O RESERVA - RUI ZINK
“A importância das cerimônias. São momentos tornados monumentos. Imortalizados pelo rito. Não importa qual rito. Amém.”
Um romance único. Vidas entrelaçadas numa tragédia universal, a morte de um menino de quatro anos, e os desdobramentos jurídicos, sociais e individuais. Não há suplência para as esperanças, para os sorrisos, para a vida gestada, para as lembranças que se perdem numa intolerável conjugação pretérita...
Três gerações e muitas perspectivas. O valor da vida de Tiago será avaliado com parâmetros delineados nas características de cada personagem.
O comentarista esportivo Paulo Gomes não consegue fixar o nome dos reservas dos times de futebol e, após uma narração mal-sucedida, atropela acidentalmente Tiago na saída do estádio. A vítima será um problema jurídico a ser resolvido que lançará sua vida profissional e afetiva num turbilhão. Ema, a esposa traída, se aproximará solidária à tragédia, a jovem amante Mila se distanciará sensibilizada com as conseqüências do acidente, a irreparabilidade de uma vida perdida e a sofrida permanência dos pais.
A mãe de Tiago se abandonará na dor e só resgatará o sentido da vida na possibilidade de vingança, sobreviverá à perda com as esperanças lançadas na reparação judicial alardeada pelo advogado. O avô encontrará no grupo de velhos amigos o apoio para uma vingança simbólica que dará um novo ânimo para todos. O pai, marcado pela culpa e pela tristeza, viverá os julgamentos e encontrará no corpo de Mila, amante de Paulo Gomes, a possibilidade de continuar o jogo, escalando um reserva sem a paixão ou convicção das escalações titulares.
“O insuportável vem depois. Quando passou o choque mas ainda não passou o choque. Quando o relógio pára. Quando a dor já não dói, porque dói tanto que já estamos anestesiados, como droga que já não bate porque o corpo se fechou em copas. Então, quando já não há dor, ou quando ainda não há dor, é que tudo se torna estranho.”
Após os jogos cênicos dos advogados, as expectativas lançadas aos holofotes da mídia e as dores aplacadas sob as cicatrizes do esquecimento ou os curativos psicotrópicos, a continuidade se dará no recolhimento do murcho ventre da mãe da vítima e da morte do avô, será também o arremesso das duas sementes, dois ventres gerados na interrupção da trajetória do pequeno Tiago, concentrados no enredo que une e separa definitivamente a vida dos personagens num jogo definitivo. Talvez.
Rui Zink nasceu em Lisboa em 16/06/1961. Integrante da nova geração de escritores portugueses, é professor da Universidade Nova de Lisboa e autor de Hotel Lusitano (1987), Homens-aranhas (1994) e Apocalipse nau (1996)