Resenha Crítica de O triste fim de Policarpo Quaresma - Lima Barreto

O Pré-Modernismo é uma fase literária marcada pelas mudanças, a palavra chave é destruição, mas não a destruição física, uma destruição dos ideais das escolas anteriores. Nada de floreios e palavras bonitas, a linguagem da vez é a jornalística. Fatos explícitos e reais são os marcos de obras importantes como Os sertões de Euclides da cunha, por exemplo.

Surge então Lima Barreto que se utiliza de um linguajar mais coloquial, menos rebuscado, propositadamente, almejando assim, atingir as massas com suas publicações.

O Major Policarpo Quaresma é um ufanista, tende ao nacionalismo exacerbado, com idéias loucas para resgatar a identidade brasileira. Acredita que o Brasil deveria impor-se a Revolução Nacionalista e busca inutilmente memórias com uma velha que não se lembrava nem mesmo das canções de ninar de sua infância.

Não obstante a isso o nosso Major chega a sugerir que o Tupi- Guarani seja aceito como idioma oficial do Brasil, e vira motivo de pilhéria em seu meio social. Seu nacionalismo é visto como utopia pelas pessoas, sonhos estes que o levaram à morte.

Lima Barreto critica veementemente a sociedade e seus costumes, abrange preconceitos e as diferenças sociais da época. Vemos em sua obra uma reação natural do homem que, veio da classe média suburbana e reage como suburbano. Falando em termos de conservadorismo sentimental; a sua xenofobia filiava-se a um natural instinto étnico-social, por ser mulato e alcoólatra, o próprio Lima Barreto acabava por se excluir, ainda que as demais pessoas em seu meio social não o fizessem, existia um preconceito velado que ele alimentava.

Ao adquirir seu “sítio sossego”, Quaresma sofre com os impostos e as formigas que atacam suas plantações e acaba por engajar-se numa batalha ao lado de Floriano Peixoto e termina acusado de traição e condenado à morte.

No livro O triste fim de Policarpo Quaresma, o personagem ganha ares de Dom Quixote. Semelhança esta comentada por críticos renomados como o Professor Alfredo Bosi.

“... tem Policarpo algo de quixotesco, e o romancista soube explorar os efeitos cômicos que todo quixotismo deve produzir, ao lado do patético que fatalmente acompanha a boa-fé desarmada...” (pág. 319 46ª edição)

Os ideais de Policarpo Quaresma nada tinham a ver com os de Dom Quixote, Quaresma era exageradamente nacionalista, pensava num bem comum, e Quixote tinha pretensões aventureiras. Assemelham-se pelas passagens cômicas na obra de Lima Barreto.

Lima Barreto criticava tudo que dizia respeito ao processo de modernização do Brasil, Foi um dos inovadores da literatura brasileira, com sua forma de escrever, e com os temas que abordava, uma já que sua obra volta-se para uma crítica f à sociedade em geral, trazendo à tona o cotidiano do preconceito e marginalização social e racial. Lima Barreto via na literatura uma forma de denunciar toda a hipocrisia que imperava

A obra é repetitiva e cansativa, porém serve de lição de moral a um povo que não luta por seus ideais. Um Major quaresma não faria a diferença nunca, mas milhões fariam, não haveria como provar uma insanidade coletiva. Ao ler a obra, se cada brasileiro abstraísse um décimo do amor à pátria que o major Quaresma possuía, com certeza mudariam o Brasil.

Isabel cristina Oller - Professora de literatura