O Pequeno Príncipe – O que realmente não é pequeno
Um breve prefacio para um texto.....
Vou divagar sobre um pequeno ser que me chamou a atenção de início por seus números, sua idade, seu nascimento. Vou divagar sobre um pequeno ser que há tempos me chama atenção e que só agora, após anos consegui enxergar em minha vida.
Uma breve confissão....
Tenho que confessar que ultimamente mal me interesso pelos verbos que me interessava há meses atrás, mas ainda sim me interesso pela sua presença etérea de poucas palavras.
Quando releio o Livro O Pequeno Príncipe me pego pensando em mil coisas que muitos adultos talvez pensem quando leem esta obra. Fico fascinada em como Saint Exupéry trata a questão dos relacionamentos ao longo de um pequeno livro tão poético e tão denso em sua simplicidade (nada infantil).
Fiquei pensando nas pessoas que são rosas em minha vida e nas pessoas que são baobás. Você já leu o livro de que falo? Se não leu ou se não pensou nisso que comentei quando passou seus olhos por ele, faço uma singela sugestão aqui e agora.
Vou contar sobre a primeira vez que pus este pequeno livreto em mãos; enquanto isso também pense em quando se apaixonou pela vez por um livro.
Eu devia ter uns 8 anos de idade e a casa de minha mãe estava em fase final de construção do sobrado, precisávamos mudar a estante de livros dela para parte superior e lá estava eu carregando pela escada acima algumas capas coloridas da coleção “Vaga lume” e outras pérolas dos anos 80 em minhas mãos pequenas. No final do carregamento, ao me sentar o chão cheio de poeira de cimento com aquele típico cheio de construção, vi um livro um pouco maior que todos empoleirado em uma pilha suspeita de avalanche literária.
Você já viu uma avalanche literária de uns 500 livros? Já esteve em uma? Talvez esse seja o motivo de eu ser tão verborrágica em minha vida.... fui vitima de minha primeira avalanche nesse dia e meu troféu foi um livro de capa dura com o desenho de um planetinha com 2 vulcões e um garoto com uma echarpe esvoaçante olhando o além universo. Neste dia puxei o tijolo elementar da pilha de livros e o restante é historia....
Talvez eu merecesse a bronca de ter arruinado o resultado de um dia inteiro de trabalho, mas ao invés disso, minha mãe em pé na porta do cômodo, me contou um pedacinho da história do menino louro e me mostrou o famigerado desenho da cobra que engoliu o elefante.
Vou ser sincera e dizer que não me lembro de ter lido o livro naquele dia ou naquele ano. Queria dizer que minha mãe tivesse lido ele pra mim, mas não foi isso que ocorreu. Eu sempre fui impaciente para ouvir as pessoas lendo. Guardei ali na alma um amor, bem escondido.
Em outra arrumação de livros, quando tinha uns 13 anos, revi a capinha tão apaixonante e o li na escola, no meio das aulas em que já tinha terminado minhas atividades. Minha professora de português, uma japonesa muito rígida chamada D. Ruth, me indicou outros livros quando me viu lendo e aquilo me abriu um mundo de opções que eu já tinha em casa, em uma estante cheia de sonhos e aventuras.
Talvez tenha demorado uns 15 anos para que eu revesse este livro novamente e foi em uma compra de camisetas em uma loja de artefatos naturais que revi minha paixão e meu coração acelerou. É um lugar inusitado para se lembrar de um livro, mas eu vi uma camiseta estampada com a seguinte frase... “ Você é responsável por aquilo que cativas”.
Voltei pra casa com uma necessidade quase responsável de cativar aquela história de novo. Quase em crise de abstinência corri até a casa de minha mãe ver se encontrava o livro. Infelizmente as constantes reformas não me permitiram encontrá-lo.
Abrindo um parênteses em minha narrativa nunca linear, há pouco tempo descobri que foi uma pessoa importante que deu de presente aquele livro pra minha mãe. E agora uma pequena grande pessoa muito importante que me fez reencontrar as palavras que sempre amei.
Em uma visita em um sebo na grande cidade de São Paulo, encontrei uma edição rara da obra de Saint Exupéry, me agarrei a ela e chorei por ter encontrado meu exemplar do Pequeno grande Príncipe. Voltei para casa lendo sentada no chão do metrô, rindo e chorando com as passagens que mais amo.
Voltando as questões filosóficas entre baobás e rosas, independentemente de qual personagem eu seja na vida de alguém, sinto que muitas vezes ajo como um baobá. Sinto minhas raízes querendo se aprofundar em um terreno que pode ser destruído por elas. Peço desculpas aqui se faço isso com alguém.
Me sinto uma observadora dos adultos desde a primeira vez que vi o pequeno livro. Sinto que pessoas grandes misturam tudo e nós (entusiastas, poetas, ou apenas leitores) agimos como crianças diante de algo novo. Mas, ainda sim, tenho que agir como adulta em meu mundo e misturar um pouco as coisas boas com as coisas ruins para dar sabor ao meu viver.
Cada vez que releio o Pequeno Príncipe, eu extraio uma frase e um nó se faz em minha garganta. É um livrinho de poucas palavras e cheio de filosofia de gigantes dentro dele.
“ Se eu amo minha flor a qual só existe uma entre bilhões, isto me basta para ser feliz, sem esperar nada dela”
O amor incondicional às adversidades, apenas ele por ele. E assim gostaria de amar. Como o pequeno príncipe sem nome faz.
O que lhe chama mais a atenção, meu pequeno? As flores de apenas uma fileira de pétalas? Simples em grande quantidade ou uma rosa complicada com suas mil pétalas e manias exuberantes?
“Não tenho medo de tigres, mas receio o ar que me arrepia”.
O medo e a coragem de uma pessoa, em seu limiar de razão e sensibilidade, coragem e insensatez.
Fecho aqui meu texto com um agradecimento e com a frase:
“ É bom ter tido um amigo, mesmo se a gente vai morrer.”
E por isso me sinto responsável pelo que acho que cativei. As lagrimas que surgem nos meus olhos são justificadas e nosso pequeno sábio completa em uma conversa com a raposa que “ A gente corre o risco de chorar quando se deixa cativar”.
Beijos na alma