CEM ANOS DE SOLIDÃO
AUTOR: GABRIEL GARCIA MARQUES

Tradução Margarida Santiago
Editora Publicações Dom Quixote- São Paulo, 1988


Acabo de ler uma edição espanhola de Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marques, livro que comprei em Cusco, no Peru, quando fui visitar Machu Pichu. Engraçado, já tinha lido esse livro nos anos setenta, em português, mas não tinha me dado conta de quão biográfico ele é. Na língua original parece que a gente descobre outro encanto que não havíamos percebido antes. É bem possível que agora, do alto da minha terceira idade, e depois de viver e conhecer algumas pessoas que participaram de aventuras que poderiam fazer parte da saga dos Buendia, eu esteja vendo com outros olhos esse universo maluco de Gabriel Garcia Marques.
Maluco mas nem tanto. Realismo fantástico, vá lá. Mas é só andar um pouco pelo interior da América Latina (não nas grandes cidades, onde o modo de viver europeu esconde a cara do verdadeiro espírito da gente nativa destas terras), que a gente vê o que o autor quis dizer com a sua bizarra história da cidadezinha de Macondo e a não menos estranha saga da família dos Buendias.
Entendi finalmente porque esse livro é considerado um dos melhores trabalhos da literatura latina escritos até hoje. A história se desenrola numa aldeia remota em algum lugar da América Latina, em um país não identificado, mas que poderia ser qualquer um dos países latino americanos, pois se há uma identidade cultural entre os povos que habitam a América Latina, estas podem ser identificadas nas centenas de aldeias semelhantes á Macondo do livro e na família Buendia. E principalmente na velha hierarca da família, a centenária Úrsula.
Macondo é uma pequena povoação fundada pela família Buendía – Iguarán. Eles formam o casal José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán. Tiveram três filhos: José Arcadio, um rapaz forte, viril e trabalhador; Aureliano, um sujeito introvertido, intelectualmente irrequieto e estranhamente envolvido com rebeliões e estórias fantásticas que envolvem ciganos, alquimistas, estranhas invenções, loucos empreendimentos e uma eterna revolução que nunca acaba e ninguém sabe porque estão lutando.
Os cem anos de solidão do título são, por definição, a história da vida de Úrsula, a matrona da Família Buendia. Úrsula, aqui, é a própria América Latina, que produz filhos tão estranhos quanto heroicos; tão patéticos quanto românticos; tão assustadoramente reais quanto compreensivelmente fantásticos. Percebe-se isso lendo o Canto Geral de Neruda e as biografias de meias dúzias de Aurelianos Buendias que as várias nações latino americanas têm produzido ao longo das suas Histórias.
Eis alguns deles:

EMILIANO ZAPATA, O BUENDIA MEXICANO.


Emiliano Zapata Salazar (1879 – 1919) foi um dos líderes da Revolução Mexicana de 1910 contra a ditadura de Porfirio Díaz. Considerado um dos maiores heróis nacionais do México, Zapata até hoje serve de inspiração para grupos revolucionários, como o movimento zapatista, iniciado no estado de Chiapas nos anos oitenta.
Zapata nasceu no estado mexicano de Morelos, um pequeno vilarejo da província de San Miguel Anenecuilco (atual Ciudade Ayala). Naquela época, final do século XIX, o México era governado pelo ditador Porfirio Díaz, que tomou o poder num golpe militar em 1876.
A economia mexicana, na época, ainda conservava muitos resquícios de feudalismo implantado pela colonização espanhola. Seu território era dividido em grandes fazendas (haciendas), que usavam o trabalho dos nativos em regime de semi escravidão (peonagem).
Emiliano Zapata e seu irmão Eufêmio eram pequenos rancheiros em Morelos. Nunca foram obrigados a trabalhar de peões para os grandes fazendeiros, mas logo perceberam que o regime existente no país jamais permitiria que ele e outros como ele, pequenos fazendeiros independentes, progredissem. .Acresce que ele era mestiço, meio índio, meio branco, e isso o fazia vítima de preconceito entre as famílias importantes do país, todas de origem europeia.

A independência de Zapata e sua clara disposição de combater as mazelas do governo mexicano atraiu a simpatia dos peões e da miserável população campesina que era a grande maioria do país. Ele logo se envolveu nas lutas dos indígenas do estado de Morelos. A princípio tentou, politicamente, realizar a tão sonhada reforma agrária mexicana, mas depois de alguns anos de tentativas infrutíferas, chegou à conclusão que teria de partir para o confronto armado. E assim, começou a sua revolução se apossando das terras no estado de Morelos e fazendo a divisão delas pelos camponeses por sua própria conta.
Na época duas facções disputavam o poder no México: a facção liderada por Porfirio Díaz e coligação que apoiava Francisco Madero. Madero prometia mudanças radicais no país, inclusive na questão agrária. Zapata resolveu apoiá-lo. Formou um exército de peões no sul do país, e impôs pesadas derrotas aos porfiristas.
Díaz foi derrubado por Madero em 1911, em grande parte devido as vitórias das milícias formadas pelos peões. Zapata liderava os camponeses do sul e Pancho Villa, um guerrilheiro que tinha fama de bandido, liderava os peões do norte. Madero havia prometido reforma agrária, liberdade e apoio para os pequenos proprietários, mas tão logo tomou o poder esqueceu-se das promessas. Zapata havia desenvolvido um projeto de reforma agrária denominado Plano Ayala, o qual não teve o apoio de Madero, que na verdade, já havia se comprometido com os grandes proprietários e não tinha a menor intenção de fazer qualquer reforma no campo que beneficiasse os camponeses e prejudicasse os grandes proprietários. Em razão disso Zapata mobilizou novamente o seu exército de peões e retomou a luta armada contra o governo.
Em 1911 um golpe militar liderado por Victoriano Huerta derrubou Madero e acirrou a luta contra as forças camponesas lideradas por Zapata e Pancho Villa. Entrementes, na capital e nas cidades mais importantes do México formou-se um terceiro grupo de resistência e luta contra o governo, liderado por Venustiano Carranza, que se propunha a fazer uma nova constituição para o país, que contemplasse todos os direitos das facções em luta. A coligação venceu a luta e os lideres da revolução, com Huerta, Villa e Zapata á frente do exército entraram na cidade do México em julho de 1914, dando fim a uma das mais sangrentas revoluções do Século XX.
Mas os resultados da Convenção que foi convocada para fazer uma nova constituição e resolver os problemas mexicanos não agradou a Zapata. Ele logo verificou que os direitos pelos quais lutara não seriam garantidos e que muito pouca coisa mudaria para os camponeses. Em consequência ele se recusou a participar do novo governo e continuou a mobilizar tropas para continuar a lutar. Tornou-se um dos mais procurados inimigos do estado, com uma vultosa recompensa oferecida por sua cabeça.
Em 9 de abril de 1919, um general de nome Jesus Guajardo armou uma emboscada para Zapata perto da cidade de Cualtla, estado de Morelos. Zapata foi fuzilado a queima roupa e teve o seu corpo abandonado na praça pública de Cualtla. Após sua morte seus partidários se dispersaram e a tão sonhada reforma agrária só seria feita, de forma muito tímida, em 1934, no governo de Lázaro Càrdenas.
Assim viveu e morreu o Aureliano Buendia mexicano. Mas o seu ideal ainda inspira muita gente no México e em outros países do chamado Terceiro Mundo. No México ainda há um grupo de guerrilheiros zapatistas lutando para implantar a reforma sonhada por Zapata.

ERNESTO CHE GUEVARA, O BUENDIA ARGENTINO/CUBANO/BOLIVIANO


Ernesto Che Guevara nasceu em 14 de junho de 1928 na cidade de Rosário, sendo o mais velho dos cincos filhos do casal Ernesto Lynch e Celia de la Serna y Llosa. Aos 12 anos mudou-se com a família para uma pequena cidade próxima à Córdoba, onde as pessoas viviam praticamente na miséria. A mãe, Célia, foi sua principal educadora. Mulher culta e educada, tinha um grande conhecimento das doutrinas sócio econômicas, especialmente as de orientação socialista, as quais ensinou a Che. Assim, desde a adolescência ele já era familiarizado com as obras de Marx, Engels e Lenin, cuja doutrina mais tarde iria adotar como filosofia de vida.
Em 1947, ele entrou na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires. Antes de formar-se médico, e pensando ainda em que rumo dar à vida, ele se junta a um amigo, Alberto Granato, e resolve realizar uma longa viagem de motocicleta pela América do Sul. Nessa viajem, percorrendo 10.000 km por vários países da América do Sul, ele observa a realidade latino americana e começa a formatar seu pensamento revolucionário. Essas observações ele as conservou em um diário que recentemente foi transformado em filme “O Diário de Motocicleta.”
Essa viagem mostrou a Che o estado de pobreza e injustiça social que marcava a vida dos camponeses. Identificou-se com eles, chegou mesmo a trabalhar no interior do Peru, tratando de leprosos. Quando voltou á Argentina foi terminar seu curso de medicina (fazer residência) para obter licença para clinicar. Declara-se em oposição ao governo peronista e se recusa servir no exército argentino. Simula uma crise de asma para ser dispensado.
Em 1953 viajou para a Bolívia onde viveu algum tempo; depois seguiu para Guatemala onde se casou com a peruana Hilda Gadea Acosta e conheceu o guerrilheiro esquerdista Ñico Lopez, que mais tarde o apresentaria a Raúl Castro no México.
Foi na Guatemala, onde os camponeses lutavam por uma reforma agrária que contrariava os interesses das companhias americanas que mandavam no país que Che Guevara tomou a sua decisão de lutar contra aquilo que ele considerava o imperialismo americano. Uma di-tadura militar, comandada por Anastasio Somozza havia tomado o poder, num golpe orquestrado e financiado pelos americanos. Com a sua adesão á causa camponesa ele se tornou persona não grata na Guatemala. Perseguido pela ditadura, Che mudou-se para o México, onde começou a lecionar em uma universidade e trabalhar no Hospital Geral da Cidade do México. Foi lá que Ñico Lopez o apresentou a Raúl Castro, que na época se encontrava refugiado naquele país após a fracassada revolução em Cuba em 1953. Raul e Che se tornaram amigo e este logo o apresentou ao seu irmão mais velho Fidel. Assim foi formado o triunvirato que mais tarde iria tomar o poder em Cuba.

Durante os próximos três anos eles iriam planejar a revolução cubana. Em 25 de novembro de 1956, á frente de um grupo, eles desembarcam em Cuba e se refugiaram na Sierra Maestra, de onde começam a formar o exército rebelde e a mover uma bem sucedida guerrilha contra o governo de Fulgêncio Batista, um ditador apoiado pelos americanos, mas odiado pelos cubanos. Em 1959 eles finalmente conquistariam a vitória, e Che tornou-se cidadão cubano. É, nesta altura, o segundo homem mais poderoso de Cuba. Segundo algumas fontes, os irmãos Castro não eram comunistas e não pretendiam levar Cuba para a esfera de influência soviética. Foi Che Guevara, ele sim, comunista convicto, o responsável pela adesão de Cuba ao bloco soviético e pelo confronto aberto que esse país assumiu com os Estados Unidos a partir dessa época, conflito esse que provocou o famoso episódio da Baia dos Porcos, que quase levou o mundo a uma guerra nuclear em 1959..

Guevara não se contentou em conquistar Cuba para o comunismo. Sonhava implantar esse regime em toda a América Latina. Para isso planejou fazer de Cuba uma base de exportação de sua revolução. Pensava leva-la a todos os países da América Latina e África. Tentou duas escaladas dessa ordem, uma na Argentina em 1964 e outra no Zaire, em 1965. Falhou em ambas as tentativas, segundo ele por falta de apoio do governo cubano, o que o levou a indispor-se com os irmãos Castro. Magoado, deixou Cuba e foi para a Bolívia, onde esperava sublevar o povo e realizar ali a sua revolução. Disfarçado de economista uruguaio, Che Guevara entrou na Bolívia em novembro de 1966, liderando um grupo de 50 guerrilheiros cubanos, bolivianos, argentinos e peruanos. Estabeleceram-se numa base numa região inóspita no Sudeste do país. O plano era treinar guerrilheiros suficientes, oriundos de vários países, para começar uma revolução continental que começaria pela Bolívia e depois iria se espalhando pelo continente.
Guevara não conseguiu seu intento. Depois de dois anos de escaramuças contra o exército boliviano, não conseguiu a adesão do povo nem o apoio dos governos comunistas. Seu exército guerrilheiro nunca passou de mil combatentes. Perseguido pelas forças do governo e repelido pelo povo a quem queria libertar, foi capturado em 8 de outubro de 1967 e levado para uma aldeia chamada La Higuera, a 50 quilômetros de Vallegrande, onde foi executado. Tinha apenas 39 anos de idade.
Che Guevara tornou-se o ídolo dos intelectuais e políticos de esquerda em todo o mundo. Em 17 de outubro de 1997, seus restos mortais foram finalmente trasladados para Cuba, onde foi enterrado com honras de chefe de estado na cidade cubana de Santa Clara onde liderou uma batalha decisiva para a derrubada de Batista.

LUIS CARLOS PRESTES - O AURELIANO BUENDIA BRASILEIRO

Entre os anos de 1925 a 1927 Luis Carlos Prestes liderou um movimento político-militar chamado Tenentismo que consistia de um grupo de guerrilheiros que se deslocava pelo interior do Brasil pregando reformas políticas e sociais baseadas na filosofia comunista e combatendo o governo do então presidente Arthur Bernardes e, posteriormente, de Washington Luís.
É um episódio pouco conhecido da História do Brasil, e as motivações desse grupo de jovens tenentes nunca ficaram claramente definidas. Sabe-se que a ala jovem do exército brasileiro estava insatisfeita com a política da chamada República e com as reformas que os governantes vinham promovendo. Suas aspirações eram bastante ambíguas. Ao mesmo tempo em que exigiam ensino público para facilitar o acesso às informações por parte da população carente, propugnavam por um governo centralizado, elitista e antidemocrático. Na verdade, as ideias tenentistas refletiam as tendências politicas e sociológicas da época, marcadamente confusa em termos ideológicos. É a época da ascensão da União Soviética, cuja revolução, em 1917, implantara o regime comunista na Rússia e o espalhara por inúmeros países. Na Alemanha Hitler ensaiava os primeiros passos para a implantação do nazismo e na Itália Mussolini começava o seu trabalho de implantação do governo fascista. Na Espanha os prenúncios da revolução franquista já se anunciavam no ar.
Os tenentistas refletiam todas essas tendências. Alguns eram comunistas, outros apresentavam tendências nazi-fascistas, outros ainda, eram conservadores que propugnavam por um regime militar de caráter autoritário, mas cuja base econômica se assentasse sobre o capitalismo do café-com leite, protagonizado pelos cafeicultores paulistas e os fazendeiros mineiros e gaúchos, principalmente.
A maior parte da tropa tenentista era formada por capitães e tenentes da classe média, donde surgiu o apelido de "Soldado Cidadão", ou seja, o soldado “camarada”, por inspiração dos milicianos soviéticos que tomaram o poder na Rússia.
O movimento teve início nos quartéis de São com a revolta dos tenentes. Após a derrota do movimento paulista, em 1924, um grupo de combatentes refugiou-se no interior sob o comando do tenente Miguel Costa. No início de 1925 esse grupo reuniu-se no oeste do Paraná com um contingente liderado pelo capitão Luís Carlos Prestes, que havia partido do Rio Grande do Sul. Começa então a grande marcha da Coluna Prestes pelo interior do país, sempre com as forças federais no seu encalço. Formavam um contingente de cerca de 1 500 homens a cavalo, que atravessou, em três anos, os estados de Mato Grosso, Goiás, Maranhão e percorre parte do Nordeste e o estado de Minas Gerais. Sempre lutando aqui e ali com as tropas do governo, a Coluna Prestes atingiu a fronteira com a Bolívia, em fevereiro de 1927. O governo manda contra eles as forças policiais dos estados, as tropas de jagunços reunidas pelos coronéis das regiões atravessadas, e até contingentes de cangaceiros, com a promessa de anistia. Consta que inclusive o famoso cangaceiro Lampião foi convocado para lutar contra a Coluna Prestes, mas nenhuma das forças mandadas contra ela conseguiu derrota-la.
Na verdade, foram poucas as vezes que a Coluna Prestes enfrentou contingentes regulares do exército brasileiro. Os tenentistas sempre evitaram os confrontos diretos com exército. Mais preocupados em difundir suas ideias e espalhar a sua revolução, os rebeldes promoviam comícios e divulgavam manifestos contra o regime oligárquico da República Velha, sempre atacando o autoritarismo do governo federal, que desde 1926, mantinha o país sob estado de sítio. Esse estado de sítio fora decretado por Washington Luiz no dia de sua posse, em novembro de 1926 e perdurou durante todo seu governo.
O movimento tenentista não deu em nada. Eles não conseguiram derrubar o governo de Washington Luís nem plantar nos sertanejos o germe da revolução. Entretanto, com a reputação de invencibilidade adquirida na marcha vitoriosa pelo país adentro, os líderes do movimento adquiriram prestígio político e se tornaram um dos principais focos de oposição ás velhas oligarquias do país. Revelaram o subdesenvolvimento do país e puseram a nu a fraqueza do regime, fornecendo os elementos necessários para a Revolução de 1930.
Luís Carlos Prestes tornou-se o ícone das esquerdas no Brasil e fundou o Partido Comunista Brasileiro, que em 1935 iria liderar uma fracassada Intentona Comunista. Luis Carlos Prestes teve uma vida politica movimentada e rica de experiências, que terminou em 7 de março de 1990.

AUGUSTO CÉSAR SANDINO, O BUENDIA DA NICARÁGUA

Augusto César Sandino (1895 —1934) foi um revolucionário nicaraguense que liderou a rebelião do povo nicaraguense contra a presença militar americana na Nicarágua entre os anos de 1927 a 1933. Embora caçado e pintado como bandido por parte da imprensa americana, sua figura é festejada por muitos setores populares da América Latina, onde ele é considerado um símbolo da resistência contra a dominação imperialista. Lutou bravamente contra os Fuzileiros Navais dos EUA numa guerra não-declarada. Sua organização guerrilheira, sem recursos e pobremente armada, enfrentou o poderio americano, e mesmo sofrendo duras derrotas, ele nunca foi capturado pelas forças legalistas. Após um acordo político as tropas americanas deixaram a Nicarágua depois da eleição do presidente Juan Bautista Sacasa. Sandino desmobilizou a sua guerrilha e colaborou com o novo governo para o estabelecimento de reformas sociais visando a melhoria das condições de vida do povo nicaraguense. Mas, dois anos depois um golpe militar liderado pelo General Anastasio Somoza García, supostamente apoiado pelas companhias americanas com interesses no país depôs o presidente eleito e implantou uma ditadura que governou o país por mais de quarenta anos. Sandino foi capturado pelo exército e executado em 1934. Seu legado, no entanto, não desapareceu. Seria exatamente a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), movimento inspirado nos seus ideais que derrubaria o governo de Somoza em 1979.

Nesses quatro personagens( e outras centenas mais que poderiam ser citados aqui) cujas biografias resumidamente se coloca acima, está a inspiração dos Cem Anos de Solidão de Gabriel Garcia Marques. Macondo é esse enorme território que vai desde o México até o Chile, onde as revoluções começam e nunca acabam, porque ninguém sabe o motivo de terem começado e também ninguém fica sabendo porque acabaram. Úrsula, a centenária hierarca da família Buendia é a própria América Latina, representada na estória como protótipo das mulheres que veem seus homens, seus filhos, seus parentes e vizinhos irem para a guerra, lutar e morrer, sem nunca ser informada que resultado obtiveram com essas lutas. Mas ela também encarna o caráter forte e resistente de um povo, que não obstante a vida que leva e ao genocídio social a que é submetido geração a geração, ainda sobrevive, ama, constrói e reconstrói suas casas e cidades destruídas e guarda no coração uma indestrutível esperança. Como a matrona dos Joads, a família de retirantes do famoso romance “Vinhas da Ira”, de John Steinbeck, ela é o povo.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 22/11/2010
Reeditado em 25/11/2010
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