O SÍTIO FEMINISTA

Ana Carolina Lamarque *

“A mulher não é inferior nem superior ao homem, é diferente. No dia em que compreendermos isso a fundo, muitos mal entendidos desaparecerão da face da terra”.

(Monteiro Lobato)

No Brasil, na primeira metade do século XX, época em que vivera Lobato, já se falava em feminismo, porém o sistema familiar ainda era visto como patriarcal, na qual o homem era o provedor da família que ditava as regras da casa, e as mulheres, em sua maioria, como foram treinadas desde criança, eram apenas donas de casa, esposas atenciosas que dividiam seu tempo entre os afazeres domésticos, os filhos e o marido, tornando assim, inviável prosseguir com os estudos, principalmente porque nesta época as mulheres eram pouco estimuladas a construir carreira e se tornarem independentes financeiramente e emocionalmente dos homens.

No entanto, não é este tipo de mulher e modelo familiar que encontramos no Sítio do Picapau Amarelo, pelo fato que, Lobato sempre foi considerado um homem a frente de seu tempo, um escritor singular que teve sempre em mente formar crianças sábias e críticas, através de histórias que abordavam temáticas atuais à época, numa linguagem clara e acessível aos pequeninos e assíduos leitores.

Se encontrássemos um portal como nas Crônicas de Nárnia, ou uma toca de coelho como na história infantil Alice no País das Maravilhas, que nos tele transportasse até o contagiante Sítio do Picapau Amarelo, encontraríamos uma sala com uma estante repleta de livros e uma cadeira de balanço, na qual, Dona Benta, uma velha senhora de sessenta nos, se apropria dela todas as noites para contar histórias sobre diversos assuntos como: geografia, física, astronomia, química e muitos outros, aos seus netos Pedrinho e Narizinho, e também Emília, a boneca de pano de Narizinho, onde juntos, sentam ao redor da cadeira e ouvem atentamente as sábias palavras da vovó mais culta do mundo, este, imaginado por Monteiro e chamado carinhosamente de Sítio do Picapau Amarelo.

Em livros como “Serões de Dona Benta”, “Geografia de Dona Benta”, “O Sítio do Picapau Amarelo” e outros, os personagens masculinos são minoria, e não tem tanto destaque, ficando assim o palco e os holofotes para mulheres do Sítio, como Dona Benta, Narizinho, Emília e Tia Nastácia, que com toda a feminilidade não deixam de serem mulheres de personalidade forte, de opinião, cultas e independentes financeiramente, visto que, Dona Benta não é casada e mesmo assim administra o sítio e cuida do mesmo com muito afinco e carinho, não deixando faltar nada.

Outra atitude feminista podemos encontrar no livro “O casamento da Emília”, onde Lobato traz uma temática um tanto comum: o casamento, porém o comportamento da noiva Emília estava bem longe de ser considerado comum e de servir de exemplo para as noivas da época de Lobato. Isto se deve ao fato de Emília ser “desbocada” e expressar livremente sua insatisfação em relação àquilo que lhe desagrada como, por exemplo, os versos recitados pelo personagem vidro azul e o comportamento de rabicó, seu noivo ao final do casório. Tal comportamento audacioso era raramente encontrado nas mulheres de antigamente, em conseqüência de tais serem “escolhidas” pelos homens, não terem voz ativa e fingirem enxergar somente a qualidade de seus noivos, não expressando abertamente sua insatisfação para com os defeitos do mesmo. A maioria dos casamentos aconteciam em nome da conveniência, alianças eram trocadas não em nome do amor, mas em função de unir a riqueza de ambas às famílias, pois, segundo o ditado popular “dinheiro chama dinheiro”.

Assim podemos afirmar com toda a certeza que, mesmo Lobato sendo considerado machista, não subestimou a capacidade da mulher, não a considerou como submissa ao homem, mostrando aos homens e mulheres machistas de sua época que a mulher pode ser sim: independente, trabalhadora e culta, superando muitas vezes os homens.

* Acadêmica do curso de Musicoterapia pela Universidade Federal de Goiás.

REFERÊNCIAS

Frases famosas – Monteiro Lobato

Disponível em: http://www.frasesfamosas.com.br/de/monteiro-lobato.html

Encontrado em: 2/11/10

SILVA, V. M. T. Literatura Infantil Brasileira: um guia para professores e promotores da leitura. 2ª Edição rev. Goiânia: Cânone Editorial, 2009.

MONTEIRO, L. O Sítio do Picapau Amarelo: fragmentos do Reinações de Narizinho e d’O Saci. São Paulo, SP. Editora Brasiliense, 2003.

Alice no País das Maravilhas

Disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/alicep.html

Encontrado em: 19/11/10

As Crônicas de Nárnia

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/As_Cr%C3%B4nicas_de_N%C3%A1rnia

Encontrado em: 19/11/10

ROSÂNGELA, M de L. Os casamentos na obra de Monteiro Lobato. In SILVA, V. M. T. (Organizadora). Nem ponto nem vírgula. Goiânia: Cânone Editorial, 20

Carol Spearrit
Enviado por Carol Spearrit em 09/02/2011
Código do texto: T2782535
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