Sonetos da Vida Inteira, de Letterio Santoro

Fagner Roberto Sitta da Silva

O novo livro de Letterio Santoro, “Sonetos da Vida Inteira”, é uma verdadeira aula de Vida e Poesia.

Dedicado somente a mais nobre das formas poéticas, o soneto, o livro do amigo versa dos assuntos mais diversos, indo dos tempos do seminário, até os tempos atuais, cantando a nossa terra e a nossa gente.

O livro , que pode ser encontrado na Biblioteca Municipal, é a primeira obra garcense inteiramente dedicada a esta forma fixa. Lembrando que o poeta Cesarino Avino Sêga já publicou alguns sonetos em sua obra intitulada Quando Fala a Natureza, mas que estes eram permeados por outros tipos de poesia. Também houveram outros escritores que se enveredaram a compor esta forma poética e publicá-la em livro, no entanto, a obra de Letterio Santoro é a primeira dedicada ao soneto.

O soneto foi criado na Itália, no século XIII, uma invenção atribuída a Giacomo Lentino, e elevado ao status de rei da poesia ao ser cultivado por Francesco Petrarca e Dante Alighieri. É com Petrarca que a forma do soneto é fixada, e hoje chamamos o soneto clássico de petrarquiano. São setecentos anos de tradição, e poderíamos juntar aos dois nomes dos poetas já citados outros nomes, como os de Guido Cavalcanti, Lope de Veja, Sá de Miranda, Camões, Shakespeare, Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Guillaume Apollinaire, Olavo Bilac, Raimundo Correia, Cruz e Sousa, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Mario Quintana e Paulo Bomfim. Só para citar alguns.

Segundo alguns autores, o soneto é um pensamento de ouro em cárcere de aço, mas não quero com este cair em termos técnicos, só que é impossível falar de um livro de sonetos sem citar alguns. É quase impossível não falar que um soneto é formado por catorze versos distribuídos em quatro estrofes, dois quartetos e dois tercetos, com um esquema fixo de rimas, tendo como metros mais usuais os decassílabos heróicos (camoniano) e os alexandrinos, tendo no verso final, que é o fechamento daquilo que foi desenvolvido, o que chamamos “chave de ouro”.

E o soneto, como em conversa com o poeta Letterio, é uma dos melhores exercícios de composição, pois obriga que o poeta seja conciso em seu pensamento, fazendo com que este exclua o que é excesso, deixando apenas o que é fundamental. O soneto é a busca da perfeição.

E Letterio Santoro, com todo o seu conhecimento de poesia, e sua dedicação a esta Arte, reúne em seu livro de sonetos um cortejo lírico de imagens, mostrando suas mais variadas facetas, desde os seus dezoito anos até os dias atuais, utilizando-se dos metros e de esquemas de rimas clássicos, ou compondo sonetos brancos. No seu soneto “Minha Batina” o vate canta:

Amo-te tanto, humílima batina,

Negro estandarte do ideal mais belo.

Nestes versos o poeta, ainda seminarista, fala de sua vestimenta de trabalhador da vinha do Senhor, do seu amor por ela, por significar o caminho ao qual se propôs a trilhar.

No soneto seguinte, o poeta declara seu amor à primeira namorada, como todos os poetas do mundo já fizeram, do modo mais singelo, entregando seu soneto, nas escadas do cursinho pré-vestibular, como prova de amor. O soneto chama-se “A ti, jovem…”:

Todo homem, na estrada que perpassa,

Procura, pensativo, a companheira,

O meigo olhar que estremecer lhe faça

A vida – de ternura menineira.

Que apaixonado nunca repetiu o mesmo gesto, seja com um verso seu ou com um verso alheio, que por coincidência poderia ser um soneto de Vinicius ou de Camões?

Nos sonetos seguintes o poeta fala da chegada e do desfecho de seus amores, da primeira esposa, do fim de seu casamento, da tristeza com o desenlace, da solidão sentida e, depois, da sensação de que o amor não lhe fechou as portas, de que ainda é possível encontrar a felicidade.

Mas não é só de amor que versa o livro do amigo, pois a Poesia pousa em todo lugar e tudo torna-se motivo para compor. E o poeta fala de suas leituras, ora falando da sina dos personagens dos romances lidos ou usando as imagens destes para explicar seu mundo ou de passagens da Bíblia Sagrada.

E o que ficou do poeta seminarista está espalhado pela sua obra, nas suas leituras do livro sagrado, ou de teólogos e os grandes doutores da Igreja. Assim como em “Soneto a Mestre Tomás”:

Criança curiosa em busca do infinito,

Adentro, ó frei Tomás, adentro a cada dia,

Nas águas sempre calmas desse mar imenso

De tua Suma, sobre as quais navego atento.

Em “Peregrinação” o vate imagina-se caminhando junto a Dante:

Desço, Mestre, contigo, pouco a pouco,

Os abismos escuros do Pecado,

A que o homem se sente abandonado

Neste universo solitário e louco.

Mas no sonetilho anterior, “Voto”, dedicado à Judite Zago Santoro, o poeta canta sobre a feliz chegada do grande amor de sua vida. Eis o último terceto:

Um coração bem sofrido

Onde brota amor fiel

Totalmente a ti votados.

Neste pequeno soneto de sete sílabas o poeta feliz com a chegada do grande amor sente-se como que vitorioso, porque o prêmio de tanta busca foi o amor pra vida inteira.

Eis um pouco do mundo do poeta em versos que ora cantam o amor, ora a terra em que nasceu, a distante Fulcaldo, na Itália, ora falando da espirradeira que está plantada frente a sua casa, e dedicando este soneto a todos os pés de espirradeira de Garça, ora cantando o nosso lago artificial com as cerejeira floridas, ou as pessoas de nossa terra, que a dádiva da poesia quis que lhes fossem homenageadas com sonetos.

Até este que agora traça estas pobres linhas teve a graça de receber um soneto, “Soneto para um Poeta”, que está entre os últimos do livro, como presente de amigo secreto da Associação de Poetas e Escritores de Garça. Soneto que guardo com carinho e que tive que “revidar” agradecendo ao amigo com um soneto de minha pobre lavra.

Destes últimos sonetos da obra destacaria os que foram dedicados à poetisa Leonor de Barros Zago, “Antes de Menina”, aos poetas Fortunato Elias Correa, “Ao Poeta Fortunato” e Luiz Idalgo, “Mundo Encantado de Luiz Idalgo”, à artista-plástica Juliana Luiz dos Santos Oliveira, “Revelação”, à Sílvia Maria de Oliveira Saccá Stok, “Sílvia, Filha do Povo”, e a todos os companheiros da Associação de Poetas e Escritores de Garça, “Um Soneto para a APEG”.

Eis um trecho do soneto “Revelação”, em versos alexandrinos, dedicado à amiga artista Juliana, uma jovem de muito talento:

Juliana Oliveira, és joia peregrina,

Da tua técnica em carvão tu és senhora,

E dessas mão tão mágicas brotando agora

Vão mil desenhos, que te tornam mais divina.

E em “Mundo Encantado de Luiz Idálgo” o poeta, no último terceto, homenageia amigo, poeta e violeiro, com os seguintes versos alexandrinos:

Mas o segredo oculto deste encantamento

Consiste esconder no corpo de um idoso

O palpitante coração de uma criança.

E não foi o próprio Cristo quem disse que para sermos dignos de adentrar o Reino dos Céus deveríamos ser como crianças?

Estes exemplos são apenas algumas amostras do que aqueles que quiserem se aventurar pela grande floresta de poesia que este nosso poeta vem plantando, e preservando agora ao publicar seus versos em formato livro, poderá encontrar na leitura de “Sonetos da Vida Inteira”. Um livro que não é só uma amostra do itinerário de vivências do autor, mas uma verdadeira aula desta forma que é considerada a forma das formas.

Então, adentra, leitor, sem medo, nesta floresta e vê os seres que lá habitam, cada soneto como um pássaro num galho tecendo um canto, ou mirando noutros que aparecem no lago calmo… Mire o lago, leitor, nas suas plácidas águas, e, ao tentar olhar a face do poeta, tomba nelas qual Narciso, extasiado por tanta beleza

Fagner Roberto Sitta da Silva
Enviado por Fagner Roberto Sitta da Silva em 21/01/2011
Código do texto: T2742235
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