Pedagogia da autonomia - Paulo Freire
PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - Saberes Necessários à Prática Educativa - Paulo Freire (1996)
152 páginas
Editora Paz e Terra – 1ª edição – 2002 / 37ª edição – 2008.
A obra aborda a ideologia de Paulo Freire sobre a prática educativa, apresentada como um otimismo consciente e esperançoso por mudanças que privilegiem as classes menos favorecidas. Tece suas críticas sobre o sistema neoliberal por seu determinismo e condena as mentalidades fatalistas e o conformismo.
Na busca da construção da autonomia do ser, educar é construir, libertar o ser humano, reconhecendo que a História é fundamental, pois consiste nas possibilidades dessa construção que deve ser norteada pelo “pensar certo”, isto é uma reflexão crítica e prática em busca de uma ética universal. “Formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas”.
Apresenta, inicialmente, a prática pedagógica que considera necessária para que o professor desenvolva a autonomia dos seus educandos, enfatizando a necessidade do respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, uma vez que ele é um sujeito histórico-social e possuidor de vários saberes aprendidos em seu cotidiano.
O primeiro capítulo: Não existe docência sem discência, propõe a discussão sobre os saberes fundamentais para a prática educativo-crítica ou progressista, abordando a necessidade do professor estar aberto a aprender com a realidade de seus educandos e que esteja consciente de seu papel em sala de aula, o que demanda uma metodologia rigorosa de trabalho. O preparo das aulas é importante para que mostre aos alunos a importânia da pesquisa como instrumento do desenvolvimento do pensamento autônomo. O autor faz um alerta para que os professores não se acomodem na educação “bancária”, mas que estimulem a criticidade sobre as pequisas. Defende que a metodologia a ser usada em sala é aquela que melhor atender às necessidades do desenvolvimento de seus educandos, sem discriminação e sem rigidez. Para isso, o professor deve sempre rever sua prática para adequar a metodologia a ser usada e não ter receio de mudar quando for necessário. Aborda ainda que ensinar exige o reconhecimento da identidade cultural, de sua construção ao longo da história e o respeito à diversidade.
No segundo capítulo: Ensinar não é transferir conhecimento, o autor defende que o professor não é o dono da verdade, tudo pode ser questionado, pois não há conhecimento acabado, assim como o homem não está acabado. Somos eternos aprendizes, caminhantes no conhecimento, pois o ser humano é um ser condicionado que se desenvolve ao longo do tempo, conforme a história e cultura. Cabe assim ao professor levar o aluno à reflexão de sua própria existência, respeitando o momento de aprendizagem de seus alunos e a realidade em que vivem. Acredita que aqueles que se dedicam ao trabalho das licenciaturas têm espírito otimista, pois através do seu trabalho podem ajudar a melhorar o mundo. Acreditar na mudança é uma prerrogativa do educador, pois é o primeiro a mudar e, sendo exemplo, estimula seus alunos a mudarem a forma de pensar. Todo educador deve ser curioso e estimular a curiosidade, pois dessa forma poderá estimular o conhecimento em diversas áreas. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua construção”, desse modo, a reflexão crítica sobre a prática pedagógica torna-se extremamente necessária para que a relação teoria/prática seja verdadeiramente significativa.
No terceiro capítulo Ensinar é uma especificidade humana, a abordagem feita é sobre a necesidade da boa preparação e qualificação do professor para que exerça seu trabalho com segurança. Enfatiza que para o professor ajudar o educando a superar a sua ignorância, antes deve superar as suas, aprendendo ao longo do processo de ensino-aprendizagem realizado com o aluno. Para tanto é preciso que esteja aberto às apreciações dos alunos sobre, inclusive, sua prática pedagógica, pois ensinar exige uma tomada de consciência, de ações e decisões. Cabe assim ao professor exercitar a escuta para aprofundar a sua arte da docência. Ao escutar, ele dá voz ao outro. Dar voz ao outro e ouvir implicam numa postura afetiva e numa postura dialógica onde a política e a ética se fazem presentes. Daí a sua defesa de que não existe neutralidade na educação. “ É preciso que desde o começo do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado” ( 2002, p.25). Defende que o ideal seria o aluno possa participar daavaliaçãodoprofessor, pois o trabalho do professor é o trabalho com os alunos e não dele consigo mesmo.
“A responsabilidade do professor, de que às vezes não nos damos conta, é sempre geande. A natureza mesma de sua prática eminentemente formadora, sublima a maneira como a realiza. Sua presença na sala é de tal maneira exemplar que nenhum professor ou professora escapa ao juízo que dele ou dela fazem os alunos. E o pior juízo é o que considera o professor uma ausência na sala” ( 2002, p. 73)
A obra é um importante instrumento para todos os envolvidos no sistema educacional. A linguagem é simples e clara. Apresenta relatos de vivências do autor que mostram a sua esperança e paixão por educar. Longe de ser ingênua, é fruto de longos anos de experiência e reflexão séria sobre as necessidades para a realização de um processo educacional realmente valoroso na construção da autonomia do indivíduo e na construção da identidade de um povo.
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