Pétalas, Uma antologia de bolso de Cineas Santos
 
                 Nos primeiros dias das férias, em Salvador, o presente chegou pelas mãos da bela piauiense Lívia, namorada do nosso sobrinho e dono da casa que nos hospedava. O dono do mimo não sabia onde “andava” os óculos e lá fui eu ajudar a procurar. Bem depois entrei no quarto e perguntei “é bom” e a resposta foi “É”. Guardei a resposta. Ela me seria útil para a escolha de companheiros de viagem em mais alguns dias.
               Mala pronta, coloquei o livro na bolsa e durante os cinco dias da viagem li-o umas quatro vezes. Li, sofregamente, no vôo, ouvindo bossa nova com o fone nas alturas e as lágrimas escorrendo, para espanto e consternação dos passageiros do lado. Certamente chorar e rir, sozinha, sem um motivo aparente deve ser uma cena que causa curiosidade a qualquer pessoa. Mas li também aleatoriamente, nas filas intermináveis para o almoço ou jantar durante o congresso da CNTE e, religiosamente, a cada vez que me enfiava nas cobertas no quarto do hotel, nesse meu começo de ano, em Brasília.
               Leio Cineas Santos desde a primeira postagem no blog Onde canta a Acauã    
http://coisasdojunco.blogspot.com/  do meu companheiro, onde semanalmente, nos presenteia com um texto. Presente para quem se fez seu leitor, pois é um excelente cronista,  nos emociona às lágrimas na mesma proporção que nos faz rir, com seus textos impecáveis, com seu olhar poético, bem humorado e lindamente humano, fotografando o cotidiano.
           Ler Pétalas do poeta Cineas foi como tomar um gole de água pura e fresca num meio dia de calor escaldante. Pequenos grandes poemas se espraiaram aos meus olhos ávidos, sedentos por lamber o mel do amor que escorria em cada um deles, mesmo os mais tristonhos, os mais saudosos.

Perdão, amor:
Na pressa de fruir-te inteira,
Fruto mil vezes proibido,
Eu não te disse:
O melhor de mim não se mostra. (Bilhete II)
            (...)
Deixa que eu te habite
Antes que o galo cante
E por três vezes me negues
E, para sempre, eu te renegue. (Habitar-te)
             (...)
Faz frio na Terra do Nunca
E a menina pede pouco
Colo, sopa, pão...
Presa na tela
Ela sempre será a mesma:
Triste, solitária, eterna
Com sua fome de infância. (Sempre)

 
             Pétalas é um livro excepcional, daqueles que parecem ser produzidos para presentear, encantar, pois exala um raro perfume: a beleza da alma de um homem comprometido desde sempre com a palavra, seus mistérios e encantos.
            Cada escrito que li de Cineas, prima pela qualidade, pela coerência e sabedoria de alguém que olha a vida com a ternura e a leveza que só a poesia produz. Vale destacar, ainda, que as Pétalas de Cineas publicadas nessa despretensiosa “antologia de bolso” vêm de outros canteiros. Estão espalhadas por aí em outros livros de sua lavra e como ele bem disse em uma de suas crônicas  “... em Teresina, até as pedras sabem que não respiro bem sem a minha cotidiana ração de poesia” eu cá fico torcendo para mais e mais e sempre dessa “ração” de beleza e sensibilidade.

 
Cineas por ele mesmo

Um pouco sobre mim
 
Cineas das Chagas Santos nasceu em Campo Formoso, município de Caracol (PI), em setembro de 48. Vive em Teresina desde 65. Professor, editor e livreiro, fundou, com alguns companheiros de geração, o jornal alternativo “Chapada do Corisco” (76/77). É proprietário da Oficina da Palavra e coordena o grupo A Cara Alegre do Piauí. Publicou: Miudezas em Geral (poesia); Tinha que Acontecer (contos); ABC da Ecologia (cordel); Aldeia Grande (humor) e O Menino que Descobriu as Palavras (infantil).
 http://www.portalsrn.com.br/cineas_santos28.htm
 
O livro
Pétalas./ Cineas Santos.Teresina:Oficina da Palavra, 2010. 


Da Série FÉRIAS 2011