A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER
Sinopse
Tomas é um jovem médico, cuja filosofia é gozar as delícias da vida. Sem muitas preocupações de ordem financeira, social ou profissional, pois é um médico renomado, com um boa e segura clientela, não é muito dado a questões metafísicas ou filosóficas de maior profundidade. É um verdadeiro nihlista, no sentido de que, para ele, viver é sentir cada momento. Por isso seus relacionamentos amorosos são absolutamente informais e ditados unicamente pela lógica dos sentidos. Seu amor é medido pelo prazer que a relação lhe proporciona. Essa era a lógica da sua relação com Sabina, por exemplo.
Assim Tomas leva a sua vida até conhecer Teresa. Teresa entra na vida de Tomas de uma forma quase acidental. Como "um recém nascido tirado das águas," como ele diz.
Ela vivia numa cidade do interior da Checoslováquia e trabalhava num bar frequentando por bêbados e indivíduos da pior espécie. Uma noite Tomas apareceu por lá, e enquanto esperava ser servido, começou a ler um livro. Teresa ficou surpresa por ver alguém lendo um livro num ambiente como aquele.
Tomas deixa um cartão para ela procurá-lo se um dia for a Praga.
É que Teresa faz. Logo foi procurá-lo em Praga, no endereço que ele havia lhe dado, deixando sua bagagem na estação ferroviária.
O envolvimento entre os dois acaba sendo natural. Tomas a recebe no seu apartamento e ela não vai mais embora. Passam a viver juntos.
Teresa é muito diferente de Tomas. Ela é uma jovem educada num ambiente de pobreza e promiscuidade. Sua mãe era uma mulher frustrada, pessimista e destrutiva, que só via o lado feio da vida. Fazia questão de destacar a miséria humana, mostrando através do próprio corpo, a imundice que ele mesmo hospedava.. Teresa, que era dotada de uma sensibilidade bastante desenvolvida, deplorava essa conduta da mãe. Na verdade, ela acreditava na existência de alguma coisa mais, além dos sentidos e do mero prazer carnal, a mover os motivos do homem. Ela era romântica e achava que a vida não era uma mera aventura em busca do prazer dos sentidos. Por isso, sua vida com Tomas não será nada fácil.
A insustentável leveza do ser é um romance essencialmente nihlista. A história dos casais Tomas e Teresa, Franz e Sabina, se passa na Tchecoslováquia dos anos sessenta, e resume a atmosfera pesada vivida naquele país durante a ocupação e o domínio soviético. A retórica de Milan Kundera mostra a vida de um povo na busca de uma identidade e de um sentido para a sua vida. É na essência, um contraste entre o vazio espiritual que o materialismo comunista provoca e a necessidade do ser humano de acreditar que além da mera satisfação dos sentidos existe alguma coisa mais que precisa ser atingida. Então vem a pergunta: O que é melhor: a leveza de uma vida descomprometida com qualquer questão ideológica ou o peso de um vínculo que nos liga ao destino do próprio mundo em que vivemos?
É esse conflito que o autor nos apresenta. Nietzsche, Sartre e Parmênides são os filósofos inspiradores desse romance.
Parmênides
Parmênides foi o apóstolo da dialética fundamental. Para ele o universo se construía e se amparava em elementos opostos que se equilibravam na sua luta para prevalecer um sobre o outro. A leveza do espírito exigia o peso da matéria. O peso, quando se torna insuportável, reclama um pouco de leveza em contraposição. A força do positivo se perderia se o negativo não se lhe opusesse. Não haveria nenhuma existência se esses dois princípios não se manifestassem e não lutassem entre si para preencher o nada cósmico. Assim, a dor era a ausência do prazer, a luz a ausência das trevas, o frio a ausência do calor. A leveza, no caso, é a ausência de peso.
Nietzsche
Nietzsche, com suas idéias sobre o eterno retorno e o livre arbítrio, exerce uma importante influência nos personagens do romance. Ele transforma o paradoxo de Parmênides em uma questão existencial. A humanidade continuaria a procurar um sentido para a vida se soubesse que tudo que ela faz para adquirir esse sentido seria eternamente repetido na infinitude do tempo?
A noção do eterno retorno foi a inspiração que levou Nietzsche a criar o controvertido mito do super homem. Pois de que serve os valores idealistas e espiritualistas diante de uma eternidade que se repete infinitamente sem a menor preocupação com os nossos valores? Para ele, só o homem que compreende isso e vive segundo a lógica dos sentidos cria valores. Ele não tem religião, nem compaixão. Enquanto Tomas é “criador de valores”, o super homem da filosofia nietzschiana, o descompromissado guerreiro que só vê valor no resultado, no que a realidade manifesta e torna útil, Teresa é a ética que procura uma finalidade nas coisas que se faz e um sentido metafísico para a vida.
Enquanto os personagens Tomas/Sabina são a leveza, Tereza/Franz são o peso.
Sartre
Sartre, da mesma forma que Nietzsche, discutiu em suas obras o sentido da vida. Menos pessimista que o filósofo alemão, não obstante, nos deixou com um problema não resolvido. Se nós somos todos acontecimentos fortuitos produzidos por leis exclusivamente naturais, o que nos leva a criar valores idealistas e espirituais? O que leva a gastar parte da nossa vida procurando uma justificativa para a própria tarefa de viver?
O romance de Kundera, discute, fundamentalmente a questão do sentido da vida. De uma forma romanceada, ele faz a mesma pergunta que Nietzsche e Sartre fizeram em sua obras. A vida tem sentido? Nascemos e vivemos por força de uma Vontade Superior que nos colocou aqui para alguma missão ou simplesmente somos acontecimentos fortuitos produzidos por leis exclusivamente naturais?
Se acreditarmos que a vida tem sentido e finalidade, então estaremos mais propensos a aceitar o peso do engajamento. Se não, levaremos a vida como um mero problema de existência, ou como dizia Sartre, uma jornada entre o ser e o nada, que se resume em preencher um vazio que se coloca a nossa frente. Nesse sentido, nada valem as nossas dores, os nossos afetos, a nossa piedade, o nosso amor, o nosso engajamento, por que tudo está submetido a uma eterna e lógica previsibilidade que se repete infinitamente no tempo.
O sentido da vida
Kundera não resolve o problema do sentido da vida, da mesma forma que Sartre e Nietzsche não o fizeram. Aliás, essa é uma questão que ninguém nunca resolverá por que a vida só tem mesmo algum sentido se nós mesmos lhe dermos algum. Na verdade, o romance chega a ser um tanto obscuro e deixa o leitor com as calças na mão. O que escolher? O peso do comprometimento, da crença de que somos parte de um destino manifesto, ou a leveza de uma vida onde só os sentidos interessam?
A Insustentável Leveza do Ser foi publicado em 1984 quando o Império Soviético começava a sofrer as primeira rupturas filosóficas num bloco que parecia ser monolítico. A Primavera de Praga, revolta dos estudantes e intelectuais tchecoslovacos contra domínio russo aconteceu em 1968. Pode ser considerado uma reação do espírito contra o materialismo dialético que a ideologia soviética espalhou pelo mundo. O espírito, como entidade independente da matéria não existe, dizem os materialistas. Ele é igual á mente. Ele se desenvolve de fora para dentro ― por força das condições ambientais― e não de dentro para fora, como acreditam os idealistas, os religiosos, os românticos e todos os crentes numa realidade que transcende a matéria. Os soviéticos reprimiram a revolta e por algum tempo impuseram uma derrota ao espirito do ideal. Mas o império soviético acabou ruindo uma década mais tarde justamente porque não conseguiu criar um verdadeiro espírito. Paradoxos da História.
A Insustentável Leveza do Ser vendeu mais pelo título do que conteúdo. Para os escritores essa é uma boa lição. Não queiram resolver problemas filosóficos complicados com seus escritos. Pouca gente está preocupada com questões dessa ordem. O melhor é contar uma boa história e no fim deixar para o leitor resolver qual teria sido o melhor desfecho. É melhor viver a vida de forma real, procurando tirar dela o que de melhor ela tem ou é necessário colocar um um pouco de idealismo para que ela tenha um verdadeiro sabor?
Sinopse
Tomas é um jovem médico, cuja filosofia é gozar as delícias da vida. Sem muitas preocupações de ordem financeira, social ou profissional, pois é um médico renomado, com um boa e segura clientela, não é muito dado a questões metafísicas ou filosóficas de maior profundidade. É um verdadeiro nihlista, no sentido de que, para ele, viver é sentir cada momento. Por isso seus relacionamentos amorosos são absolutamente informais e ditados unicamente pela lógica dos sentidos. Seu amor é medido pelo prazer que a relação lhe proporciona. Essa era a lógica da sua relação com Sabina, por exemplo.
Assim Tomas leva a sua vida até conhecer Teresa. Teresa entra na vida de Tomas de uma forma quase acidental. Como "um recém nascido tirado das águas," como ele diz.
Ela vivia numa cidade do interior da Checoslováquia e trabalhava num bar frequentando por bêbados e indivíduos da pior espécie. Uma noite Tomas apareceu por lá, e enquanto esperava ser servido, começou a ler um livro. Teresa ficou surpresa por ver alguém lendo um livro num ambiente como aquele.
Tomas deixa um cartão para ela procurá-lo se um dia for a Praga.
É que Teresa faz. Logo foi procurá-lo em Praga, no endereço que ele havia lhe dado, deixando sua bagagem na estação ferroviária.
O envolvimento entre os dois acaba sendo natural. Tomas a recebe no seu apartamento e ela não vai mais embora. Passam a viver juntos.
Teresa é muito diferente de Tomas. Ela é uma jovem educada num ambiente de pobreza e promiscuidade. Sua mãe era uma mulher frustrada, pessimista e destrutiva, que só via o lado feio da vida. Fazia questão de destacar a miséria humana, mostrando através do próprio corpo, a imundice que ele mesmo hospedava.. Teresa, que era dotada de uma sensibilidade bastante desenvolvida, deplorava essa conduta da mãe. Na verdade, ela acreditava na existência de alguma coisa mais, além dos sentidos e do mero prazer carnal, a mover os motivos do homem. Ela era romântica e achava que a vida não era uma mera aventura em busca do prazer dos sentidos. Por isso, sua vida com Tomas não será nada fácil.
A insustentável leveza do ser é um romance essencialmente nihlista. A história dos casais Tomas e Teresa, Franz e Sabina, se passa na Tchecoslováquia dos anos sessenta, e resume a atmosfera pesada vivida naquele país durante a ocupação e o domínio soviético. A retórica de Milan Kundera mostra a vida de um povo na busca de uma identidade e de um sentido para a sua vida. É na essência, um contraste entre o vazio espiritual que o materialismo comunista provoca e a necessidade do ser humano de acreditar que além da mera satisfação dos sentidos existe alguma coisa mais que precisa ser atingida. Então vem a pergunta: O que é melhor: a leveza de uma vida descomprometida com qualquer questão ideológica ou o peso de um vínculo que nos liga ao destino do próprio mundo em que vivemos?
É esse conflito que o autor nos apresenta. Nietzsche, Sartre e Parmênides são os filósofos inspiradores desse romance.
Parmênides
Parmênides foi o apóstolo da dialética fundamental. Para ele o universo se construía e se amparava em elementos opostos que se equilibravam na sua luta para prevalecer um sobre o outro. A leveza do espírito exigia o peso da matéria. O peso, quando se torna insuportável, reclama um pouco de leveza em contraposição. A força do positivo se perderia se o negativo não se lhe opusesse. Não haveria nenhuma existência se esses dois princípios não se manifestassem e não lutassem entre si para preencher o nada cósmico. Assim, a dor era a ausência do prazer, a luz a ausência das trevas, o frio a ausência do calor. A leveza, no caso, é a ausência de peso.
Nietzsche
Nietzsche, com suas idéias sobre o eterno retorno e o livre arbítrio, exerce uma importante influência nos personagens do romance. Ele transforma o paradoxo de Parmênides em uma questão existencial. A humanidade continuaria a procurar um sentido para a vida se soubesse que tudo que ela faz para adquirir esse sentido seria eternamente repetido na infinitude do tempo?
A noção do eterno retorno foi a inspiração que levou Nietzsche a criar o controvertido mito do super homem. Pois de que serve os valores idealistas e espiritualistas diante de uma eternidade que se repete infinitamente sem a menor preocupação com os nossos valores? Para ele, só o homem que compreende isso e vive segundo a lógica dos sentidos cria valores. Ele não tem religião, nem compaixão. Enquanto Tomas é “criador de valores”, o super homem da filosofia nietzschiana, o descompromissado guerreiro que só vê valor no resultado, no que a realidade manifesta e torna útil, Teresa é a ética que procura uma finalidade nas coisas que se faz e um sentido metafísico para a vida.
Enquanto os personagens Tomas/Sabina são a leveza, Tereza/Franz são o peso.
Sartre
Sartre, da mesma forma que Nietzsche, discutiu em suas obras o sentido da vida. Menos pessimista que o filósofo alemão, não obstante, nos deixou com um problema não resolvido. Se nós somos todos acontecimentos fortuitos produzidos por leis exclusivamente naturais, o que nos leva a criar valores idealistas e espirituais? O que leva a gastar parte da nossa vida procurando uma justificativa para a própria tarefa de viver?
O romance de Kundera, discute, fundamentalmente a questão do sentido da vida. De uma forma romanceada, ele faz a mesma pergunta que Nietzsche e Sartre fizeram em sua obras. A vida tem sentido? Nascemos e vivemos por força de uma Vontade Superior que nos colocou aqui para alguma missão ou simplesmente somos acontecimentos fortuitos produzidos por leis exclusivamente naturais?
Se acreditarmos que a vida tem sentido e finalidade, então estaremos mais propensos a aceitar o peso do engajamento. Se não, levaremos a vida como um mero problema de existência, ou como dizia Sartre, uma jornada entre o ser e o nada, que se resume em preencher um vazio que se coloca a nossa frente. Nesse sentido, nada valem as nossas dores, os nossos afetos, a nossa piedade, o nosso amor, o nosso engajamento, por que tudo está submetido a uma eterna e lógica previsibilidade que se repete infinitamente no tempo.
O sentido da vida
Kundera não resolve o problema do sentido da vida, da mesma forma que Sartre e Nietzsche não o fizeram. Aliás, essa é uma questão que ninguém nunca resolverá por que a vida só tem mesmo algum sentido se nós mesmos lhe dermos algum. Na verdade, o romance chega a ser um tanto obscuro e deixa o leitor com as calças na mão. O que escolher? O peso do comprometimento, da crença de que somos parte de um destino manifesto, ou a leveza de uma vida onde só os sentidos interessam?
A Insustentável Leveza do Ser foi publicado em 1984 quando o Império Soviético começava a sofrer as primeira rupturas filosóficas num bloco que parecia ser monolítico. A Primavera de Praga, revolta dos estudantes e intelectuais tchecoslovacos contra domínio russo aconteceu em 1968. Pode ser considerado uma reação do espírito contra o materialismo dialético que a ideologia soviética espalhou pelo mundo. O espírito, como entidade independente da matéria não existe, dizem os materialistas. Ele é igual á mente. Ele se desenvolve de fora para dentro ― por força das condições ambientais― e não de dentro para fora, como acreditam os idealistas, os religiosos, os românticos e todos os crentes numa realidade que transcende a matéria. Os soviéticos reprimiram a revolta e por algum tempo impuseram uma derrota ao espirito do ideal. Mas o império soviético acabou ruindo uma década mais tarde justamente porque não conseguiu criar um verdadeiro espírito. Paradoxos da História.
A Insustentável Leveza do Ser vendeu mais pelo título do que conteúdo. Para os escritores essa é uma boa lição. Não queiram resolver problemas filosóficos complicados com seus escritos. Pouca gente está preocupada com questões dessa ordem. O melhor é contar uma boa história e no fim deixar para o leitor resolver qual teria sido o melhor desfecho. É melhor viver a vida de forma real, procurando tirar dela o que de melhor ela tem ou é necessário colocar um um pouco de idealismo para que ela tenha um verdadeiro sabor?