Aarão, o primeiro Grão-Mestre

Aarão, irmão de sangue de Moisés, foi o primeiro Grão – Mestre instalado da Grande Loja dos Filhos de Israel. E Moisés, todo ano, congregava os Veneráveis Mestres das Lojas daquele antigo Oriente, que eram os líderes de cada tribo, com Aarão á testa de todos eles, para comunicar-lhes as ordenanças e regulamentos que lhes eram ditados pelo Grande Arquiteto do Universo.
E a posteridade de Aarão continuou exercendo o Grão - Mestrado do Oriente de Israel, (que os israelitas chamavam de Sumo-Sacerdócio), até os dias em que o Templo de Salomão foi construído. Nos tempos de Salomão, o Grão Mestrado passou a ser exercido por um sacerdote de nome Sadoc, cuja posteridade conservou o primeiro malhete até a destruição do primeiro Templo pelos caldeus.
No Ano de 586 a C. os caldeus invadiram Jerusalém e levaram para a Babilônia, como cativos, a maior parte da população da sagrada cidade. Mas em 525 a C, os caldeus foram vencidos pelos persas e o rei Ciro permitiu que os israelitas voltassem para a Palestina e reocupassem os seus antigos territórios.
Deu-lhes também dinheiro e materiais para que eles reconstruíssem o Templo de Salomão. Mas a região já estava ocupada por outros povos e estes não concordaram pacificamente com a volta dos israelitas. Muitos conflitos ocorreram e a reconstrução do Templo se tornou uma obra de arquitetura e arte militar ao mesmo tempo. O rabino Zorobabel foi o líder desse empreendimento, razão pela qual a Maçonaria dos graus filosóficos a ele se refere com tanta freqüência, bem como utiliza a alegoria da reconstrução do Templo de Jerusalém como alicerce dos ensinamentos ali veiculados.
Zorobabel reconstruiu o sagrado Templo que havia sido erigido por Hiram Abiff, a pedido de Salomão, o qual foi novamente destruído pelos romanos em 53 a C. e reconstruído por Herodes, o Grande, em 40 a C., e novamente derrubado pelos romanos no ano 70 da era cristã.
A seqüência histórica da construção e destruição do Templo de Salomão é um simbolismo muito significativo na mística do povo de Israel. É esse simbolismo, que retrata a construção, a destruição e a reconstrução contínua do caráter humano, ao longo da História, que a Maçonaria se utiliza para fundamentar a sua filosofia.
De acordo com os ensinamentos da ciência chamada Cabala e os comentários rabínicos constantes do Talmud, o mundo é construído, destruído e reconstruído diversas vezes. Da mesma forma que a alma humana precisa viver diversas encarnações (que são os nascimentos e mortes pelos quais passamos) para que possa finalmente atingir a perfeição final, o universo físico também está sujeito a esse processo de destruição e reconstrução, para que possa, um dia, encontrar a forma perfeita. Por isso o Templo de Salomão é o típico modelo arquitetônico que simboliza com perfeição a Arte maçônica. Ele foi construído, destruído e reconstruído diversas vezes, da mesma forma que o espírito da humanidade é destruído e reconstruído continuamente, até atingir o justo e perfeito modelo que essa Arte está buscando.

E esta foi a posteridade de Aarão, que começou com seu filho Eleazar. Este passou o malhete para Judá, que o passou para Otoniel, que o passou para Aod, que o passou para Samgar, que o passou para Barac, que o passou para Gedeão, que o transmitiu para Abimelec, que o passou para Tola, que o passou para Jair, que o passou a Jefté, que o transmitiu para Abesa, que o passou para Aialon, e deste para Abdon, e deste para Sansão, o forte;

Os Grãos-Mestres Juízes

E depois de Sansão o malhete foi para Fares, que o passou para Esron, que o passou para Aram, que o transmitiu a Aminadab, que o passou para Naasson, que o passou para Salmon, que o passou para Booz. E este Booz é aquele que casou-se com a moabita Rute e foi o bisavô do rei Davi, tornando-se uma das mais importantes alegorias da Arte Real.
O nome de Booz foi dado a uma das colunas do Templo de Salomão. Esses nomes todos, que exerceram a liderança do povo de Israel antes do advento do reinado, estão citados no Pentateuco e no Livro dos Juízes de Israel. A julgar pelo que descrevem aqueles relatos, Israel tinha um governo que se assemelha á organização que hoje é praticada na Maçonaria: havia doze tribos independentes entre si, unidas muito mais por identidade cultural e religiosa e laços de sangue do que por regras jurídicas, propriamente ditas. E nessa organização, o Juiz, escolhido pela totalidade da comunidade, que era representada pelo Conselho dos Anciãos, era um líder religioso e político ao mesmo tempo.
O nome Booz, ou Boaz, também tem uma correspondência cabalística interessante na tradição esotérica do povo de Israel. As letras desse nome correspondem respectivamente a B (casa), O (olho), A (boi), Z (arma, espada). Assim, a composição cabalística do nome Boaz, aplicado ao Templo de Salomão, nos diz que esse Templo era a casa, o olho, o sustento e a defesa que o Grande Arquiteto do Universo estabelecia no meio do povo hebreu.
E depois de Booz, o primeiro malhete foi para Heli, que o passou para Samuel, que encerrou o primeiro ciclo de Grãos Mestres da Confraria dos Irmãos de Israel, porque depois de Samuel esse cargo passou a ser exercido por Sadoc, que foi nomeado pelo rei Davi e serviu também a Salomão.
Sadoc serviu a Davi e Salomão e iniciou a tradição da Venerança Saducéia que manteve o primeiro malhete nas mãos dos Veneráveis saduceus até a data da destruição do Terceiro Templo, que foi aquele construído por Herodes, sobre as ruínas daquele que fora construído por Zorobabel.
Salomão deu uma nova organização á Fraternidade dos Filhos de Israel, tornando-a uma instituição voltada unicamente para certas atividades, ligadas ao caráter sagrado que se deveria atribuir à obra do Grande Arquiteto do Universo. Data de sua época a forma simbólica e iniciática que a Arte Real passou a ter. Essa nova forma, assumida pela Maçonaria desde então foi baseada na organização dos obreiros que Salomão reuniu para a construção do Grande Templo de Jerusalém.
Da posteridade de Sadoc não se guardou a relação, porquanto foram mais de quinhentos anos de muitas mudanças políticas e sociais na nação dos filhos de Israel. Nessa nova fase a Fraternidade separou-se em duas partes, como já foi dito: a primeira, que congregava o povo em geral, recebia os ensinamentos escritos nos livros de Moisés e nos outros livros que os Mestres escreveram; a segunda recebia os ensinamentos mais profundos da doutrina legada por Moisés e a sua verdadeira interpretação. Por isso é que a Arte Real passou a ter uma aura de doutrina secreta desde então, porque ela está ligada mais ao significado profundo da palavra Arquitetura do que á sua parte operacional.
Do tempo de Salomão em diante, os ensinamentos mais profundos da doutrina da Irmandade passaram a ser ministrados na forma oral, por etapas, a grupos escolhidos através de regras muito rígidas. E estes ensinamentos se dividiam em duas partes: os que podiam ser ensinados a todos os Irmãos que faziam parte das Confrarias e os que só podiam ser repassados a uns pouquíssimos Mestres, selecionados entre os Irmãos mais meritórios, que se tornaram os guardiões da sabedoria secreta.
A tradição confere a esses Mestres um saber não perceptível aos mortais comuns. Jesus de Nazaré foi o maior deles todos. Todos os profetas israelitas que viveram antes dele também estão nesse rol, bem como alguns rabinos famosos. Outros Mestres como João, O Batista, Simão Ben Iochai, o codificador da Cabala, os apóstolos Paulo de Tarso e João, o Evangelista, assim como outros grandes espíritos que viveram depois, como Nicolas Flamel, Giordano Bruno, Teofrasto Paracelso, Roger Bacon, Leornardo da Vinci, Michel de Nostradamus, Isaac Newton etc. pertencem a esse grupo, pois beberam da mesma fonte de sabedoria, embora não fossem judeus.
A tradição maçônica está muito ligada a esta última parte, já que preferiu ficar nas sombras para salvaguardar e desenvolver essa sabedoria. Ela é hoje comunicada, de forma muito fragmentada (e de certo modo deturpada) aos Irmãos da Arte Real, através dos símbolos, alegorias, lendas e atos litúrgicos presentes nos rituais dos diversos graus em que se compõe o aprendizado da Arte Real.
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Notas:

1- Vejam-se as crônicas de Esdras e Neemias.
2- Os Grãos- Mestres aqui listados são aqueles que a Bíblia chama de Juízes. Juízes eram os líderes escolhidos pelo povo para julgar e liderar os israelitas nas batalhas por ele travadas contra seus belicosos vizinhos.
3- Esse Sadoc deu origem ao chamado partido dos saduceus, que dominou a cena política em Israel por centenas de anos, sendo encontrados ainda no tempo de Jesus, como uma das principais forças políticas do país. Anás e Caifáz, os principais sacerdotes que presidiram a seção que condenou Jesus à morte, eram saduceus.
4- Alex Horne, O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica, Ed. Pensamento, São Paulo, 1998
5- Quer dizer, as partes operativa e especulativa da Maçonaria, que convivem na Arte Real desde esses longínquos tempos.

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DO LIVRO " LENDAS DA ARTE REAL", AINDA NÃO PUBLICADO
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 18/01/2011
Reeditado em 18/01/2011
Código do texto: T2736333
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