Um Grito Vindo da Rua (Resenha do meu livro que não foi publicado)
No ramerrão do dia-a-dia, com os pés fincados em ônibus velhos, nos Metrôs o no acelerador do carro, muitas vezes esquecemos quem somos. Mergulhamos no nosso interior resolvendo mentalmente problemas matemáticos, amorosos, financeiros; problemas do trabalho, da faculdade; dos filhos e dos pais; do final de semana e da segunda-feira. Os sentimentos, as emoções, as sensações oscilam, se revezam, intercalam-se como as cores que um prisma gera quando girado contra a luz. Neste ostracismo – muitas vezes auto-imposto – construímos castelos de loucuras, de megalomanias, de auto-depreciação; quimeras libidinosas são geradas; pelo reflexo dos vidros dos meios de transporte flertamos com alguém que parece ser compatível conosco e miríades de fantasias são trabalhadas durante o trajeto; tem que se aproveitar esses momentos, pois, não demora muito o trânsito se põe em movimento, chega a hora de saltar do ônibus ou do Metrô e a realidade volta novamente, gritando com a sua selvageria, com seus problemas; um grito vem da rua para colocar nossos pés nos chão e nos tirar dos devaneios onde nos transformamos em pessoas melhores ou em seres odiosos. "Um Grito Vindo da Rua" trata de mostrar o reflexo do que muitos pensam, mas não sabem que estão pensando. Mostra que apesar das idiossincrasias temos muito em comum - nos atentamos a detalhes sem fazer com que eles sejam percebidos. "Um Grito Vindo da Rua" é fruto da vivência na opressora cidade grande onde telefones tocam e maridos infiéis atendem, onde baderneiros vagabundos despertam a disritmia do cérebro malsinado de um trabalhador exausto; onde mulheres incertas do que sentem traem seus homens, onde um migrante sabe mais do que o natural do estado que o acolheu em sua aventura; onde poetas nascem, onde pessoas descontentes com a vida dão cabo dela e deixam cartas que abalam as estruturas emocionais das pessoas que ficam e onde jovens desesperançosos com o amor e com a vida são presenteados pelo acaso com a subversão de suas descrenças. "Um Grito Vindo da Rua" vem com todas as suas divergências e contradições para retirar os pés do chão da realidade e fazer com que eles voltem a flutuar nos devaneios do surreal. "Um Grito Vindo da Rua" é tudo isso. E muito mais.
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Participei de um Concurso Literário de uma certa editora e essa foi a descrição que eu consegui fazer do meu livro durante uma maratona de três dias dormindo parcamente editando textos, revisando outros, escrevendo outros e blablablá que no fim não deu em porra nenhuma, pois a Editora em questão retirou seu site e todos os outros meios de comunicação do ar. Um representante dela que encontrei por acaso no fim de 2010 me assegurou que eles voltariam com tudo depois da segunda quinzena de Janeiro¹ e até agora não aconteceu nada. É exatamente deste tipo de estímulo que quem dá o sangue escrevendo e faz tudo com o maior carinho do mundo precisa. Sinceramente, não vejo a hora deste planeta explodir. Abraços!
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¹ Acabei de corrigir (17/03/2011). Antes estava "do segundo semestre de Janeiro". (Nem pra me avisarem, hein?)