Os Espiões
Luís Fernando Veríssimo


A única pista: gosto de humor.
Munido dessa valiosa - mas, meio óbvia - informação a meu respeito, meu amigo secreto Francis Toyama saiu à caça de meu presente.
Ao abrir a embalagem em casa, gritei comigo: WIIINNEEEERRRR!* Grande ponto, amigo Francis!!
Fiquei feliz e li quase num fôlego o bom livro de Luis Fernando Veríssimo - Os Espiões, que conta a história de um escritor fracassado que acaba por se tornar editor, responsável pela seleção dos livros publicáveis na editora do amigo Marcito. Suas avaliações variam conforme o dia da semana, ou, mais especificamente, de acordo com o seu coeficiente "ressacal".
Numa manhã ele recebe um instigante envelope contendo o primeiro capítulo da história de uma mulher que se diz injustiçada e traída e que, para perpetrar sua vingança, irá escrever toda a verdade sobre seus inimigos antes de se matar. O texto, intitulado Ariadne (com uma florzinha pontuando o “i”), vem acompanhado da carta de “uma amiga” que pede segredo sobre o livro, mas se compromete a enviar os demais capítulos, se houver interesse da editora em publicá-lo.
Envolvido pelo drama suicida que, embora sem tanto valor literário, o seduz mais e mais a cada novo capítulo, ele decide salvar Ariadne da morte anunciada e, para isso, envolve um divertido grupo de amigos numa louca missão de espionagem à cidadezinha da escritora.
Aos elementos do texto que ele continua recebendo aos pedaços, vêm se juntar as descobertas dos “espiões” e essa intrincada história de suspense renderá muita emoção mas, mais ainda, muitas risadas ao leitor.
Seriam dispensáveis algumas piadas recicladas como quando ele se refere à esposa dizendo que a Julinha com quem ele se casou desapareceu dentro de uma outra Julinha, mais gorda e mais velha e nunca mais foi vista. Um pecadinho facilmente perdoável já que há tantas passagens geniais, como quando fala do temor que sente de ser atingido pelo livro de 400 páginas, capa dura, de uma escritora rejeitada por ele em uma de suas crises de ressaca e que alcançou algum sucesso numa outra editora.
Outro ponto interessante é a "view" que ele nos dá desse difícil relacionamento entre o escritor desconhecido e as editoras e mais, essa inexplicável paixão que nos leva, ainda que desconhecidos e sem grandes ambições literárias a escrever, escrever e escrever.
Curiosamente, ao desembarcar do avião no Rio, semana passada, observei que um outro passageiro carregava o mesmo livro. Faladeira que sou, comentei a coincidência e disse que é um livro “bonzinho”. Ele surpreendeu-se:
“Bonzinho”?
Ao que expliquei: “É um Veríssimo... Sempre se espera mais... Ou demais”

Winner sim, amigo Francis... Podia estar mais de lado na hora do backhand, mas que foi winner, foi!


* É o grito que se dá no tênis, quando alguém faz aquele ponto perfeito, indefensável, que o adversário sequer consegue tocar na bola.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Resenha
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