A tradição hermética
A partir de certo momento na História, a Maçonaria pas-sou do plano operativo para o especulativo.
Esse momento parece ter ocorrido a partir das Cruzadas, quando os exércitos cristãos marcharam em direção á Terra Santa para libertá-la do domínio dos sarracenos. Essa, pelo menos foi a justificativa oficial, embora a verdade seja bem outra. A verdade é que Europa, depois da queda do Império Romano, entrou em profundo declínio político, econômico e social. A gloriosa civilização dos dias dos Césares desapareceu. Restou uma população mergulhada na pobreza, na ignorância e submetida à tirania dos nobres e à arrogância intelectual de um clero corrupto e supersticioso. Por isso, tanto a Igreja, quanto os potentados europeus viram com bons olhos uma expedição ao Oriente, onde a riqueza e a civilização do velho mundo havia sido preservada pelo desenvolvimento da cultura islâmica e pela organização do Império Bizantino. Assim, na verdadeira motivação dos prelados da Igreja e dos nobres cavaleiros que se deslocaram para a Terra Santa estava muito mais a cúpida vontade de enriquecer do que a piedosa intenção de libertar os lugares das mãos dos selvagens seguidores de Maomé. Até porque, a Terra Santa, quando sob controle dos muçulmanos, era muito mais livre e aberta aos cristãos do que depois, quando caiu sobre o controle dos cruzados.
Na multidão que se deslocou para a Palestina, que constituía um verdadeiro povo em marcha, não havia só combaten-tes, mas também profissionais de todas as espécies: para lá foram seleiros, carpinteiros, forjadores, armeiros, e principal-mente pedreiros. A própria Ordem dos Templários empregava uma multidão desses profissionais, que eram chamados “os homens dos templários”. Era uma imigração natural, que se fazia exclusivamente por motivos econômicos e profissionais, já que o que se procurava era sempre um meio melhor de ganhar a vida, como hoje se faz com a transumância de profissionais de um país para outro, na busca de melhores mercados para os seus serviços.
A interação entre os templários e os pedreiros-livres é hoje mais que provada, e nenhum espanto nos causaria se des-sa interação não tivesse nascido realmente a Maçonaria espe-culativa, como nos quis fazer crer o Cavaleiro De Ransay.
Uma interação desse tipo e um desenvolvimento pos-terior de “Lojas” especulativas ao lado de “Lojas” operativas justificariam o desenrolar dos acontecimentos que desembo-caram na Maçonaria moderna. Por isso é que percebemos, a partir do início do século XVI, uma revalorização de idéias que se acreditavam sepultas no Ocidente pelo triunfo do Cris-tianismo oficial. Filósofos como Giordano Bruno, Giambatista Dela Porta, Marcilio Ficcino, e outros pensadores renascentistas ressuscitam Jâmblico, Plotino e outros pregadores de religiões solares, da mesma forma que renasceram as “utopias” através de trabalhos como o de Tomás Mórus, Roger Bacon, Jonh Milton, etc.
Nessa mesma vertente, os hermetistas, os cabalistas e todos os cultores do pensamento mágico fazem nascer a genial farsa da Rosa-Cruz. E o pensamento rosa-cruciano impres-siona a imaginação dos intelectuais, dos cientistas, de toda a elite pensante e formadora de opinião na Europa, que nesse exato momento, procurava uma alternativa espiritual para o atavismo dos católicos e o reacionarismo dos protestantes.
Dessa forma, como herança intelectual das Cruzadas, o ambiente intelectual das civilizações orientais viria trazer para a Europa um renascimento cultural, fundamentado num sis-tema de pensamento que a Igreja Católica havia banido do Ocidente em favor de um conjunto de lendas e superstições, sustentadas mais pela necessidade política de dominação, como era o sistema feudal, do que por motivos doutrinários mesmo.
Um sistema de pensamento que fosse tolerante o sufici-ente para agasalhar todas as vertentes do pensamento religioso e secular não podia se filiar a nenhum credo, nem podia propagar suas idéias pela forma acadêmica regular. Em algum momento, provavelmente, no inicio do século XVII, a tradi-ção hermética entrou nos ritos praticados nas Lojas especulativas. Como isso se deu não é matéria pacífica, mas de forma geral se admite que esse fato aconteceu pela admissão, nessas Lojas, de membros não pertencentes á categoria dos profis-sionais da construção.
Esses eram os chamados “maçons aceitos”. Entre eles se encontravam militares, filósofos, intelectuais, professores, Membros do clero, comerciantes etc., pessoas que de alguma forma procuravam um meio seguro de expressar seus pensa-mentos sem precisar renunciar a suas crenças.
Geralmente se costuma atribuir a Elias Ashmole a introdução do hermetismo na Maçonaria. Esse intelectual inglês, que entrou para a Ordem em 1641, conforme suas próprias anotações, era um notável hermetista especializado em alquimia e estudioso das tradições da cavalaria. É impossível não pensar que um indivíduo com esse perfil não tivesse prestado qualquer contribuição de vulto nesse sentido. Todavia, em 1641, as Lojas maçônicas já praticavam ritos enxertados com a tradição hermética e “aceitavam” pessoas não ligadas ao oficio de construtor. E essa prática já vinha de longa data, a se acreditar nas pesquisas de Jean Palou e Robert Ambelain.
Assim, o que se pode presumir é que Ashmole e seu grupo de hermetistas entraram para a Maçonaria como conseqüência dessa prática, mas não se constituíram, de forma al-guma, na sua causa. É possível que Ashmole tenha, de algum modo, executado um trabalho de organização, desenvolvi-mento e propagação dos ritos maçônicos na nova formulação que as Lojas especulativas estavam praticando, desde que nelas se introduziram os cultores da tradição hermética, mas disso, como de resto, não temos provas autorizadas.
Mas foi assim que a tradição hermética entrou na Maçonaria das antigas corporações de obreiros, especialmente às dos pedreiros livres, e dessa interação resultou a entrada das tradições herméticas nos rituais e no ensinamento da Sublime Ordem.
A partir de certo momento na História, a Maçonaria pas-sou do plano operativo para o especulativo.
Esse momento parece ter ocorrido a partir das Cruzadas, quando os exércitos cristãos marcharam em direção á Terra Santa para libertá-la do domínio dos sarracenos. Essa, pelo menos foi a justificativa oficial, embora a verdade seja bem outra. A verdade é que Europa, depois da queda do Império Romano, entrou em profundo declínio político, econômico e social. A gloriosa civilização dos dias dos Césares desapareceu. Restou uma população mergulhada na pobreza, na ignorância e submetida à tirania dos nobres e à arrogância intelectual de um clero corrupto e supersticioso. Por isso, tanto a Igreja, quanto os potentados europeus viram com bons olhos uma expedição ao Oriente, onde a riqueza e a civilização do velho mundo havia sido preservada pelo desenvolvimento da cultura islâmica e pela organização do Império Bizantino. Assim, na verdadeira motivação dos prelados da Igreja e dos nobres cavaleiros que se deslocaram para a Terra Santa estava muito mais a cúpida vontade de enriquecer do que a piedosa intenção de libertar os lugares das mãos dos selvagens seguidores de Maomé. Até porque, a Terra Santa, quando sob controle dos muçulmanos, era muito mais livre e aberta aos cristãos do que depois, quando caiu sobre o controle dos cruzados.
Na multidão que se deslocou para a Palestina, que constituía um verdadeiro povo em marcha, não havia só combaten-tes, mas também profissionais de todas as espécies: para lá foram seleiros, carpinteiros, forjadores, armeiros, e principal-mente pedreiros. A própria Ordem dos Templários empregava uma multidão desses profissionais, que eram chamados “os homens dos templários”. Era uma imigração natural, que se fazia exclusivamente por motivos econômicos e profissionais, já que o que se procurava era sempre um meio melhor de ganhar a vida, como hoje se faz com a transumância de profissionais de um país para outro, na busca de melhores mercados para os seus serviços.
A interação entre os templários e os pedreiros-livres é hoje mais que provada, e nenhum espanto nos causaria se des-sa interação não tivesse nascido realmente a Maçonaria espe-culativa, como nos quis fazer crer o Cavaleiro De Ransay.
Uma interação desse tipo e um desenvolvimento pos-terior de “Lojas” especulativas ao lado de “Lojas” operativas justificariam o desenrolar dos acontecimentos que desembo-caram na Maçonaria moderna. Por isso é que percebemos, a partir do início do século XVI, uma revalorização de idéias que se acreditavam sepultas no Ocidente pelo triunfo do Cris-tianismo oficial. Filósofos como Giordano Bruno, Giambatista Dela Porta, Marcilio Ficcino, e outros pensadores renascentistas ressuscitam Jâmblico, Plotino e outros pregadores de religiões solares, da mesma forma que renasceram as “utopias” através de trabalhos como o de Tomás Mórus, Roger Bacon, Jonh Milton, etc.
Nessa mesma vertente, os hermetistas, os cabalistas e todos os cultores do pensamento mágico fazem nascer a genial farsa da Rosa-Cruz. E o pensamento rosa-cruciano impres-siona a imaginação dos intelectuais, dos cientistas, de toda a elite pensante e formadora de opinião na Europa, que nesse exato momento, procurava uma alternativa espiritual para o atavismo dos católicos e o reacionarismo dos protestantes.
Dessa forma, como herança intelectual das Cruzadas, o ambiente intelectual das civilizações orientais viria trazer para a Europa um renascimento cultural, fundamentado num sis-tema de pensamento que a Igreja Católica havia banido do Ocidente em favor de um conjunto de lendas e superstições, sustentadas mais pela necessidade política de dominação, como era o sistema feudal, do que por motivos doutrinários mesmo.
Um sistema de pensamento que fosse tolerante o sufici-ente para agasalhar todas as vertentes do pensamento religioso e secular não podia se filiar a nenhum credo, nem podia propagar suas idéias pela forma acadêmica regular. Em algum momento, provavelmente, no inicio do século XVII, a tradi-ção hermética entrou nos ritos praticados nas Lojas especulativas. Como isso se deu não é matéria pacífica, mas de forma geral se admite que esse fato aconteceu pela admissão, nessas Lojas, de membros não pertencentes á categoria dos profis-sionais da construção.
Esses eram os chamados “maçons aceitos”. Entre eles se encontravam militares, filósofos, intelectuais, professores, Membros do clero, comerciantes etc., pessoas que de alguma forma procuravam um meio seguro de expressar seus pensa-mentos sem precisar renunciar a suas crenças.
Geralmente se costuma atribuir a Elias Ashmole a introdução do hermetismo na Maçonaria. Esse intelectual inglês, que entrou para a Ordem em 1641, conforme suas próprias anotações, era um notável hermetista especializado em alquimia e estudioso das tradições da cavalaria. É impossível não pensar que um indivíduo com esse perfil não tivesse prestado qualquer contribuição de vulto nesse sentido. Todavia, em 1641, as Lojas maçônicas já praticavam ritos enxertados com a tradição hermética e “aceitavam” pessoas não ligadas ao oficio de construtor. E essa prática já vinha de longa data, a se acreditar nas pesquisas de Jean Palou e Robert Ambelain.
Assim, o que se pode presumir é que Ashmole e seu grupo de hermetistas entraram para a Maçonaria como conseqüência dessa prática, mas não se constituíram, de forma al-guma, na sua causa. É possível que Ashmole tenha, de algum modo, executado um trabalho de organização, desenvolvi-mento e propagação dos ritos maçônicos na nova formulação que as Lojas especulativas estavam praticando, desde que nelas se introduziram os cultores da tradição hermética, mas disso, como de resto, não temos provas autorizadas.
Mas foi assim que a tradição hermética entrou na Maçonaria das antigas corporações de obreiros, especialmente às dos pedreiros livres, e dessa interação resultou a entrada das tradições herméticas nos rituais e no ensinamento da Sublime Ordem.