sua instrução e suas maneiras”. (Dickens. 1960. p. 162).

Pip passou a ter medo, secretamente, de andar em público com Joe. Como arrogante e ingrato Pip acreditou que Miss. Havisham tinha o escolhido para ser herdeiro de sua fortuna e “esperançoso” da mão de Estelle em casamento, ainda sentia vergonha de sua vida passada.

Em uma ocasião, Pip recebeu uma noticia que Joe iria visitá-lo em Londres e desejaria vê-lo, entretanto, Pip não estava totalmente preparado para receber essa noticia. Pip tinha medo de aparecer junto de um ferreiro comum como Joe, principalmente, por Bentley Drummble.

“Bentley Drummble tinha caráter tão mal formado que, se encontrasse num livro referências desabonadoras a alguma personagem, seria capaz de se julgar pessoalmente injuriado pelo autor”.(Dickens. 1960. p. 217).

Joe volta para a ferraria deixando o recado a Pip que Miss. Havisham queria vê-lo.

Pip parte de Londres para “Satis House” dois dias depois que Joe estivera lá. Ele havia prometido a Joe que iria até a ferraria, mas chegando lá resolveu hospedar-se no ”Blue Bar Inn”. O raciocínio dele é simplesmente esnobe.

“Só causaria incômodos a Joe. – pensei. Como não me esperam, a cama não estará preparada. Além disso, a ferraria fica longe da casa de Miss. Havisham. Ora, Miss. Havisham é exigente e talvez me queira mais perto de “Satis House”. (Dickens. 1960. p. 242).

A preocupação de Pip resumia em somente ir à “Sattis House” para rever Estelle. Ele não foi até a ferraria rever os amigos de sua vida passada. Essas atitudes negativas em Pip são retratadas na maneira como ele vê a condição social que vivia anteriormente. Ele se nega rever o passado e a razão dessa atitude, é a irreal “esperança” de que almeja, naquele momento, que é casar-se com Estelle.

Em Londres, Pip e seu amigo Herbert estão de mal a pior com suas vidas financeiras. Estão com muitas dividas. Eles freqüentam um clube chamado “Clube dos Tentilhões” e, certa vez durante um jantar, como de costume é feito um brinde a uma dama, nesse dia era a vez de Drummble propor esse brinde, e a dama em questão foi Estelle. Pip ficou muito surpreso.

Pip havia acreditado por muitos anos que ele havia sido destinado a ser marido de Estelle, ainda mais, descobre, também, que quem o protege não é Miss. Havisham e sim Abel Magwitch.

Sua “esperança”, almejada por muitos anos, é desvanecida nesse momento. Ele percebe ter cometido muitos erros por “esperanças” irreais. Pip fica muito doente e quem cuida dele é Joe.

Concluindo, em Grandes esperanças, as transformações significantes que acontecem por meio da personagem Pip são muito importantes para um dos muitos temas do romance. Dickens usa a deterioração do menino inocente para um cavalheiro arrogante e sua redenção para ilustrar as idéias de que falsas “esperanças” podem conduzir alguém a características indesejáveis.

Grandes Esperanças encerra com quase todos aspectos da condição humana. Desse romance é possível aprender que a verdadeira amizade é muito mais valiosa que possuir um bem material. A riqueza e o estatus social não dá a garantia necessária de felicidade na vida e, isto, às vezes, é necessário sacrificar algumas ilusões ou fantasias, para descobrir que a maior riqueza é aquela interna.

(Z.I.Lemos.)

Zeldi Lemos
Enviado por Zeldi Lemos em 08/05/2011
Reeditado em 03/08/2017
Código do texto: T2956542
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