O Calvinismo de Abraham Kuyper ( I parte )

INTRODUÇÃO

O Teólogo e Filósofo Dr. Abraham Kuyper (1837 - 1920), foi um calvinista de origem holandesa, envolvido nas áreas acadêmicas e políticas da Holanda, servindo como Primeiro Ministro da Holanda entre 1901 a 1905. Fundador da Universidade Livre de Amsterdã (1880), foi administrador e professor, o Dr. Kuyper estava convicto, à luz da Teologia Calvinista, que o Cristão deveria ocupar todas as áreas da vida dita secular, não apenas religiosa. Para ele, o Calvinismo "transcende as esferas teológica e eclesiástica, ele é um sistema de vida; O calvinismo é uma força cultural, uma biocosmovisão, um sistema de vida, e por isso não pode estar restrito às esferas eclesiástica e teológica"(OLIVEIRA, Curso de Cosmovisão Reformada).

Abaixo um texto-resumo da visão conhecida como Neo-Calvinismo ou Filosofia Reformacional.

1ª Palestra: O Calvinismo como Sistema de Vida

Nas Palestras Stones o termo calvinismo não é usado no sentido pejorativo e sectário, nem no sentido dogmático e confessional daqueles que subscrevem o dogma da predestinação e nem no sentido qualificativo denominacional. Porém, ele é utilizado no sentido de sua acepção científica querendo dizer com isso que “o Calvinismo tem uma teoria de ontologia, de ética, de felicidade social de liberdade humana, derivada totalmente de Deus.”

Ou seja, Kuyper se destina a mostrar o Calvinismo como, “uma tendência geral independente, que de um princípio matrix próprio, tem desenvolvido uma forma independente tanto pra nossa vida como para nosso pensamento.”

Além disso, o Calvinismo é confrontado, com os três grandes complexos da vida humana (o Paganismo, o Islamismo e o Romanismo), formando um conjunto de quatro mundos diferentes de pensamento que caracterizam a nossa época. Talvez o correto tivesse sido colocar o Cristianismo em oposição ao Paganismo e Islamismo, contudo o Autor escolhe inserir o Calvinismo já que este “reivindica incorporar a idéia cristã mais pura e acurada do que poderia fazer o Romanismo e o Luteranismo.” (p.26)

Kuyper diz que, entre as expressões existentes do Cristianismo, somente duas podem se colocar como tendo incorporado - “seu pensamento de vida num mundo de concepções e expressões inteiramente próprias” - de si mesma: o Romanismo, que através de sua hierarquia é e permanece unido; e o Calvinismo, que aparece contra ao Romanismo. De maneira peculiar, o Calvinismo surgiu “não simplesmente para criar uma forma de Igreja diferente, mas uma forma inteiramente diferente para a vida humana, para suprir a sociedade humana com um método diferente de existência, e para povoar o mundo do coração humano com ideais e concepções diferentes.”

O calvinismo não surgiu primeiramente como o resultado de um estudo teológico que então invadiu a vida, mas no contexto da existência e do confronto das lutas da vida e da “estaca” não tendo inicialmente muito tempo para se dedicar ao estudo. “Na ordem da existência, a vida vem primeiro.” O estudo mais profundo do Calvinismo veio depois quando surgiu a necessidade de refletir a existência como uma unidade no espelho da consciência.

Em comparação com o Romanismo, o Islamismo e até com o Modernismo que apresentam uma convicção de vida impregnada por um princípio, somente o Protestantismo anda de um lado para o outro sem propósito e direção sendo alvo fácil do Modernismo.

Kuyper atribui a fraqueza do Protestantismo diante desse inimigo simplesmente ao fato de ele precisar de uma unidade igual de concepção de vida “Somente isto poderia habilitar-nos com irresistível energia para repelir o inimigo na fronteira. Esta unidade de concepção de vida, contudo, nunca será encontrada num conceito vago do Protestantismo, envolvido em todo tipo de caminhos tortuosos. Vocês o encontrarão naquele poderoso processo histórico, no qual como Calvinismo cavou seu próprio canal para o poderoso curso de sua vida. Apenas por essa unidade de concepção, como dada no Calvinismo, vocês na América e nós na Europa poderíamos ser capazes, uma vez mais, de tomar nossa posição ao lado do Romanismo, em oposição ao Panteísmo moderno. Sem essa unidade de ponto de partida e sistema de vida devemos perder o poder para manter nossa posição independente, e nossa força para resistir deve declinar.”

Kuyper passa então a apresentar que o Calvinismo, para ser reconhecido como um sistema de vida que apresente uniformidade, raízes firmes no passado, capacidade de fortalecimento no presente e confiança no futuro, partindo de um princípio especial, poder responder de maneira peculiar às nossas necessidades de relações com: Deus, o homem e o mundo.

A primeira condição, a questão do nosso relacionamento com Deus, não está alicerçada no nosso intelecto, mas no coração e transparece na oração, pois: é nas profundezas de nossos corações, no ponto onde nos mostramos a nós mesmos ao Único Eterno, todos os raios de nossa vida convergem como em um foco. Somente ali recobramos a harmonia que nós tão freqüente e penosamente perdemos no stress do dever diário. Na oração encontramos não somente nossa unidade com Deus, mas também a unidade de nossa vida pessoal.”

Enquanto o Paganismo vê Deus na criatura, o Islamismo separa Deus da criatura e o Catolicismo coloca a Igreja entre Deus e a criatura, no Calvinismo, Deus se comunica com a criatura, pois “ele proclama o pensamento glorioso que, embora permanecendo em alta majestade acima da criatura, Deus entra em comunhão imediata com a criatura, como Deus Espírito Santo. Este é o próprio coração e âmago da confissão calvinista da predestinação.”

O fato então é que há uma comunhão imediata do homem com o Eterno, independente do sacerdote ou igreja. O Calvinismo supera até mesmo o Luteranismo como idealizador de uma cosmovisão própria. E a causa primária disso é que enquanto o Luteranismo foca os aspectos subjetivo e antropológico, partindo do princípio soteriológico especial da justificação pela fé, o Calvinismo enfatiza os aspectos objetivo e cosmológico, partindo do princípio cosmológico geral da soberania de Deus.

Na visão de Kuyper, todo sistema de vida em geral é dominado pela interpretação da nossa relação com Deus. E no caso do Modernismo, que nasceu da Revolução Francesa de 1789 e cujo lema era a ausência total de relacionamento com Deus, essa mesma falta de relacionamento deu origem à sua cosmovisão. Contudo, o Calvinismo não foi a conseqüência de um trabalho intelectual engenhoso de um homem (Calvino), mas foi o resultado de uma

ação irresistível do Espírito Santo sobre os corações de homens comuns da Europa Ocidental do século XVI, os quais foram admitidos pelo próprio Deus à comunhão com a majestade de seu ser eterno. É desse princípio que emerge o pensamento-matriz de vida abrangente do Calvinismo: “Graças a esta obra de Deus no coração, a convicção de que o todo da vida do homem deve ser vivido como na presença divina tem se tornado o pensamento fundamental do Calvinismo. Por esta idéia decisiva, ou melhor, por este fato poderoso, ele tem se permitido ser controlado em cada departamento de seu domínio inteiro.”

A segunda condição, é a questão do nosso relacionamento com o homem, que vai determinar a forma com que construiremos nossas vidas. A vida é marcada pela multiformidade sem fim: há diferenças de sexo, sociais, econômicas, genéticas, de dons e talentos físicos e espirituais. É ao tomar posição por um dos sistemas de vida consistentes que determinará quais características serão enfraquecidas ou acentuadas.

De um lado o Paganismo acentua as diferenças com seu politeísmo e sistemas de castas; por outro, o Islamismo e o Catolicismo fazem a mesma coisa frisando as questões do paraíso e da inferioridade da mulher e do kafir em relação ao fiel muçulmano, ou frisando a interpretação hierárquica do relacionamento entre os seres, nas regiões celestiais, na igreja e entre os homens, conduzindo a uma interpretação aristocrática da vida; enquanto que o Modernismo “destrói a vida pondo-a sob a maldição da uniformidade”, buscando acabar com todas as diferenças. O Calvinismo, vê os homens iguais entre si diante e de Deus, ficando somente as diferenças impostas por Deus, condena a escravidão dissimulada da mulher e do pobre, não tolera a aristocracia e dá apóio a interpretação democrática da vida, proclama a liberdade das nações, respeitando os homens como criaturas feita à imagem de Deus, transforma a estrutura da sociedade sem precisar usar de luta de classes, valoriza o trabalho de tal maneira que ricos e pobres possam se encontrar de joelhos diante de Deus, nas palavras de Kuyper: “Ter colocado o homem em uma posição de igualdade com o homem é a glória imortal que pertence incontestavelmente ao Calvinismo. A diferença entre ele e o sonho selvagem de igualdade da Revolução Francesa é que, enquanto em Paris ocorreu uma ação de comum acordo contra Deus, aqui, todos, rico e pobre, estavam sobre seus joelhos diante de Deus, consumidos com um zelo comum pela glória de seu nome.”

A terceira condição é a questão do nosso relacionamento com o mundo.

No Paganismo estima-se o mundo de uma maneira muito alta e por isso tem-se medo de perde-se nele. No Islamismo, ao contrário, há uma estimativa muito baixa do mundo, como conseqüência zomba-se e triunfa-se sobre o mundo lançando mão do mundo visionário do paraíso sensual. No Romanismo, a Igreja tenta governar o mundo, que está em antítese com os círculos cristãos, pois tudo que está debaixo da ação da Igreja é santificado, está exorcizado, ao passo que o que se encontra na ação do mundo está sob maldição e sob a influência de demônios. A Igreja procura dominar sobre tudo, mantendo tudo debaixo de seu cuidado e tutela, da vida familiar, indo pelas artes e ciências, até a vida social e negócios. A estaca está preparada para o bruxo e o herege e o ideal é a fuga do mundo através das ordens monásticas e clericais.

“Como resultado natural, o mundo corrompeu a Igreja, e por seu domínio sobre o mundo,a Igreja proveu um obstáculo a todo desenvolvimento livre de sua vida.” (P.38)

O Calvinismo, em contraste, reconhece Deus no mundo, operando através da Graça Particular para a salvação e através da Graça Comum para suavizar a maldição, suspender a corrupção e permitir o livre desenvolvimento da vida. Através do Calvinismo, a Igreja recupera o seu verdadeiro papel, retrocedendo até a congregação dos crentes e emancipando a vida do mundo do seu domínio, permanecendo, porém, sob a dependência de Deus. A vida doméstica, os negócios e o comércio recuperam a independência. A arte e a ciência não ficam mais debaixo do vínculo eclesiástico e os homens recuperam o santo dever de sujeitar a natureza com suas forças e tesouros ocultos, através do mandato cultural.

“Doravante, a maldição não deveria mais repousar sobre o mundo em si, mas sobre aquilo que é pecaminoso nele. Em vez do vôo monástico para fora do mundo é agora enfatizado o dever de servir a Deus no mundo, em cada posição da vida. Louvar a Deus na Igreja e servi-lo no mundo tornou-se o impulso inspirador; na Igreja, deveria ser reunida força par resistir à tentação e ao pecado no mundo. Deste modo, a sobriedade puritana veio de mãos dadas com a reconquista da vida toda do mundo, e o Calvinismo deu o impulso para este novo desenvolvimento que ousou encarar o mundo com o pensamento romano: nil humanum a me alienum puto (Nada que seja humano deixa de ser importante para mim.), embora nunca permitiu-se ser intoxicado por sua taça venenosa.”

Do lado do Protestantismo, contudo, o Anabatismo se colocou em antítese com o Calvinismo, confirmando o ponto de partida monástico, generalizando-o e tornando-o uma regra para todos os crentes. Outrossim, deu origem ao Acosmismo entre os protestantes da Europa Ocidental, negando qualquer legitimidade às atividades humanas fora da cobertura da igreja. Culminou com o triste episódio de João Leiden, invadindo e conquistando a cidade de Munster e se autoproclamando rei da Nova Sião, executando seus opositores, instituindo uma comunidade de bens e a poligamia. Contudo “o Calvinismo rejeitou a teoria anabatista e proclamou que a Igreja deve retirar-se novamente para dentro de seu domínio espiritual, e que no mundo nós deveríamos realizar as potências da graça comum de Deus.”

O Calvinismo no Desenvolvimento da Humanidade

Para que o Calvinismo possa reivindicar a energia e devoção de nossos corações é preciso demonstrar que ele teve a honra de levar a humanidade a um estágio superior em seu desenvolvimento. Não basta que tenha se firmado num dado contexto como estrutura independente originando tanto no campo espiritual quanto no campo social um sistema especial para a vida doméstica e social. Porque civilizações houve que se fecharam em um círculo próprio e alcançaram um alto grau de desenvolvimento mas permaneceram isoladas

como os lagos que não se comunicam e não deixaram nenhum benefício para a humanidade em geral.

Kuyper diz que o desenvolvimento da humanidade passou por estágios representados numa ordem cronológica pelo Paganismo, Islamismo e o Romanismo. Que em termos espaciais o desenvolvimento da humanidade fluiu da Babilônia e do vale do Nilo, tornando-se mais caudaloso passando pela Grécia e chegando até o Império Romano. Depois esse rio seguiu para o noroeste da Europa, e da Holanda e Inglaterra, alcançou finalmente os Estados Unidos aí já neste último ciclo representado pelo Calvinismo.

Porque o desenvolvimento dos sistemas de vida é orgânico o Calvinismo lança suas raízes na direção do passado retroagindo para Agostinho, daí para Paulo em sua carta aos Romanos, daí para os profetas de Israel e então alcançando as tendas dos patriarcas.

Kuyper diz que outro componente é a mistura de sangue através da miscigenação que é a base física de todo desenvolvimento humano superior.

Através da bênção profética de Noé a humanidade se dividiu em raças e nações, a partir de Sem e Jafé. Aquelas nações tribais que se miscigenaram alcançaram um desenvolvimento superior na raça humana, aquelas que não o fizeram dominaram exclusivamente suas próprias forças inerentes. Porque a história da raça humana visa ao desenvolvimento da humanidade como um todo era necessário que houvesse a mistura de sangue para atingir o seu alvo. É possível ver que na genealogia das nações calvinistas encontra-se a miscigenação das três principais tribos da Europa Ocidental: a céltica, a romana e a alemã, com liderança desta última. A América do Norte é o lugar da mistura do sangue de

todas as tribos do mundo antigo, uma vigorosa miscigenação das raças. Por isso, o Calvinismo conseguiu ali elevar a sua expansão ao maior grau possível até a época em que as palestras foram proferidas.

Outro sinal de apogeu desse processo de desenvolvimento humano é quando, sob a influência do Calvinismo, aparece o impulso da atividade pública do próprio povo. É o desenvolvimento da liberdade política da humanidade caminhando da menoridade tutelada para a maioridade madura, conforme Kuyper explica em analogia: “Como na vida familiar, durante os anos de infância a direção dos afazeres está nas mãos dos pais, assim também na vida das nações é natural que durante seu período de menoridade primeiro o déspota asiático deveria estar à frente de cada movimento, depois algum eminente governador, mais tarde o sacerdote, e finalmente ambos, o sacerdote e o magistrado juntos.”

A fase da maioridade das nações se caracteriza pelo fato de que “o próprio povo despertado defende seus direitos e dá origem ao movimento que deve dirigir o curso dos eventos futuros.” “Essa fase é visível na ascensão do Calvinismo quando a direção do movimento é invertida: Até aqui cada movimento para frente tinha saído da autoridade do

Estado, da Igreja ou da ciência, e daí descido para o povo. No Calvinismo, por outro lado, as próprias pessoas destacam-se em suas classes sociais e, a partir de uma espontaneidade própria delas, pressionam para frente, para uma forma de vida e condições superiores. O Calvinismo teve sua ascensão com o povo.”

Para exemplificar isso, Kuyper compara a história dos avanços públicos nas nações onde vicejou o Luteranismo e naquelas onde o Calvinismo tomou o seu lugar. Ele então argumenta que na Holanda, onde o heroísmo do espírito calvinista estava presente, a independência do domínio espanhol só foi conseguida quando finalmente o ‘povo comum’ se uniu à nobreza e abraçou a causa em sublevação conjunta. Ou seja, “Na Suíça, na França, na Holanda, na Escócia e na Inglaterra, e onde quer que o Protestantismo teve de estabelecer-se na ponta da espada, foi o Calvinismo que prosperou.”

A cosmovisão de Kuyper é que a História mostra um avanço do desenvolvimento humano para um estágio superior e que o Calvinismo não só representa um princípio peculiar dominando o todo da vida, mas ele supre as condições para a transição de estágios.

Ele não apenas satisfaz todas as condições para esse avanço, mas que se tornou o fenômeno central no desenvolvimento da humanidade. Ele tem não só contribuído para o enobrecimento da vida social das nações, na verdade, ele

tem induzido este enobrecimento. Ele não só sustenta estas possibilidades, mas também aprendeu como realizá-las.

Com muita intrepidez ele delinea um cenário de como seria o mundo sem o surgimento do Calvinismo. Nele a Holanda teria sido esmagada pela Espanha a qual teria também dominado todo o continente americano. O livre desenvolvimento da Europa e América teria sido impedido. Nas suas próprias palavras: “Na Inglaterra e Escócia, os Stuart teriam executado seus planos fatais.

Na Suíça, o espírito de indiferença teria prosperado.” “a balança do poder na Europa teria retornado à sua primeira posição. O Protestantismo não teria sido capaz de manter-se na política. Nenhuma resistência adicional poderia ter sido oferecida ao poder romanista conservador dos Habsburgo, dos Bourbon e dos Stuart” (P.48) “a história de ambos os continentes teria se tornado muito triste, e sempre permanece uma questão seo espírito do Ínterim de Leipzig não teria sido bem-sucedido, por via de um protestantismo romanizado, ao reduzir o norte da Europa novamente ao controle da velha hierarquia.”

Finalmente, Kuyper argumenta que o Calvinismo carrega em sua semente a poder germinador capaz de revitalizar a história: Sim, assim como um grão de trigo do sarcófago dos Faraós, quando novamente confiados à guarda do solo, traz fruto a cem vezes mais, assim

o Calvinismo ainda carrega em si um poder maravilhoso para o futuro das nações. E se nós, cristãos de ambos os continentes, ainda em nossa santa luta, ainda estamos esperando realizar ações heróicas marchando sob a bandeira da cruz contra o espírito dos tempos, somente o

Calvinismo nos equipa com um princípio inflexível, pela força deste princípio, garantido-nos uma vitória segura, embora longe de ser uma vitória fácil.

Se a cosmovisão de Kuyper puder ser comprovada verdadeira e levando em consideração que o Brasil é um país constituído por um povo miscigenado, muito mais do que a dos norte-americanos, seria de se esperar que o Calvinismo aqui encontrasse um novo e forte impulso, maior do que aquele que outrora houve na América do Norte. E levando em conta a crise do cristianismo no Brasil e no mundo, quem sabe seria hora de examinar honestamente os princípios do sistema de vida ou da cosmovisão Calvinista e ver se eles teriam o mesmo sucesso se observados por nós.

2ª Palestra: Calvinismo e Religião

É fato inegável que o calvinismo nesta área ocupa posição única e particular tendo em vista que ele criou a sua própria confissão, sua própria teologia, sua própria organização eclesiástica, sua própria disciplina eclesiástica, sua própria liturgia e sua própria práxia moral (conduta moral). E isso é o produto lógico de seu próprio pensamento básico que é provado pelas constantes investigações históricas.

O modernismo, no entanto se mostrou infrutífero nesta érea mesmo imprimindo esforços porem sabia que a Religião precisava de uma nova forma de vida, tanto na Europa como na America. Com o recuo do Materialismo das classes da ciência um tipo de piedade vazia novamente está exercendo sua atração dia a dia tornado na moda banhar-se no seu rio morno de misticismo. E a proposta era que sobre as ruínas do puritanismo fosse erguido uma nova religião, um novo ritual que deveria estrear como uma evolução suprema da vida religiosa. Tudo isso por promessa nos foi dado contudo sem que até agora nada tenha sido de fato concretizado mostrando assim a incapacidade deste modernismo em produzir algum fruto.

Já Calvino levantou todo um edifício muito bem estruturado e embasado nas escrituras que por três séculos e para cinco nações ele ofereceu: direção para a vida, o elevar do coração ao Pai e Santa Paz. Isso se deve a Religião como tal, como ela é manifestada na vida e por fim seu fruto na vida pratica.

A posição do calvinismo segundo Kuiper a respeito dos grandes problemas da religião se resume assim: “em cada um dos quatros grandes problemas da religião o Calvinismo tem feito aquela escolha que mesmo agora após três séculos, satisfaz a procura mais ideal e deixa o caminho aberto para um desenvolvimento sempre mais rico.”

1. A religião por Deus e para Deus demonstrando a soberania de Deus, não existindo mais em função do homem.

2. A religião é a obra imediata da ação de Deus no coração do homem a isso chamamos de doutrina da eleição, eliminando as intermediações entre Deus e o homem por qualquer criatura.

3. A religião é universal e não parcial isso é a graça comum ou universal.

4. A religião é sotériologica, pois nossa condição pecaminosa não permite que a religião seja normal por isso esta é a posição do duplo dogma da necessidade de regeneração e sola scripturae o conceito do Calvinismo sobre a igreja de Cristo em sua forma organizada e apresentada em três estágios sucessivos: a essência, manifestação e propósito da igreja na terá.

A igreja em sua essência é um organismo espiritual incluindo céus e terre. “Deus criou o cosmo geocentricamente, isto é, Ele colocou o centro espiral deste universo em nosso planeta e produziu todas as divisões de reinos da natureza sobre esta terra, para culminar no homem a quem, como portador de sua imagem, Ele chamou para consagrar o cosmo para sua gloria.”

A manifestação da igreja. “se apresenta em diferentes congregações de crentes, grupos de confessores vivendo em alguma união eclesiástica em obediência as ordenanças do próprio Cristo.”

O propósito da religião não é como garantia de nossa salvação, mas antes para a glorificação de Deus, porém não se encontra em nós, mas em Deus e na gloria do Seu nome. Contudo somente o serviço puramente espiritual do calvinismo objetiva a ordenança pura a Deus e sua adoração em espírito e em verdade.

Resumindo, “a origem da igreja está em Deus, sua forma de manifestação é de Deus e, desde o começo até o fim, seu propósito é e continua sendo magnífica a gloria de Deus.”

“Somente é verdadeiro calvinista e pode levantar a bandeira calvinista aquele que: em sua própria alma pessoalmente foi tocado pela majestade do altíssimo e submisso ao poder esmagador de seu amor eterno ousou proclamar este amor majestoso em oposição a satanás, ao mundo e ao mundanismo de seu próprio coração, na convicção pessoal de haver sido escolhido pelo próprio Deus e, portanto, devemos agradecer a ele e a ele somente por toda a graça eterna.”

3ª Palestra: Calvinismo e Política

Este assunto é muito importante, antes de tratarmos dele, se faz necessário uma breve referência histórica. Algumas pessoas afirmam que o pensamento reformado talvez até tenha um bom sistema teológico, mas negam que tenha um programa político que ofereça além do que algumas verdades gerais a respeito da soberania de Deus em todas as áreas da vida, e da ênfase que os cidadãos devem à obediência ao governo, chegando a afirmar que o Calvinismo nunca desenvolveu seu próprio sistema político, e quando concebem que ele o fez, afirmam que consiste em simples teorias abstratas que nunca foram aplicadas no campo político para provar se funcionam ou não.

Para o cristão reformado, a Bíblia é a sua única regra de fé e pratica. Por isso

também é sua regra de fé na área da política. Isto se torna mais claro quando

compreendemos que Deus é soberano em todas as coisas. Portanto, sua palavra também é lei para o mundo político. Ao adotar a Bíblia como fundamento das ciências políticas, o cristão reformado assume uma posição singular, porque a maior parte dos outros sistemas não tenta basear sua opinião na Bíblia. Para eles a última palavra em assuntos do estado não tem a Bíblia, mas a vontade da massa, o sentimento de justiça do indivíduo dos direitos naturais. O cristão reformado entende que a vontade de Deus é determinante para as opiniões a respeito do estado.

A Bíblia não declara que o governo deveria ser uma monarquia, ou uma

aristocracia, ou uma democracia. A Bíblia oferece princípios eternos que devem delinear todos os sistemas políticos. Estes princípios estão, não encontrados em textos isolados, senão que em toda Bíblia.

O que atua a partir de uma cosmovisão calvinista insiste que os princípios da Palavra de Deus são aplicáveis não só a ele, mas a todos os cidadãos, assim como Deus deve ser reconhecido como soberano por todos, sendo que assim o desejem ou não, também a Bíblia deve ser determinante para todos. Estes princípios devem guiar especialmente a vida do cristão. Ele não só declara que sua alma pertence a Cristo pela eternidade, mas a tudo que se refere a sua vida temporal também pertence ao seu fiel salvador Jesus Cristo. A ele, portanto, lhe deve obediência em todas as áreas da vida.

O estudo dos vários aspectos da teoria política reformada mostrará claramente o tremendo proveito que existe em adotar a Bíblia como regra incondicional de fé e vida, assim como para questões políticas.

Abraham Kuyper foi um homem que adotou a visão calvinista como seu lema, e segundo JONES (1970), a obra deste homem “se ergue como um grande monumento à única oposição verdadeira a toda a idéia que está por trás da Revolução Francesa.”

A Revolução Francesa, ocorrida no final do século XVIII, colaborou com essa dicotomia. Criando sua própria religião, chamada a princípio de “Culto à Razão” e depois de “Culto ao Ser Supremo”, seus líderes achavam que a ciência e a razão inaugurariam uma nova era, tendo então uma política fortemente anti-cristã. Tudo que era cristão foi abolido. O homem se tornou o centro, não Deus. Não somente em questões ligadas ao Estado, como também em questões da religião. As antigas datas religiosas eram substituidas por um antropocentrismo exarcebado, cultuava-se simultaneamente Jesus, Sócrates, Rousseau e Voltaire. O lema francês desta época era “Nem Deus, nem mestre”. Outras nações também foram afetadas por essa ideologia, a vizinha Holanda, anteriormente uma fortaleza da fé bíblica, também foi influenciada por estes acontecimentos.

A Falta De Uma Visão Calvinista E Suas Influências Na Sociedade

Uma cosmovisão pode ser boa ou ruim. Precisa ser submetida a testes que verificará a sua coerência com a realidade. Uma pessoa com uma má cosmovisão será um problema grave na sociedade.

Não estamos de acordo com a visão de que a política é mal e que as pessoas devem estar fora e afastados do processo político. Cremos que as pessoas deveriam pressionar as declarações do Senhorio de Cristo na política assim como na família, a igreja, a educação, os negócios, a economia, as artes, e em toda parte da Sociedade.

Qual deveria ser o perfil de uma pessoa para se envolver com a política?

Precisamos cada vez menos de pessoas despreparadas, amadoras, ingênuas ou desonestas, que são eleitas por um voto corporativista, para representar os interesses particulares. É necessário que sejam pessoas preparadas, que também tenham uma formação bíblica sólida e abrangente, que tenha uma cosmovisão cristã e que possam ir ao centro de decisão (sejam eles simples associações comunitárias, sindicatos, partidos políticos, assembléias legislativas ou palácios do governo) como fiéis representantes de Jesus Cristo, para a glória do seu nome, e para o bem comum da sociedade. Como Abraham Kuyper, precisamos de homens que tenham o desejo de ter uma sociedade

forte, ortodoxa, disciplinada e justa. Que tenham o seu lema: “Estimar a Deus como tudo, e todos os outros como nada.” Isso não significa desprezar as pessoas, mas valorizar a Deus como Senhor absoluto sobre todas as coisas. KUYPER (2002): Se o homem não tivesse pecado, nós não necessitaríamos de magistrados e também de uma ordem do estado. Mas devido às conseqüências do pecado necessitamos de uma organização especial. Por exemplo, exército, marinha, magistrados civis, etc. Isso tudo porque vivemos em um mundo caído, desonesto e especialmente injusto. Uma ordem é fundamental. Sobre isto nos orienta KUYPER (2002): “A glória de Deus exige que estes horrores sejam refreados, que a ordem retorne a esse caos, e que uma força compulsória, de fora, faça-se valer para tornar a sociedade humana uma possibilidade”.

Se vivêssemos ainda hoje, sem pecado, não haveria dúvidas a respeito do caráter do estado ideal. Seria um estado mundial, um Reino Mundial de Deus, mas sabemos que esse não era o propósito dele. De fato, para refrear a maldade do ser humano, Deus dividiu os povos em diferentes nações e línguas no episódio da torre de Babel.

Sobre isso nos Podemos dizer que Calvino se opunha que os estados fossem muito grandes, a fim de evitar perigo inerente de uma concentração de poder de um governo. Da mesma maneira, o pensamento reformado não favorece a idéia de um estado mundial em um mundo pecador. Muito menos favorece algum tipo de governo específico, seja uma monarquia, aristocracia, democracia, e nenhum outro tipo de governo.

A Biblia nos diz que nao existe autoridade que nao seja instituida por Deus, ou seja, as que existem foram estabelecidas por ele. Dado que a Bíblia nos diz que Deus governa por meio de vários tipos de governo. Creio que a pergunta mais importante é: Qual é o tipo de governo que necessitam os homens caídos? Estamos convencidos que resposta dependerá um pouco da idiossincrasia de cada país, ou seja, em alguns países um sistema de governo funcionará melhor. Por isso, a resposta mais coerente é que, se as pessoas são boas, qualquer tipo de governo será bom, se as pessoas são depravadas

qualquer tipo de governo será ruim.

Vale a penar notar que CALVINO (1985) nas suas Institutas, favoreceu o governo aristocrático, ou a combinação de aristocracia e democracia. Mas, em seus últimos comentários publicados entre 1550 e 1560, e especialmente em Deuteronômio e Samuel – Calvino se declara mais diretamente a favor do tipo de governo democrático.

Outra pergunta que seria importante: Deveria existir um estado cristão? Tem sido uma pergunta que tem levantado grandes conflitos. A resposta não é tão simples, depende do que significa o termo cristão. Estamos de acordo que o espírito cristão deveria exercer influência sobre o Estado. A grande questão é: Deus é o soberano rei do universo, sendo assim, sua Palavra devia ser lei até os confins da terra. E o estado não deveria ser ateu, muito menos neutral.

Se Deus é o supremo governante, nenhum homem deveria insistir que a religião seja uma questão particular, separadas das esferas sociais, educacionais, políticas ou de qualquer outro tipo. O pensamento calvinista é claro nesse sentido: Deus deve reinar em tudo

Um Modelo De Cosmovisão Aplicada Na Educação E Política

João Calvino com sua cosmovisão influenciou muitos homens. Um deles foi Abraham Kuyper, que em seus esforços para reformar a igreja, entendeu que a educação teológica era da maior importância, e a Universidade Livre de Amsterdã foi a resposta ao liberalismo que havia infectado as faculdades da Igreja Reformada. Quando a Universidade Livre iniciou suas atividades em 1880, Abraham Kuyper declarou em seu discurso inaugural: “Não existe sequer um centímetro de nossa natureza humana do qual

Cristo, que é soberano de tudo, não proclame ‘Meu!’” Ele dizia que o cristão “não pensa por um só momento em se limitar à teologia e à contemplação, deixando as outras ciências como personagens inferiores, nas mãos dos não-crentes” pelo contrário, “considerando isso como seu tema para conhecer Deus em todos os seus trabalhos, está consciente de ter sido chamado para penetrar com toda a energia do seu intelecto nas questões terrestres, tanto quanto nas questões celestiais”. Sua mensagem estava baseada em Isaías 48.11: “A minha glória não darei a outrem”, indicando que quando nos omitimos na esfera educacional, deixando que o inimigo de nossas almas proclame as suas filosofias abertamente e sem contestação, enquanto passivamente assistimos seus avanços em todas as esferas, estamos fazendo justamente o que Deus expressa não permitir: deixamos que sua glória fosse dada a outrem. A Universidade acima citada foi fundada como meio principal de promover uma reforma na igreja e na sociedade, alcançando “a restauração da verdade e da santidade no lugar do erro e do pecado.” Por acreditar que toda verdade vem de Deus, e que cada centímetro da criação pertence a Cristo, ele não apenas estabeleceu uma escola de teologia, mas uma

universidade na qual todo o currículo, todas as artes e ciências eram parte de uma cosmovisão bíblica. Kuyper ensinou ali teologia, homilética, hebraico e literatura. Isso é um exemplo de quem aplicou os princípios de uma cosmovisão calvinista!

Sua crescente preocupação acerca das questões sociais e políticas da Holanda lançaram-no na vida política. Em 1874 foi eleito ao parlamento como representante do recém-formado Partido Anti-Revolucionário, que foi o primeiro partido político moderno da Holanda. Para se candidatar, afastou-se do ministério. Em 1900, o partido Anti-Revolucionário chegou ao poder, e Kuyper se tornou primeiro-ministro. Seus alvos políticos abrangiam a extensão do voto, o reconhecimento do Estado sobre o direito dos cristãos de conduzirem suas próprias escolas e uma legislação social que ajudasse a proteger o povo trabalhador. Em 1905, após uma amarga campanha eleitoral, perdeu seu

mandato, mas continuou a exercer sua influência política como redator de um jornal político. O objetivo deste diário era: “Elucidar todos os fatos concernentes ao problema social..., abrir os olhos do povo para um governo que, de um lado, provoca uma revolução que em seguida sufocará com sangue e, de outro lado,

causa condições sociais tão anormais que boa parte da população mal

consegue sobreviver”

Ele escreveu neste jornal até pouco antes de sua morte, em 1920. Kuyper disse: “O medo da política... não é cristão e não é ético”. Apesar de ter perdido as duas primeiras eleições que participou, não desistiu. “Conosco, o que importa não é a influência que temos agora, mas a que teremos daqui a cinqüenta anos... Quantos da próxima geração serão seguidores dos nossos princípios?” Sua teoria social e política da soberania de Deus sobre todas as esferas da vida humana é uma tentativa de limitar o poder de um Estado totalitário. Em seu pensamento, cada esfera da vida humana (Família, Igreja, Estado) tem sua própria área de responsabilidade, que é derivada diretamente de Deus, e as pessoas dentro de cada esfera, são responsáveis apenas perante Deus. Este princípio foi um baluarte contra toda forma de totalitarismo. Ele entendia, então, que a função do Estado era preservar na sociedade a justiça de Deus, como revelada em sua Palavra.

Neste tempo, quando pensamos em ação social, podemos aprender do

pensamento de Kuyper nesta área. Em 1871, deixou clara a compreensão de sua tarefa: Lutar contra um mal social isolado ou resgatar os indivíduos, embora excelente, é muito diferente de agarrar o problema sócio-econômico em si com o sagrado entusiasmo da fé”, reconhecendo que os interesses comerciais, e não apenas os governamentais, podem oprimir os pobres. Falando no Parlamento, em 1874, defendeu a elaboração de um código de Leis que protegessem o trabalhador, numa época em que tais códigos não existiam. Em seguida, tirou do bolso um Novo Testamento e leu o texto de Tiago 5.1-11. Em meio à reação escandalizada, disse: “Se eu mesmo tivesse falado essas palavras, que lhes parecem radicais e revolucionárias, vocês poderiam se opor. Mas foram escritas por um apóstolo do Senhor. Como pode, pois, alguém confessar a Cristo e não defender o trabalhador quando reclama?”

Em outra ocasião, afirmou: “Quando ricos e pobres se opõem uns aos outros,

[Jesus] nunca fica do lado dos ricos, mas sempre do lado dos pobres... Ele se colocava invariavelmente contra os poderosos e aqueles que viviam luxuosamente, e a favor dos que sofriam e eram oprimidos.” André Bielér, professor de Ciências Econômicas da Universidade de Genebra, Suíça, diz:

É certo que o Evangelho não deixa de encorajar à paciência aqueles que sofrem injustiças ou que são oprimidos... Mas ter-se-á uma idéia muito falsa da doutrina evangélica se pensar que a paciência e a caridade cristãs sejam sinônimos de passividade diante da desordem social, de complacência para com a injustiça ou de indiferença diante da tirania. Muito pelo contrário. A luta contra toda forma de opressão, seja política, econômica ou social, é uma das exigências da Reforma, e decorre diretamente de sua teologia e de sua concepção do homem.

Concluímos a nossa pesquisa na certeza de que o modelo do Calvinismo nos obriga a refletir e assumir o nosso legado na Educação e política da nossa nação.

Cremos que a cosmovisão cristã unifica as crenças de uma pessoa num sistema coerente e bíblico. As crenças básicas da cosmovisão cristã fornecem uma estrada abrangente, coerente, consistente e atrativa pela qual se pode viajar ao longo da vida.

A cosmovisão cristã fornece um guia para a vida prática. O Cristianismo é designado por Deus para operar na vida real, não apenas hipoteticamente. Quando as crenças e valores da cosmovisão cristã são aplicados à vida real, elas funcionam.

Quando nós vemos a vida pelas lentes da história divina da criação, queda, redenção e consumação, o mundo faz sentido.

A cosmovisão cristã fornece as ferramentas necessárias para discernir a verdade do erro. A Escritura e a auto-revelação de Deus na criação nos provêm o conhecimento de que necessitamos para tomar decisões sobre o que é e o que não é verdade.

Homens impulsionados pela cosmovisão calvinista marcaram diferenças na sociedade, e continua a marcar, quando interpreta o mundo do ponto de vista de Deus. A cosmovisão Calvinista também é o ponto de partida para uma nova relação com o mundo, tendo em vista que o mundo é gerado como criação de Deus, alvo da sua graça comum e palco da manifestação do seu senhorio e de sua glória.

A importância de escrever sobre esse tema se deu porque realmente tínhamos varias perguntas com relação à atuação do cristão na educação e política. É maravilhoso ver como o Calvinismo resgata todas as coisas para o governo de Deus, ou seja, reivindica que todas as vocações devem ser desenvolvidas para a Glória dele. Assim sendo, todo professor que assumisse esse papel, certamente a educação seria levada mais a sério. Ela não seria desenvolvida como um fim comercial, mas como uma vocação. Ao passo que cada aluno, por sua vez também deixaria de ser passivo e sua motivação seria mais que ter uma formação ou um “simples” diploma, mas estaria comprometido com a visão de que devemos fazer sempre o melhor, não para os homens, mas para a gloria de Deus. Tudo seria diferente.

Aprendemos que o estado foi originalmente instituído por Deus para velar pelos interesses culturais que devemos realizar concomitantemente, a distinção das tarefas que pertencem ao individuo, a família, e qualquer espera que desenvolva a partir de interesses particulares. Que o estado conteporâneo nao é a continuaçao doReino de Deus. Porque o reino de Deus é sobrenatural, plantado por Cristo sobre essa terra pela graça especial. Este Reino será consumado sobre essa terra depois do juizo final.

Mesmo que devemos evitar toda utopia e falsas expectativas, isto não significa que devemos atuar na arena política sem esperança nenhuma. Temos muitas esperanças, porque cremos nas promessas do Senhor feitas aos seus discípulos quando ele dizia: Animem-se! Eu venci o mundo e os fareis vencedores! Sabemos que haverá Novo Ceu e Nova Terra e que ali habitará a justiça.

A nossa esperança política deve ser na pratica o desejo da ONU, expressado em sua sede em New York, no seu edifício, a visão de Isaias 13 sobre o Reino do Messias: “Ele julgará entre povos e corrigirá muitas nações; estas converterão suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará espada à outra nação, nem aprenderão mais a guerra”

O que Kuiper trata nesta palestra é que o Calvinismo não é somente um movimento eclesiástico e dogmático mas que alcançou a raiz da vida humana a tal ponto que coloca debaixa da sociedade política sua concepção fundamental.

Isso se torna notório, pois nenhum esquema político jamais teria se tornado dominante se não fosse fundado numa plantaforma religiosa ou anti-religiosa. E isso ficou claro em relação ao calvinismo nas três nações: Holanda, Inglaterra e America.

A própria opinião publica bem como os estudiosos científicos tem admitido que o Calvinismo em três continentes inicialmente hoje porem crescendo entre as nações civilizadas levou a lei pública a novos caminhos.

O Calvinismo penetrou nas concepções políticas fundamentais fazendo-as nascer de seu principio radical. Mas esse princípio dominante não era soteriológico porem cosmológico mais amplo, “a soberania do Deus Trino sobre todo cosmo, em todas as esferas e reinos, visíveis e invisíveis.” Ela e demonstrada de três formas: 1. Soberania no Estado; 2. Soberania na Sociedade e 3. Soberania na Igreja.

A Soberania no Estado

O homem foi criado com um senso de relacionamento com uma natureza social Platão disse ser o homem um ser político.

O homem é organicamente unido formando uma humanidade porem vista como raça, portanto toda a raça humana é de um mesmo sangue.

O Estado porem subdivide a terra em continentes, países, estados e assim por diante fragmentando sua unidade devido a ação direta do pecado. Se o pecado não tivesse ocorrido a humanidade seria constituída de um só império. O erro dos grandes conquistadores foi o de querer implantar esses sistema esquecendo-se que o pecado deteriorou essa unidade orgânica de nossa raça.

Muito embora as várias políticas tentem alcançar esse ideal inatingível por esforços constantes num mundo pecaminoso sabemos que não atingiram suas metas. A desesperada utilização da anarquia em destruir as conexões mecânicas entre os homens anulando toda autoridade para daí fazer nascer da natureza uma nova união é por si só absurda se não levarem em consideração o pressuposto do paraíso perdido.

A própria existência de uma ordem política se dá pelo fato de ter o pecado uma forte atuação no caráter do homem fazendo-se necessário que este estado tenha suas regras, ordenanças e leis que sem as quais tudo desapareceria em virtude da fragmentação do próprio individuo pecaminoso.

Daí a necessidade de Deus instituir o magistrado por causa do pecado. A grande luta entre Autoridade e Liberdade tem rendido séculos de embate sem contudo chegarem a um consenso mesmo porque não há, pois as aspirações mais profunda da natureza do homem e de se rebelarem a toda Autoridade estabelecida em nome da Liberdade.

Vemos aqui dois lados de uma mesma moeda, um sombrio e outro claro. O sombrio diz que a grande quantidade de estado não deviria existir e sim um só império mundial. Eles governam mecanicamente desarmonizando-se com a nossa natureza sendo exercida por homens pecadores e sujeitos a todo tipo de ambição despótica. Já o lado claro também formado de homens pecadores sem divisões de estados, leis e governos, sem autoridades governantes seria um pandemônio só retrato da humanidade nos tempos de Noé. Mas o calvinista nos dá duas perspectiva de vida validas: 1. Que devemos ser agradecidos por Deus usar de sua prevenção para conosco como fator indispensável através do estado e de seus magistrados. 2. Tendo em vista nossa natureza temos que duplamente vigiar tanto os que governam como nos mesmo para não cairmos em extremos.

Segundo Kuyper o calvinismo tem feito com que o homem deixe de olhar para si como alguma coisa e passar a considerar Deus o motivo de sua existência. Pois o pecado coloca o homem em oposição a Deus fazendo-o cruel e dominador usando da força como instrumento para subjugar seu semelhante. Contudo a fonte de autoridade do homem está em Deus e Sua soberania não vinculada a forma mais sujeita somente a obediência a Deus.

4ª Palestra: Calvinismo e ciência

Kuyper mostra aqui quatro pontos: 1. O Calvinismo encorajou, e não poderia fazer outra coisa senão encorajar, o amor a ciência. 2. Que ele restaurou para a ciência seu domínio. 3. Que ele libertou a ciência de laços artificiais. E 4. De que maneira ele procurou e4 encontrou uma solução para o inevitável conflito cientifico.

A. O Calvinismo encorajou o amor pela ciência

O cerco de leyden foi um evento que marcou não só o calvinismo como também o mundo porem Deus agiu de uma forma tal que todos sem exceção foram para casas de orações agradecer a Deus por essa vitoria porem vencidos pelo cançaso apenas susurravam e choravam o fato e que o calvinismo provou seu amor fundando ali em leyden uma universidade de ciências.

O tema de diversas ciências pode ser agrupada a um titulo e serem conduzidas sob influencia de um principio por meio de teorias ou hipóteses, e finalmente a sistemática como rainha das ciências, sai do recinto para organizar os vários e diferentes resultados em um todo orgânico. O fato é que necessitamos de uma unidade de conceito.

É justamente isso que a fé Calvinista nos garante com a Predestinação de Deus em seus Decretos em geral, crer na predestinação não é colocá-la como base dos decretos de Deus, mas que os Decretos de Deus estão tão ligados a vida humana que aplica a Soberania de Deus em nos. Soma-se a isso a profunda certeza de que nossa existência e o curso de todas as coisas estão sujeitas à lei e a ordem alicerçada na vontade firme que põem em pratica seus desígnios na natureza e historia. O resultado é que somos impulsionados a ver uma unidade solida toda compreensível onde tudo é governado, que o geral está contido no especial sem falar que não podemos dizer que não exista estabilidade e regularidade governando tudo isso.

Entendemos então que o cosmo é uma construção fenomenal rigorosamente constituída sob uma concepção ordenada e harmonicamente dispostas. Se pensarmos o contrário disto caímos no erro de acharmos que o homem pode mudar algo ou alguma coisa com base na sua vontade, isso com certeza acabaria com toda a regularidade das coisa deixando a própria ciência sem suas principais ferramentas que são o desenvolvimento e a continuidade que por sua vez dão suporte a averiguação de conexão e planos dos fatos na história.

Prezamos, portanto a idéia de unidade e estabilidade na raça humana. O próprio desenvolvimento da ciência pressupõe um cosmo que não se torna vitima dos caprichos do acaso, mas que existe e desenvolve-se a partir de um princípio segundo uma ordem estável, visando um plano fixado.

Considerando os Decretos de Deus como o fundamento das leis naturais, do mesmo modo encontramos neles o fundamento e a origem de toda lei moral e espiritual que juntas formam uma ordem superior segundo o mandato de Deus.

Sem a profunda convicção desta unidade, estabilidade e ordem de coisas a ciência e incapaz de ir alem de meras conjecturas. Somente quando há fé na conexão orgânica do universo. Então a ciência alcançará a partir da investigação empírica dos fenômenos especiais a geral, do geral para a lei que governa acima deles e desta lei para o principio que domina sobre tudo. Mesmo com o descrédito destas verdades por parte do semipelagianismo não há quem não possa perceber que o impulso para empreender investigação científica se originou no calvinismo recém-nascido.

Por causa do amor ao Conselho do Decreto o Calvinismo foi ultrajado e caluniado e ate mesmo acusado de fazer de Deus o autor do pecado. Eles não sabiam o que faziam. Contudo o Calvinismo se manteve firme em sua convicções de que toda a vida humana deve está sobre influencia da unidade, solidez e ordem estabelecidas pelo próprio Deus. Isto é responsável por sua necessidade de unidade de discernimento, firmeza de conhecimento, ordem em sua cosmovisão encorajado entre nós, até mesmo nos círculos distantes do povo comum, e esta evidente necessidade é a razão pela qual uma sede por conhecimento foi estimulada, a qual, naqueles dias, em parte alguma foi satisfeita numa medida mais abundante do que nos países calvinistas. Isto explica porque é que nos escritos daqueles dias vocês encontram uma determinação, uma energia de pensamento, uma concepção de vida compreensiva como estes.

B. O Calvinismo restaurou para a ciência ao seu domínio

O Calvinismo sem perder sua visão do espiritual nos conduz a uma relação com a ciência cósmica. Diferentemente dos gregos que não tem essa visão espiritual e da idade media que apesar de ter essa visão são cegos em relação as coisas cósmica. Foi o Calvinismo que mostrou-nos o caminha da cruz para a criação por meio da graça comum.

A religião cristã é soteriológica, ou seja, salvífica. E é de difícil compreenção para que vê a terra se conexão orgânica e moral com a vida do por vir. A unilateralidade e um erro se aplicada a religião cristã, o dualismo da regeneração onde os dois, o natural e o espiritual tem a sua distinção abraça-se o espiritual e despreza-se o natural e essa concepção unilateral tem colocado Cristo como salvador, mas sua significância cosmológica se perdeu na consumação.

A visão de Calvino era de que tanto a existência espiritual do salvo como a restauração do cosmo inteiro tem seu significado amplo e abrangente quando Deus será tudo em todos debaixo dos céus e terra renovados.

A salvação do homem realmente não tem preço, contudo se comparada a gloria de Deus em restaurar todas as coisas, pois são frutos de suas mãos criadoras é imensurável.

O calvinismo vê dois meio de conhecermos a Deus um é através das escrituras e o outro pela natureza. Sendo que as escrituras servem de óculos para que possamos entender o pensamento Divino.

O Calvinismo a respeito do Dogma da “Graça Comum” nos diz que apesar do homem natural não regenerado ser mau e repulsivo tem suas vantagens em relação a nos regenerados.

É o caso de muitas civilizações com seus tesouro intelectuais podendo ser citado aqui: Platão e Cicero que em suas áreas contribuíram para o processo histórico cientifico. Outros em nosso próprio ambiente se apresentam confrontando-nos com suas “virtudes”, envergonhando-nos ou despertando uma sertã admiração. O fato e que a depravação total nen sempre combina com a experiência de vida. Os Catolicos terntam explicar essa conotação como uma reconciliação entre o dogma da queda e o estado real das coisas ao nosso redor, e sobre esta notável antropologia é fundamentada a religião Catolica romana.

Já o Calvinismo explica esse processo do “dogma comum” como sendo uma ação de Deus em refrear a ação do pecado que ocasionaria na degeneração total da vida humana não que essa ação de Deus tenha como objetivo o de aniquilar a essência do pecado ou salva para a vida eterna, mas impede a ação completa do pecado do mesmo modo como o discernimento humano impede a fúria de animais selvagens: colocando-os em grades, sujeitando-os a sua vontade, dominando-os e tornando-os atrativos, domesticando-os.

Assim Deus age, limita a ação do pecado ora quebrando seu poder ora domando seu espírito mau ora domesticando sua nação ou família. Como os animais domesticados, o homem não regenerado cativa-nos e atrai-nos pelo que há de belo e cheio de energia nele assim. No entanto se colocarmos na floresta o animal se tornara selvagem como originalmente o era, da mesma sorte o homem sem a ação da “graça comum” se degenerara ate sua aniquilação total.

O Calvinista entende que é um pecador culpado diante de Deus e que só sua misericórdia dá entendimento das coisas do mundo.

C. O Calvinismo promoveu a liberdade da ciência

A verdadeira liberdade da ciência se dá quando essa se mantém na mais intima conexões com seu assunto e obedece estritamente as reivindicações de seu próprio método, pois a liberdade de todos os laços artificiais que não estão enraizados em seu princípio vital não consiste em licenciosidade ou ilegalidade.

A transgressão da liberdade naquela época veio pelo fato de só existirem dois poderes, a saber, A Igreja e O Estado dando uma idéia dicotômica da vida no corpo e alma onde a igreja era a alma e o estado o corpo, a igreja tendo como cabeça o papa e o estado o imperador.

As universidades eram corporações livres e modelos de muitas na americana questão era que tanto o papa como o imperador olhavam para a universidade inteiramente independente com suspeita e isso foi resultando numa tentativa de controle com base em regras isso não teria dado certo se a competitividade entre as universidades não tivesse enfraquecido seu corpo tendo-se de apoiar-se num dos dois poderes já estabelecidos, deste modo a ciência renunciou seu caráter independente e rendendo-se a igreja.

A reforma quebrou essa dependência dando a ciência espaço para agir de tal forma que seu diploma de doutor não mais sofria opinião nem do estado nem da igreja mas somente de seu caráter institucional. Deu-se então uma perseguição por parte da igreja a liberdade de expressão arrastando seus estudiosos a tribunais limitando as ações dos que se mantinha em silencio, ou seja, daqueles que não queriam conflitos e dos mais impetuosos cortavam-lhes as asas porem se tentassem voar torciam-lhes o pescoço sendo considerados como criminosos eram entregues nas mãos da inquisição e posteriormente ao cadafalso.

O calvinismo com a “Graça Comum” deu suporte a ciência abrigando-a sob sua proteção afirmando que a igreja deveria retira-se para o campo da “graça particular” deixando a ciência no vasto campo da “graça Comum” o exemplo disso foi Rene Descartes que sendo perseguido na França encontrou asilo na Alemanha entre os calvinistas.

O Calvinismo chamou a cristandade de volta para a ordem da criação: “repovoar a terra, subjugá-la e ter domínio sobre tudo quanto vive sobre ela”. Este novo nascimento da vida nacional despertou novas necessidades. A fim de subjugar a terra era indispensável um conhecimento da terra, conhecimento de seus oceanos, de sua natureza e dos atributos e leis desta natureza.

D. O calvinismo apresenta solução ao conflito cientifico

A ciência muito embora enfrente seus conflitos pessoas de idéias e opiniões internamente tem um conflito principal em todo o mundo: os que são partidários da confissão de um Deus trino e sua palavra e os que procuram a solução do problema do mundo no Deísmo, no panteísmo e no naturalismo.

Não existe conflito entre a fé e a ciência, toda ciência num certo nível parte da fé e a fé sem a ciência e equivocada ou superstição, mas não é fé real e genuína.

A divergência ideológica aqui não esta centrada na fé e a ciência, mas sim no Cosmo como existe hoje sendo “normal” ou “anormal’ se é normal acredita-se que ele desenvolve-se de forma evolucionaria e eterna de sua própria potencia ate seu ideal, mas se for anormal então um distúrbio aconteceu no passado e somente um poder regenerador pode garantir o alcance final de seu alvo.

A percepção individual que está contida no homem pode se manifestar a favor ou contra, mas, contudo o fato de existir uma consciência humana e por si uma realidade muito embora alguns neguem a voz da consciência.

A consciência do pecado a certeza da fé e o testemunho do espírito Santo são elementos constituintes da consciência de cada calvinista. Porem temos de reconhecer que essas duas forma de consciência existam a do regenerado e a do não regenerado.

Os normalistas tentam desesperadamente arrancar de nos essa concepção de autoconsciência que nos empurra para Deus. As posições anormalistas eram consideradas axiomas para toda a ciência, em quase todas as universidades. Os normalistas que se mostravam contrários ao principio de seus rivais tinham dificuldades de achar uma cadeira profissional. Mas atualmente a historia é outra os papeis se inverteram

Devemos ter sistemas na ciência, coerência na instrução, unidade na educação. Só é realmente livre a ciência que, enquanto está estritamente limitada a seu próprio princípio, tem o poder de livrar-se de todos os laços artificiais. O resultado final, portanto, será, graças ao Calvinismo que abriu para nós o caminho, que esta liberdade da ciência também triunfará finalmente; primeiramente garantindo pleno poder para cada sistema de vida dominante fazer uma colheita científica de seu próprio princípio; - e em segundo lugar, rejeitando o nome de científico a qualquer investigador que ousar não expor as cores de sua própria bandeira, e não mostrar, adornado sobre seu escudo em letras de ouro, o próprio princípio pelo qual ele vive, e do qual suas conclusões derivam seu poder.