O CURRÍCULO E A CULTURA DOMINANTE

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documento de Identidade. Belo Horizonte: Autêntica. 2002

Silva (2002) afirma que a partir de 1960 em todo o mundo surgem teorias indagando a forma e a estrutura de educação tradicional, especifico sobre o currículo. Percebemos que nessa teoria usa-se a análise marxista, onde procura-se desenvolver conceitos que permitam compreender o que o currículo faz.

O texto cita um filósofo francês Althusser, onde pontua que” a sociedade capitalista depende da reprodução de suas práticas econômicas para manter a sua ideologia” (pág.31). Este afirma que a escola é uma forma utilizada pelo capitalismo para manter sua ideologia, pois por um bom tempo atinge toda a população.

Nessa visão compreendemos que a classe dominante através do currículo transmite seus ideais através das disciplinas e conteúdos que reproduzem seus interesses, ou seja, há uma seleção do que vai ser ensinado às crianças menos favorecidas, estas acabam saindo da escola com ensino limitado e com habilidades simplesmente para serem submissas e obedientes as classes dominante.

Enquanto os estudantes de escalões superiores tem oportunidade de se expressar, praticam comando de autonomia, ou seja, são treinados para liderar enquanto a classe baixa treinada a obedecer.

Contraria à analise marxista, o funcionamento da escola e das instituições culturais não é deduzido do funcionamento da economia. Bourdieu e Passeron, vêem o funcionamento da escola e da cultura através de metáforas econômicas. Ou seja, nessa análise, a cultura não depende da economia: a cultura funciona como economia.

Para Bourdieu e Passeron, a dinâmica de reprodução cultural. É através da reprodução da cultura dominante que a reprodução mais ampla da sociedade fica garantida. Em nossa sociedade é colocado como se a cultura que tem valor é a cultura dominante, os valores, gostos, costumes, moda, maneira de se comportar, de se vestir, o modelo padrão de beleza, dentre outras coisas.

Na medida em que essa cultura vale alguma coisa, status social, vantagens materiais e simbólicas, ela se constitui como capital cultural. Bourdieu e Passeron afirmam que para se referir as estruturas sociais e culturais que se tornam internalizadas.

Esse domínio simbólico, que é o domínio por excelência da cultura, da significação, atua através de um mecanismo disfarçado que define que a única cultura é a cultura dominante, os valores e hábitos de outras classes não são considerados cultura.

Para que essa definição alcance a eficácia depende de uma importante operação, ou seja, essa definição não pode aparecer como realmente é, pelo contrário, tem que aparecer, como se não tivesse objetivo algum, ou essa definição está baseada apenas na força da classe dominante. Essa força (economicamente) permite que a classe que domina possa definir sua cultura como a cultura.

A escola nesse conceito de Bourdieu e Passeron acaba se tornando exclusiva. Porque o currículo da escola está baseado na cultura dominante: se o currículo é transmitido através do código cultural dominante. As crianças dominadas não dominam esse código, pois em toda a sua vivência não tiveram acesso a ele. Já para as crianças das classes dominantes se torna fácil compreender, porque faz parte do seu dia-a-dia, elas tem contato com essa linguagem.

Com essa assimetria, o que acontece é que as crianças e jovens das classes dominantes, irão se dar bem, no âmbito escolar e desenvolver graus superiores do sistema educacional. Em contraste, as crianças dominadas que ficam no meio do caminho, e o que acontece é que sua cultura se torna desvalorizada.

De acordo com a teoria de Bourdieu e Passeron, não se trata em dizer que uma cultura é melhor e mais viável que a outra. O que eles propõe é que exista um conceito de pedagogia racional, e que as crianças de classes dominadas possam ter uma educação, e que esta possa está inserida no sistema educacional, e que sejam consideradas a experiência familiar, essa proposta consiste em advogar uma pedagogia e um currículo que reproduzam, na escola, para as crianças das classes dominadas, aquelas condições que apenas as crianças das classes dominantes têm na família.