O que é Arte?
Livro: O que é Arte
Autor: Jorge Coli
Editora: Brasiliense
Introdução
“O que é Arte?”
O que é arte para um...pode não ser para o outro. O que é uma arte grandiosa hoje...pode amanhã ser inferior ou até mesmo esquecida. O que designa a um objeto o estatuto ARTE?O local ?O discurso?As atitudes?Admiração?
Quem determina o que é arte? Quem estipula maior ou menor importância? Aliais, quem estipula o valor da arte? A arte pode ser categorizada? É possível determinar com precisão o estilo de um artista? O que é mais importante a obra ou estilo que pertence? A apreciação artística é inata?
Bem, estas são algumas das muitas perguntas que serão respondidas no decorrer desta reflexão, com base na obra de Jorge Coli. Ele de forma simples aborda as diversas contradições, abordagens e visões referente a Arte, confrontando opiniões, levando a nós leitores a acompanharmos a sua linha de pensamento através de seus exemplos, de forma esclarecedora, o que poderá ser observado nas reflexões que seguem.
O que é Arte
Um dos pontos importantes que durante toda a obra Coli ressalta é que : o que é arte para uma cultura, não necessariamente é para outra, ele ainda cita o exemplo de objetos utilizados em cultos indígenas ou africanos, para eles é apenas objetos religiosos de seus ritos, para nós é considerada arte, assim como muitos objetos são considerados, desde que estejam em um local, tenha um discurso em torno e propicie atitudes de admiração.
Um crítico pode negar o caráter artístico de uma produção, dizendo que de acordo com os seus critérios a produção não é uma obra de arte, também podendo classifica-la como de maior ou menor importância que a outra; considerando-a uma obra prima ou uma obra insignificante, sendo assim o crítico atribui o estatuto Arte. Antigamente uma obra prima era o resultado da aprendizagem de um oficio, não tinha nada haver com inovação ou originalidade, mas sim com a perfeição ocasionada pelo domínio das técnicas necessárias para a produção.
Os discursos dos críticos ao determinar o estatuto arte é mais arbitrário do que basear-se na perfeição técnica, eles levam em conta a afinidade entre a sua cultura e a do artista e também as “coincidências com os problemas tratados, de conhecimento mais ou menos profundo da questão” (Coli, pág 17), além de muitos outros elementos que favorecem na escolha de preferência por determinada obra, determinando a hierarquia dos objetos artísticos; quando houver divergências no discurso, prevalece o que a maioria discursa, o chamado consenso geral é o que valoriza a obra dos artistas.
No entanto a valorização de uma obra sofre alterações de época, sofrendo a mudança do conceito arte no tempo, ou seja, pode ser que determinado objeto seja uma arte grandiosa hoje, mais amanhã um crítico pode dizer que ela não é tão boa assim; com o tempo algumas coisas prevalecem, as chamadas obras dos grandes mestres, outras são esquecidas, podendo inverter-se a exaltação de uma obra, com a intervenção de uma nova avaliação crítica, assim como a sociedade muda o contexto, a arte também muda, sendo assim o discurso não é definitivo, as vezes até contraditório, não permitindo uma segurança em relação ao universo artístico.
Apesar das mudanças ocasionada pelo tempo(época) a história da arte e os críticos não deixam de querer determinar um veredicto sem justificações, atribuindo uma qualidade ao objeto artístico, tentando dar as artes um caráter quase que cientifico, visando atingir bases mais sólidas. Tendo como principal instrumento as categorias de classificações estilísticas, no entanto, não são todos os artistas que apresentam um estilo imutável em todas as obras, como no caso de Ingres; a maioria transforma-se, modificando seu estilo com o correr do tempo, podendo um só criador apresentar em suas produções várias tendencias estilísticas diferentes, que mudam com o tempo e normalmente são classificadas como fases do artista, mas é claro que se conhecemos suficientemente o estilo de um artista , reconhecemos sem o uso de “etiqueta” a sua produção, devido a familiarização com o artista, mais deve se: reconhecer que a produção artística passa por evoluções, transformando-se. Ocorre também a classificação de estilos tendo como cenários as épocas, agrupando as diferentes obras por pertencerem ao mesmo período, possibilitando a reagrupação dentro da época por afinidades entre as produções. No entanto, não deve-se reduzir uma obra a um estilo, limitando-as com as classificações formais como padrões únicos, isto seria empobrecer a obra.
Ao delimitar um estilo, estamos categorizando obras/artista, isto nos dar uma maior tranquilidade e organização quanto ao conhecimento, porém existem obras muito complexas que tendem a fugir das categorizações/classificações, por não se reduzirem a definições lógicas e formais, , sendo que o mais importante são os elemento que ultrapassam a formalidade como a sensibilidade e uma atitude diante da sociedade; ressaltando que as classificações não são exatas elas agrupam artistas/obras por razões diferentes, de forma parcial e não visando rotular-los, por que o que interessa não é descobrir o estilo de determinada obra , mas quais as preocupações que o artista revela , como é a visão nas artes de seu tempo, não é algo que possa se medir e determinar com precisão, deve sempre lembrar-se que não deve prevalecer a classificação a obra.
Além da classificação em estilos, ocorre também a redução a esquemas formais que visam dar rigor formal a analise das estruturas próprias das obras (linha,cores,volumes...), na tentativa de molda-las, excluindo a problemática relação arte/ cultura e compreensão do objeto artístico, sem duvidas o conhecimento formal é necessário, mais não é o primordial.
É necessário fazer se uma distinção entre historiador e critico já que muitas vezes confundi se suas funções, antes de continuar esse discurso.
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Crítico: analisa, seleciona,conhece o passado histórico da produções artísticas, compara e atribui um julgamento de valor quanto ao objeto artístico.
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Historiador:Evita inicialmente o julgamento de valor a obra, preocupando-se com a compreensão objetiva, tendo uma seleção como consequência da compreensão dos fenômenos artísticos.
Nos também selecionamos o que é arte, , só que de forma leiga, através de uma seleção intuitiva, de acordo com Malraux, fazemos esta seleção com obras que não possuem relações evidentes entre si, mas que a subjetividade tem o poder de descobrir a força artística que esta no objeto, sempre baseando se na cultura que estar a determinar o objeto artístico, aceitando ou não os objetos de outras culturas e outros tempos.
Geralmente um objeto é reconhecido como artístico, por estar em um espaço que inspira arte (museu, teatro, galeria...) e tenha sido aceito pelos críticos e historiadores, Duchamp provoca e surpreende a todos ao introduzir a ready-made, colocando um mictório em um museu, levando a reflexão do que é arte? Tudo é arte desde que aceito em um museu? No entanto em vez de reflexão o mictório acabou tornando se um objeto artístico digno de reflexão e admiração. É um tanto engraçado a negação a arte tornou-se arte. Os objetos artísticos mudaram, modificando-se com o tempo, desviando-se, assim como as funções e sentidos dos objetos, desde que recebam a etiqueta “artístico”, acabamos desvinculando as significações originais, atribuindo significações de nossa cultura .
Tudo muda com o tempo, assim como as obras de artes, já que são provisorias e neste ponto que entra o trabalho dos restauradores, na tentativa de prolongar a vida da obra, ocasionando modificações que podem ser felizes ou comprometedoras, na tentativa de mante-las contra os desgastes ocasionados pelo tempo, fazendo com que as obras tornem-se diferentes de sua aparência primitiva. Além de lutar contra o tempo pra sobreviver, ainda ocorre o problema da falta de comprovação de determinadas obras, podendo muitas vezes atribuir a tal artista uma obra sem ter um veredito, por falta de documentos e por falta de assinatura, tendo apenas uma confirmação de especialistas/ autoridades de pesos que atribuem a uma obra a um determinado artista de acordo com as características do artista, tendo em sua etiqueta o termo atribuído, só retirando-a caso o conservador do museu esteja convencido de sua autoria.
Coli compara a arte como um elemento da vida, que não é imediatamente essencial como o alimento, roupas, transportes e demais objetos que nos propiciam a sobrevivência, chega a dizer que a arte é supérflua, desnecessária, quando associada a um objeto útil ou um ornamento. No entanto, quando um determinado objeto utilitário perde a sua real função e acaba recebendo outra função como a artística, deixando de ser utilitária e tornando se gratuita, perdendo sua utilidade primaria, emerge assim como essencial. A Arte representa a nossa cultura, o desenvolvimento das emoções e intuições humanas, porém é frágil, tendo que manter se no tempo através de seu prestigio “arte”, possuindo funções econômicas e sociais , necessitando de assistência no sentido de criação, conservação e proteção artificial do governo ou de empresas privadas, tendo ausência destes, acarreta-se uma maior fragilidade e dependência para manter-se.
E assim sobrevive a obra de arte, sendo que o pintor desconhecido de hoje, pode transformar-se no grande mestre do amanhã, sendo assim o que não é valorizado no presente futuramente poderá ter valor muito maior, assim como a morte do artista reflete em sua obra, aumentando o valor da mesma; o que compra se barato hoje poderá render muitos lucros amanhã, circulando no mercado financeiro, fazendo com que a obra não seja mais arte, mais sim um investimento financeiro, onde pode-se destacar o papel do marchand que sustenta o mercado da arte estocando as obras para diminuir a oferta, até que a procura seja alta, para vender por um preço bem maior, visando primeiro a valorização da obra para garantir bons rendimentos. Estes marchand tem como cúmplices as vanguardas que anunciam a renovação cultural, que estimulam e atrai os colecionadores para novas compras de obra da nova fase e do novo movimento, alimentando e fazendo sobreviver a arte contemporânea.
Assim como a arte plastica, como a pintura tenta sobreviver ao tempo, o mesmo acorre com outras artes este é o caso da opera, do teatro, do cinema e da televisão, cada uma sucessora da outra em termos de financiamento, tendo em vista a economia e um melhor retorno de lucros, mantendo apenas um resídio cultural que artificialmente a mantem, assim como também a arquitetura que apesar de ter um nome de um renomado arquiteto como responsável não tem a garantia de permanência de seu valor comercial, muitas vezes dependendo de instituições oficiais e de legislações protetoras para sobreviver.
A arte também tem um caráter elitizante, responsável por distinguir e valorizar socialmente uma elite que usa a arte como afirmação de sua classe social, ostentando sua posição e endinheiramento através de um fictício refinamento cultural, pois interessar-se por arte significa ser mais culto e destacar-se diante dos outros incultos.
A arte escapa as amarras da razão, liga se aos canais da emoção, intuição, espanto, intuições, evocações e seduções, nunca de forma acabada permitindo a cada observador uma aproximação com o objeto artístico sem esgota lo, nos fazendo perceber a obra indo alem do discurso , sendo que a arte apesar de parecer obediente e mensageira, traz em si sinais e marcas guiadas pelo não racional coletivo, social e histórico, através de nosso contato com a arte nos transformamos, ultrapassamos a barreira do lógico, pela sensibilidade. Uma obra não é feita para o artista, mas para a dinâmica com o observador, ela não explicativa, mas tem o poder de fazer sentir e nos levar a diversos sentimentos, causando prazer.
Fruir arte não é um dom, algo imediato que já vem em si, é necessário conhecer a arte e suas diferentes relações e referencias, assim como a evolução no tempo que transforma cada artista, criando uma relação mais elaborada com a obra. Gostar ou não, pouco tem haver com possuir uma sensibilidade inata, pois o gostar necessita de elementos da cultura que pertencemos, que nos levaram a dotar critérios de preferencia. Todos nos temos afinidades e preferência com determinadas coisas, o mesmo acontece com as produções.
Retomando ao discurso referente a arte, deve se estar ciente, que ele não esgota o objeto artístico, tem sim o intuito de enriquecer a obra, mas deve ser usado com cautela, com o fim de apenas auxiliar ou completar a obra e não de ser a explicação total da mesma; pois se assim fosse, onde ficaria o contato, o olhar, o interpretar...algo tão subjetivo? Vivemos um mundo de imagem, somos bombardeados por elas, nos sobrando pouco tempo para uma leitura mais elaborada, com isso vamos perdendo o habito de analisar, de observar mais atentamente estas imagens, o que se reflete na enumeração de uma pintura que torna-se uma atividade não tão simples, quanto pode parecer, para isso é necessário treino e ao se fazer este exercício de percepção poderá ser revelado detalhes que passam despercebidos ao nosso “olhar apressado”, após o treino desse olhar pode-se colher informações sobre o quadro, o autor, comparar diversas obras do mesmo artista ou de outros artistas que tenham afinidades com o artista em questão, fazendo um verdadeiro rizoma, situando-o em sua cultura e em seu tempo, fazendo uma relação com o seu cotidiano.
O acesso a arte e sua frequentação não é dado a todos, ainda mais quando falamos de um país subdesenvolvido como nosso, pois as manifestações artísticas tornam-se caras e também ficam concentradas nas grandes capitais, o que dificulta o acesso a todos, em geral como casos de teatros, operas, entre outros, apresentam um preço muito além do orçamento de nossos bolsos, restando nos a arte de massa: televisão, rádio e álbum, nos distanciando dos concertos, teatros, museus e cinemas, atualmente elitizados, no entanto muito necessários para a nossa formação e conhecimento.
Considerações Pessoais
Muitas das perguntas feitas inicialmente na introdução desta reflexão foram respondidas no decorrer da leitura feita sob a obra de Coli e o fichamento da mesma (ver introdução no inicio da reflexão). Coli nos guia pela sua linha de pensamento esclarecendo cada contradição nesse campo amplo que corresponde a arte, sendo que o que é arte para um pode não ser para o outro; depende muito da cultura que se esta inserido.
O objeto artístico não é permanente trava uma infindável batalha contra o tempo, tanto para conservar-se, quanto para manter o estatuto arte, já que assim como a sociedade muda, o conceito e material artístico também muda e não é o unico, a importância na hierarquia artística também muda, ou seja, o que é muito valorizado hoje, dito como uma arte grandiosa, amanhã poderá ser vista como inferior ou esquecida. E nesse ponto que entra o papel dos críticos atribuindo o estatuto arte, assim como valorizando ou diminuindo a importância de um objeto artistico, através de seus discursos, que podem ser contraditórios, prevalecendo assim a opinião da maioria, lembrando-se que não é definitivo, podendo a avaliação de determinado objeto mudar após a aceitação de um outro crítico a obra. Assim como o históriador tem que conhecer a história da arte, o crítico também tem que conhecer, para poder avaliar, analisar, comparar e selecionar diferentes obras, para assim atribuir um valor, enquanto o históriador preocupa-se em compreende-la tendo a seleção como consequência.
O uso dos estilos são realmente uteis para ajudar na organização do conhecimento, mais não devem prevalecer o estilo a obra, pois esta ultima tende a fugir das classificações rotolativas e ao se taxar uma obra corre se risco de empobrece-la, também deve se levar em consideração que um mesmo artista pode apresentar diferentes mudanças em sua produção artisticas, transformando-se e evoluindo, afinal se o que arte muda no tempo, imagina a produção artistica; melhor exemplo disto é Duchamp é sua anti arte, que após ser aceita por críticos e estar em um museu, virou arte, fazendo muitas pessoas pararem admiradas diante do mictório e fazerem diversas reflexões.