O PENSAMENTO MÁGICO
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A linguagem universal

Pelo conhecimento científico buscamos as causas dos fenômenos naturais, prevenindo suas conseqüências. Pela iniciação buscamos entender o pensamento divino na produção das leis universais. A ciência liga-se á metalinguagem do uni-verso, ou seja, a sua explicação racional, consciente, enquanto a iniciação está vinculada á linguagem primitiva, inconsciente, do universo, que é constituída de símbolos, ou seja, uma representação pictórica dele. A primeira se utiliza de raciocí-nios, fórmulas matemáticas, silogismos, que são construções lingüísticas que visam descrever a representação mental que temos do mundo; a segunda se vale da intuição e da analogia imagética, que é o sensibilidade intuitiva que temos do mun-do. A primeira recorre ao pragmatismo, a segunda se socorre da intuição.
Alexandrian sustenta que tanto o pensamento mágico quanto o pragmático é necessário á construção do espírito humano. O primeiro é inerente ao inconsciente, o segundo ao consciente. Ambos, porém, tem gênese tão antiga quanto o próprio homem, e teriam, segundo suas próprias palavras, uma função reparadora do eu, pressionado pela necessidade de dar respostas às questões que nem a razão pura, nem a razão prática, conseguem responder.
O recurso á intuição explora a propriedade que o aparelho psíquico humano tem para “sentir” realidades inatingíveis pela razão, e por analogia tentar explicá-las. Não rara-mente precisa do símbolo e da metáfora para exprimir seus conteúdos, uma vez que a linguagem lógica, que se exprime através de símbolos pictóricos e expressões lingüísticas verbais e não verbais, não tem meios para fazê-lo.
O pensamento mágico não é exclusividade de espíritos místicos que procuram, irrefletidamente, penetrar nos mistérios do universo. Na verdade, sua utilização, ao longo da história da humanidade, sempre teve um sentido mais pragmático do que os amantes do positivismo científico podem pressupor.
Pensadores tidos como racionalistas tiveram suas experiências com o pensamento mágico. Freud, a quem se atribui a sistematização dos conteúdos do inconsciente humano, confessou a influência que recebeu desse tipo de pensamento quando elaborou sua tese sobre o significado dos sonhos. Jung, principalmente, deve sua fama às descobertas que fez sobre as relações que o inconsciente humano mantém com o mundo mágico dos símbolos e dos arquétipos.

Jung e os Arquétipos

Carl Gustav Jung (1873 ― 1961), psicanalista suíço, foi o maior estudioso da simbologia que influencia o pensamento humano. Sua teoria a respeito dos Arquétipos que estão presentes no inconsciente da humanidade é ainda hoje muito respeitada. Segundo Jung, existe um Inconsciente Coletivo, ou seja, um conjunto de institutos culturais, que se tornam estruturas psíquicas comuns a todos os grupos humanos em todos os tempos. Exemplos: o amor fraternal, o casamento, o medo do escuro, etc. Essas estruturas psicológicas são Arquétipos, ou seja, formulações padronizadas que servem para organizar ou canalizar o material psicológico que forma o nosso inconsciente. Todos nós sabemos que devemos respeitar os nossos pais. Que devemos enterrar os mortos. Que precisamos pro-criar para perpetuar a espécie, etc. Quer dizer, essas são noções que existem anteriormente a nós e conformam a nossa maneira de viver, por que deixar de atender a elas nos causará algum tipo de constrangimento.
Jung associa esses Arquétipos aos temas mitológicos que aparecem em contos e lendas populares de épocas e culturas diferentes. São os mesmos temas, encontrados em sonhos e fantasias de muitos indivíduos, em tempos e lugares diferentes. Isso denota a origem comum da humanidade. Vários povos têm seu Hércules, seu Cristo, seu Osíris, seu Prometeu etc. Assim, os Arquétipos são elementos estruturais formadores do inconsciente coletivo e dão origem tanto às fantasias individuais quanto à mitologia de um povo em geral.
Ele usa a história de Édipo como ilustração de um Arquétipo. Édipo é um motivo tanto mitológico quanto psicoló-gico, que representa uma situação arquetípica que se relaciona com o conteúdo da mente inconsciente do filho em relação aos seus pais. Quer dizer, o Mito de Édipo tem a ver com o ciúme natural que um filho (ou filha) tem da relação entre seu pai e sua mãe.
Um dos principais estudos de Jung se refere à simbologia. Entende ele que o inconsciente se expressa primariamente através de símbolos. Mesmo que nenhum símbolo concreto possa representar de forma plena um Arquétipo, quanto mais um símbolo se “parecer” com o material inconsciente, organizado ao redor de um Arquétipo, mais capacitado ele estará para provocar uma resposta intensa e emocionalmente carregada na pessoa. Por isso, um alemão responde mais intensamente a visão de uma cruz gamada, por exemplo, pois tal símbolo tem uma identificação profunda com conteúdos arquetípicos de sua cultura, da mesma forma que os judeus com símbolos da sua religião, os cristãos com a cruz, etc. Como a Maçonaria é uma cultura fundamentalmente simbólica, é interessante conhecer um pouco o trabalho de Jung.

A influência do pensamento mágico

No campo da política são fartas as referências a esse fenômeno. O Cardeal Richelieu, principal ministro do Rei Luis XIV, o Imperador Napoleão I, o Chanceler Adolf Hitler e vários outros homens com poder de vida e morte sobre milhões de pessoas, subordinavam suas decisões aos conselhos de pretensos magos que eram, em sua maior parte, grosseiros charlatões.
A influência que o pensamento mágico pode ter nos negócios políticos e administrativos de uma nação pode ser verificada na organização dada aos Estados Unidos da América, por exemplo.Os maçons que fizeram a independência da-quele país eram mestres em conhecimentos arcanos e os aplicaram nessa organização. Eles também eram “eleitos”, preparados, iluminados, iniciados nos mistérios maçônicos; por isso disseminaram os símbolos maçônicos por toda parte, mos-trando a importância que a Sublime Ordem teve, e ainda tem na cultura daquela nação.
O pensamento mágico pode provir tanto de uma necessidade de “saber” mais do que a própria razão alcança, como de uma fé inabalável na existência de uma realidade que transcende a nossa capacidade de entendê-la, mas não a dos nossos sentidos de senti-la. No primeiro caso classificamos os chefes de estado acima mencionados e todos aqueles, que de alguma forma recorrem a esse recurso para tomar alguma de-cisão pragmática na vida; no segundo caso estão todos os ma-gos, desde o atharvan (médico religioso na Índia) até os Xamãs (feiticeiros tribais dos povos ameríndios), e ainda o pro-feta e o crente fervoroso que aparecem (não raras vezes) na história, transcendendo suas próprias limitações físicas, reali-zando os chamados “milagres”.
A magia é contemporânea da própria gênese da mente humana. Nasceu no mesmo dia em que o homem produziu a primeira reflexão. Nas civilizações orientais e na que lhes se-guiu, a greco-romana, a magia era inseparável da religião e fornecia o próprio substrato psíquico no qual se fundamentavam as crenças religiosas. Os deuses e os demônios mesopotâmicos eram influenciados pelas práticas que os magos exercitavam. Também as divindades egípcias eram suscetíveis aos rituais humanos e os gregos e seus pupilos romanos não foram diferentes nesse sentido.
Mesmo o Judaísmo, religião calcada num conteúdo espiritualista mais desenvolvido que suas congêneres mesopotâmica e egípcia, sempre trabalhou com a idéia de um Deus influenciável pelas atitudes rituais de seus sacerdotes e praticantes. Assim é que Cain mata Abel porque as oferendas deste Lhe agradam mais ao olfato do que as daquele. Isso mostra que o Deus dos antigos israelitas era, ao mesmo tempo, metafísico e antropomórfico, capaz de hospedar, tanto o mais alto conceito de espiritualidade, quanto os mais mesquinhos sentimentos humanos.
(CONTINUA)
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do livro " LENDAS DA ARTE REAL". NO PRELO
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 29/04/2011
Reeditado em 29/04/2011
Código do texto: T2938959
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