O dilema da religião
Após a separação entre o céu e a terra, e a distinção entre o sagrado e o profano, alguns espíritos mais sensíveis começaram a pensar num meio de religar essas duas estruturas, recuperando aquele estado de harmonia, ordem e felicidade que acreditavam, um dia existiu no universo.
Então inventaram a religião e construíram templos para neles invocar a Divindade, que segundo acreditavam, voltaria a morar entre os homens a partir do momento que a reunificação pretendida ocorresse.
Por isso é que a função de toda religião é religar o profano ao sagrado. Ela tem como finalidade levar o homem de volta para o território da divindade, como espírito, de onde um dia ele saiu como matéria orgânica. Funde-se, dessa forma o espiritualismo daqueles que crêem que o homem tem um lado sutil, cujas raízes estão no território da divindade, com as teses evolucionistas, para as quais, a espécie humana é fruto de uma evolução natural, que se iniciou na primeira e fundamental partícula de energia que deu origem ao universo e está em eterno processo de construção.
A Gnose Cristã
Quando os teólogos da Igreja Católica transformaram o Cristianismo numa ideologia de massa e a vincularam á cultura do império romano como religião oficial, a maravilhosa doutrina do mestre de Nazaré deixou de ser uma verdadeira ponte entre o sagrado e profano, para se transformar em mais um instrumento ideológico. E assim também aconteceu com o Islamismo, o Judaísmo, o Bramanismo e todas as demais religiões que foram apropriadas pelos governantes e utilizadas como instrumento político de educação e controle das massas.
Nesse sentido, Jesus também deixou de ser o Messias, o redentor das almas perdidas, para se tornar apenas mais um ideólogo. O Jesus do Cristianismo oficial transformou-se em um filósofo, contestável e doutrinariamente insatisfatório para um espírito que buscava uma realidade divina pura e descon- taminada das impurezas humanas.
Assim pensavam os gnósticos e por isso floresceram as teses defendidas por essa escola, como tentativas de recuperar aquele Cristianismo messiânico e mágico que as primeiras comunidades cristãs professaram, e que fez a força do novo credo. Surgiram então as diversas teses que procuram explicar o universo através das mais estranhas e bizarras concepções, criando um conjunto de doutrinas místicas que se convencionou chamar-se de Gnose.
A proposta da Gnose
Os filósofos podem ser contestados, os deuses não. Foi contra a massificação da mensagem de Jesus, a sua politização e transformação em instrumento do poder secular, que as correntes gnósticas de pensamento se insurgiram.
Os gnósticos cristãos dos primeiro século queriam preservar a pureza do conhecimento iniciático contido na mensagem cristã. Não acreditavam em nenhuma verdade revelada por um Deus particular e preconceituoso, como lhes parecia ser o Deus do Velho Testamento. A verdade, segundo a sensibilidade que os dominava, estava na própria criação que Deus espalhara sobre o universo e não na mensagem de uma pessoa em particular.
Destarte, se o Deus do Velho Testamento era assim tão contestável, aquele que diziam ser filho dele não o seria menos, diziam algumas seitas gnósticas. Por isso era preciso desvincular a doutrina de Jesus do Judaísmo tradicional e apresentá-lo sobre uma ótica nova. Dessa forma, o Cristo judeu fundiu-se com as divindades solares das antigas religiões, especialmente egípcia e persa e dai nasceu um novo Deus, palatável para gregos e romanos, que relutavam em abandonar seus antigos deuses para adorar o filho de um carpinteiro que eles mesmos tinham crucificado. Foi assim que o Cristianismo venceu em Roma e se tornou o credo oficial.
Embora a Igreja jamais tenha reconhecido esse fato, é preciso dizer que o Gnosticismo contribuiu bastante para essa vitória.
Da mesma forma que os sacerdotes egípcios e os mestres das religiões orientais, os gnósticos pensavam que o conhecimento do mundo divino só podia ser atingido através de uma adequada iniciação, onde a prática ritualística pudesse ser combinada com fórmulas apropriadas de meditação e invocação da divindade.
Acreditando que a popularização do conhecimento obtido pela prática iniciática acabava por abastardá-lo, os gnósticos formavam pequenos grupos sectários, e no mais das vezes transmitiam sua doutrina por via oral e sempre através de símbolos. Nisso imitavam as antigas sociedades iniciáticas do Oriente e essa tradição foi transmitida para os hermetistas, que depois deles fundaram Fraternidades para conservação e transmissão dos conhecimentos que pensavam ter obtido em suas práticas.
Os gnósticos não devem ser confundidos com mágicos ou divulgadores de heresias religiosas, embora em suas práticas apelassem constantemente para o pensamento mágico. Seus temas são naturalmente religiosos e não poderiam deixar de ser, dada á própria cultura na qual estavam inseridos. Constituíam, na verdade, grupos de livre pensadores que recusavam qualquer dogma e deduziam seus conhecimentos das grandes leis da natureza. Cultuavam o saber pelo saber, sem temores religiosos. Pretendiam criar uma ciência do divino, uma teologia mística, cujo objetivo era a descoberta dos caminhos para a salvação do homem através do conhecimento, em oposição ao caminho da Igreja, que era o da fé, absoluta e incontestável, nas interpretações dos doutores da Igreja.
A base da filosofia gnóstica era uma visão unificada do universo, onde tudo estava contido em tudo, o que estava em cima era igual ao que estava em baixo, o que estava dentro igual ao que estava fora. A função do iniciado era a descoberta dessas realidades e unificá-las em seu espírito, atingindo assim a verdadeira iluminação que constituía, na verdade, a única salvação que o homem poderia almejar.
Os gnósticos dos primeiros séculos formavam comunidades calcadas na interação mestre-aprendiz, acreditando que tal processo gerava a energia necessária para alimentar a chama sagrada do conhecimento do divino (gnosis). Em função disso desprezavam o clero secular considerando-os como ”ovelhas perdidas”. Para eles, os membros do clero regular eram padres, enquanto eles se consideravam monges. Essa mesma fórmula viria a ser utilizada mais tarde pelos Cavaleiros Templários, o que, de certa forma, contribuiu para o afastamento deles da Igreja. É possível que a transformação dessa Ordem em sociedade iniciática tenha sido um dos principais motivos da sua condenação pela Igreja.Afinal, a maioria das acusações a ele feitas envolviam teses gnósticas que a Igreja havia repelido e condenado antes como heresias. E os templários foram condenados e tiveram sua Ordem extinta justamente por agasalhar, entre suas práticas, essas heresias.
Após a separação entre o céu e a terra, e a distinção entre o sagrado e o profano, alguns espíritos mais sensíveis começaram a pensar num meio de religar essas duas estruturas, recuperando aquele estado de harmonia, ordem e felicidade que acreditavam, um dia existiu no universo.
Então inventaram a religião e construíram templos para neles invocar a Divindade, que segundo acreditavam, voltaria a morar entre os homens a partir do momento que a reunificação pretendida ocorresse.
Por isso é que a função de toda religião é religar o profano ao sagrado. Ela tem como finalidade levar o homem de volta para o território da divindade, como espírito, de onde um dia ele saiu como matéria orgânica. Funde-se, dessa forma o espiritualismo daqueles que crêem que o homem tem um lado sutil, cujas raízes estão no território da divindade, com as teses evolucionistas, para as quais, a espécie humana é fruto de uma evolução natural, que se iniciou na primeira e fundamental partícula de energia que deu origem ao universo e está em eterno processo de construção.
A Gnose Cristã
Quando os teólogos da Igreja Católica transformaram o Cristianismo numa ideologia de massa e a vincularam á cultura do império romano como religião oficial, a maravilhosa doutrina do mestre de Nazaré deixou de ser uma verdadeira ponte entre o sagrado e profano, para se transformar em mais um instrumento ideológico. E assim também aconteceu com o Islamismo, o Judaísmo, o Bramanismo e todas as demais religiões que foram apropriadas pelos governantes e utilizadas como instrumento político de educação e controle das massas.
Nesse sentido, Jesus também deixou de ser o Messias, o redentor das almas perdidas, para se tornar apenas mais um ideólogo. O Jesus do Cristianismo oficial transformou-se em um filósofo, contestável e doutrinariamente insatisfatório para um espírito que buscava uma realidade divina pura e descon- taminada das impurezas humanas.
Assim pensavam os gnósticos e por isso floresceram as teses defendidas por essa escola, como tentativas de recuperar aquele Cristianismo messiânico e mágico que as primeiras comunidades cristãs professaram, e que fez a força do novo credo. Surgiram então as diversas teses que procuram explicar o universo através das mais estranhas e bizarras concepções, criando um conjunto de doutrinas místicas que se convencionou chamar-se de Gnose.
A proposta da Gnose
Os filósofos podem ser contestados, os deuses não. Foi contra a massificação da mensagem de Jesus, a sua politização e transformação em instrumento do poder secular, que as correntes gnósticas de pensamento se insurgiram.
Os gnósticos cristãos dos primeiro século queriam preservar a pureza do conhecimento iniciático contido na mensagem cristã. Não acreditavam em nenhuma verdade revelada por um Deus particular e preconceituoso, como lhes parecia ser o Deus do Velho Testamento. A verdade, segundo a sensibilidade que os dominava, estava na própria criação que Deus espalhara sobre o universo e não na mensagem de uma pessoa em particular.
Destarte, se o Deus do Velho Testamento era assim tão contestável, aquele que diziam ser filho dele não o seria menos, diziam algumas seitas gnósticas. Por isso era preciso desvincular a doutrina de Jesus do Judaísmo tradicional e apresentá-lo sobre uma ótica nova. Dessa forma, o Cristo judeu fundiu-se com as divindades solares das antigas religiões, especialmente egípcia e persa e dai nasceu um novo Deus, palatável para gregos e romanos, que relutavam em abandonar seus antigos deuses para adorar o filho de um carpinteiro que eles mesmos tinham crucificado. Foi assim que o Cristianismo venceu em Roma e se tornou o credo oficial.
Embora a Igreja jamais tenha reconhecido esse fato, é preciso dizer que o Gnosticismo contribuiu bastante para essa vitória.
Da mesma forma que os sacerdotes egípcios e os mestres das religiões orientais, os gnósticos pensavam que o conhecimento do mundo divino só podia ser atingido através de uma adequada iniciação, onde a prática ritualística pudesse ser combinada com fórmulas apropriadas de meditação e invocação da divindade.
Acreditando que a popularização do conhecimento obtido pela prática iniciática acabava por abastardá-lo, os gnósticos formavam pequenos grupos sectários, e no mais das vezes transmitiam sua doutrina por via oral e sempre através de símbolos. Nisso imitavam as antigas sociedades iniciáticas do Oriente e essa tradição foi transmitida para os hermetistas, que depois deles fundaram Fraternidades para conservação e transmissão dos conhecimentos que pensavam ter obtido em suas práticas.
Os gnósticos não devem ser confundidos com mágicos ou divulgadores de heresias religiosas, embora em suas práticas apelassem constantemente para o pensamento mágico. Seus temas são naturalmente religiosos e não poderiam deixar de ser, dada á própria cultura na qual estavam inseridos. Constituíam, na verdade, grupos de livre pensadores que recusavam qualquer dogma e deduziam seus conhecimentos das grandes leis da natureza. Cultuavam o saber pelo saber, sem temores religiosos. Pretendiam criar uma ciência do divino, uma teologia mística, cujo objetivo era a descoberta dos caminhos para a salvação do homem através do conhecimento, em oposição ao caminho da Igreja, que era o da fé, absoluta e incontestável, nas interpretações dos doutores da Igreja.
A base da filosofia gnóstica era uma visão unificada do universo, onde tudo estava contido em tudo, o que estava em cima era igual ao que estava em baixo, o que estava dentro igual ao que estava fora. A função do iniciado era a descoberta dessas realidades e unificá-las em seu espírito, atingindo assim a verdadeira iluminação que constituía, na verdade, a única salvação que o homem poderia almejar.
Os gnósticos dos primeiros séculos formavam comunidades calcadas na interação mestre-aprendiz, acreditando que tal processo gerava a energia necessária para alimentar a chama sagrada do conhecimento do divino (gnosis). Em função disso desprezavam o clero secular considerando-os como ”ovelhas perdidas”. Para eles, os membros do clero regular eram padres, enquanto eles se consideravam monges. Essa mesma fórmula viria a ser utilizada mais tarde pelos Cavaleiros Templários, o que, de certa forma, contribuiu para o afastamento deles da Igreja. É possível que a transformação dessa Ordem em sociedade iniciática tenha sido um dos principais motivos da sua condenação pela Igreja.Afinal, a maioria das acusações a ele feitas envolviam teses gnósticas que a Igreja havia repelido e condenado antes como heresias. E os templários foram condenados e tiveram sua Ordem extinta justamente por agasalhar, entre suas práticas, essas heresias.