A ESCOLA VISTA POR DENTRO

RESENHA: OLIVEIRA, João Batista Araújo e, SCHWARTZMAN, Simon. A escola vista por dentro. Belo Horizonte: Alfa Educativa Editora, 2002. 144p.

A ESCOLA VISTA POR DENTRO: UMA RESENHA

José Neres

Publicado em 2002, o livro A Escola Vista por Dentro (Alfa Educativa Editora, 144 páginas) de autoria de João Batista Araújo e Oliveira e Simon Schwartzman, nasce a partir de uma grande pesquisa realizada pelos autores com o intuito de fazerem uma espécie de radiografia da escola no Brasil. Foram pesquisadas 148 escolas, 2289 professores e 1380 pais, em 51 municípios do país. Os instrumentos de coleta de dados – questionários, entrevistas e análise dos Planos de Desenvolvimento Escolar de aproximadamente 600 escolas – foram aplicados no último quadrimestre do ano anterior à publicação da obra.

O livro está dividido em uma introdução, cinco capítulos e dois anexos. As análises dos autores são intercaladas por gráficos e tabelas que comprovam os dados colhidos em campo.

No capítulo I, são apresentados os atores da realidade escolar brasileira – pais, alunos, professores e diretores. Os autores traçam um perfil dos elementos envolvidos no processo ensino-aprendizagem e constatam, por exemplo, que quase todas “as crianças de 7 a 14 anos estão na escola”, sendo que “na maioria dos casos a vida escolar dos filhos é acompanhada pelas mães” (p. 12). Os autores comentam também sobre a defasagem de escolarização, que atinge a marca de 25%. Outra constatação é que a maioria dos lares é formada por pais com poucos anos dedicados à vida escolar, com pouco ou nenhum hábito de leitura e com ausência de livros nos lares. Os pesquisadores chamam a atenção para o fato de que esses dados são relativos tanto às escolas públicas quanto às particulares. Há também a constatação de que menos da metade dos pais têm o habito de ler/contar histórias para os filhos, o que poderia fazer diferença no processo educacional dos alunos (pág. 19)

Além de falar dos pais e alunos, a pesquisa aborda também o perfil dos diretores, deixando claro que, tanto nas escolas municipais, quanto nas estaduais, “os diretores são escolhidos sem a necessidade de comprovação de competência ou experiência” (pág. 21). De modo sutil, os pesquisadores remetem também às questões de política partidária com o fator decisivo para a escolha do corpo diretivo das escolas.

O último elemento a ser detalhado no primeiro capítulo foi o professor, usando como critérios como formação acadêmica, tempo de serviço e plano de carreira e salário. Ficou constatado que há diferenças salariais entre os professores da rede pública e os da rede particular de ensino, e que algumas escolas “diferenciam salário para professores do ensino médio e por tamanho da turma” (pág. 22).

Passando para o segundo capítulo, os autores falam da qualidade da escola vista por fora, ou seja, vista não por seus atores diretos, mas sim por elementos extraescolares, como os indicadores do SAEB – Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Básico. A partir dos indicadores numéricos analisados, os pesquisadores chegaram a algumas conclusões, como, por exemplo, que apesar de os alunos de escolas particulares apresentaram desempenho visivelmente melhor que os da rede estadual e que os da municipal, “o desempenho do conjunto de alunos é inferior às expectativas nas três redes de ensino” (pág. 25). Em termos comparativos da análise de diversos resultados aferidos pelo SAEB, ficou evidenciado que não foi verificada “melhoria significativa no desempenho médio dos alunos” (pág. 27).

A seguir, os pesquisadores compara o rendimento escolar de alunos brasileiros da 8ª série (atual 9º ano) com o rendimento de alunos da mesma séria de outros países. Fica a constatação de que muitos outros países mais pobres que o Brasil conseguem um desempenho melhor, como é o caso de Cuba e Coreia, que conseguem obter bons níveis de rendimento escolar, que podem inclusive ser comparados aos níveis europeus. Em termos gerais, o livro mostra que “apenas 1% dos alunos brasileiros atinge o nível máximo de desempenho escolar” (pág. 28).

Ainda vendo a escola pelo olhar de fora, os pesquisadores demonstram que os alunos brasileiros têm dificuldades de escrita e de entendimento dos textos lidos. E o pior é que quando foram feitas as mesmas perguntas a alunos e professores, as respostas dos professores foram semelhantes às dos alunos, ou seja, uma demonstração de que em muitos casos os profissionais que estão ministrando aulas “nem mesmo dominam os conteúdos das quatro séries iniciais do nível fundamental” (pág. 29).

Fica então a conclusão de que a repetência, o baixo nível de aproveitamento dos estudos e o nível educacional deficiente dos professores são constantes em todo o território brasileiro.

A seguir, os autores-pesquisadores passam a mostrar a escola como ela é vista por dentro, ou seja, na visão dos pais e professores. Como a realidade mostrada no capítulo II não é de conhecimento geral, os pais envolvidos na pesquisa responderam que estavam satisfeitos com a educação recebida pelos filhos na escola. Nota-se um grau de contentamento por parte dos pais com relação à aprendizagem e à segurança dos filhos na escola. Vista pelo olha dos pais e responsáveis, fica a impressão de que a escola apresenta poucos problemas e de que os deveres dos pais e das instituições estão correspondendo às expectativas do que seria um sistema educacional de qualidade, com pais acompanhando o desempenho dos filhos e a instituição escolar cuidando da formação e da segurança dos jovens. Mas os pesquisadores mesmos se preocupam em mostrar que tias respostas podem não corresponder à realidade.

A escola vista pela perspectiva dos professores é o tema da continuação do capitulo. Os pesquisadores analisam o descompasso entre o início das aulas e o retorno dos professores para a sala de aula e percebem que há uma discrepância, o que os leva geralmente a não ministrarem todas as aulas do período letivo. Também e vista a relação dos alunos e professores com as tarefas indicadas para casa e a freqüência do aluno em sala de aula. A expectativa dos professores é de reprovação de aproximadamente 20% dos alunos de cada sala, e isso “é considerado normal na vida das secretarias de educação, das escolas, dos professores e das famílias” (pág. 53). O desinteresse dos educandos e o fato de eles não dominarem a escrita e a leitura foram vistos como fatores determinantes para a reprovação. Outro fator estudado relativo à preparação das aulas. Os professores afirmam que gastam em média uma hora preparando os planos, mas “a análise dos planos de aula não confirma que o tipo de preparação que eles fazem justificaria esse tempo” (pág. 61). Os pesquisadores então dizem que embora realmente trabalhem muito, os professores tendem a superestimar o tempo real de trabalho.

O quarto capítulo é dedicado a como a escola é vista de dentro para fora. Mesmo os professores demonstrando autoconfiança com o processo de ensino e alegando que fazem bem o seu trabalho, tal informação entra em contradição com o capítulo II do livro, que demonstra que o aluno é geralmente mal alfabetizado. Esta parte do livro também se preocupa com o acervo da biblioteca, o nível de leitura e algumas outras questões relativas a procedimentos dos professores em situações específicas.

Na segunda parte deste quarto capítulo é analisada a eficácia dos instrumentos de ensino, os recursos e os métodos didáticos. Há também um estudo sobre quais seriam os fatores mais importantes para a aprendizagem, questão para a qual há várias respostas, algumas conflitantes entre si. Para os entrevistados, o que ajuda a ser um bom professor é principalmente a experiência, seja ela como aluno, seja como professor. Para a maioria, o melhor recurso didático é o próprio aluno.

O quinto e último capítulo remete à escola vista em perspectiva, na qual há uma reflexão sobre os aspectos gerias da escola, seus fins e suas ambigüidades e, como complemento, traz as três lições das escolas eficazes, a saber: a) definição dos fins, b) provisão dos meios e c) questões de autonomia, poder e responsabilização. Logo depois aparecem explicitadas as metodologias utilizadas na pesquisa e gráficos comparativos da realidade escola dos estados brasileiros envolvidos na investigação.

José Neres
Enviado por José Neres em 17/01/2011
Código do texto: T2734136
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