Em busca de Merlin
Sempre gostei das histórias que envolvem o rei Arthur e os cavaleiros da Távora Redonda. Durante os anos 1980, lembro de um desenho animado que passava no SBT, que tinha os personagens arturianos como protagonistas, das coletâneas infanto-juvenis que encontrava na biblioteca, o filme Excalibur, de Camelot 3000, entre outras referências. Recentemente assistir uma nova versão do Rei Arthur, que aliada à leitura de As Crônicas de Arthur do mestre Bernard Cornwell, passou uma nova abordagem sobre todos aqueles temas. E uma figura em especial levantou ainda mais minha curiosidade acerca seu lado realmente histórico: Merlin. Quem foi ele na realidade? Seria mesmo um mago poderoso? Ou um líder druida que aconselhou Arthur em suas batalhas?
Não sabemos as respostas, mas alguns trabalhos recentes dão luz a muitos destes mistérios. Entre eles, o livro Em busca de Merlin – a verdade por trás da lenda (Finding merlin, tradução de Rafael Aragon Guerra, Record, 380 páginas), de Adam Ardey, trata de questionar o que sabemos realmente sobre Merlin, tão importante para o ciclo arturiano de histórias, considerado mágico, profeta e conselheiro do rei da '' espada na pedra'', mas que continua uma incógnita em relação a verdadeira história do homen por trás da lenda.
Ardrey é um historiador amador que traz uma versão, após seis anos de pesquisa, que revela evidências do personagem real, da figura historica do lendario mago da corte de camelot. O livro examina o passado da Grã-Bretanha para mostrar a real face que 1500 anos de historiografia escondera.
''Se eu estiver certo, durante 1500 anos, aqueles com poder para tanto apresentarem uma historia que condizia com seus livros, não se importando em divergir de evidencias e as fábulas de arthur e merlim, que constituem o mito da fundação britânica, são quase inteiramente parte de um proselitismo baseado em vários preconceitos...”
O autor retrata, sobretudo em relação ao que ele alega ter sido uma história de repressão pelas autoridades política e religiosas da Inglaterra, que a imagem que temos de Merlim, de assistente e conselheiro de Arthur não teria nada a ver, e sim a de político, de um sábio druida e de um comandante militar escocês dos finais do século VI e início do VII. Assim Ardrey traz de volta o papel de Merlim na batalha entre a razão e a ciência no século VI, um confronto que o sábio acabaria perdendo. De sua morte aos dias atuais, os registros históricos foram alterados para que seu nome e importância fossem esquecidos ou caíssem à segundo plano. O mesmo ocorrendo com sua irmã gêmea, Languoreth, figura tão inteligente quanto poderosa, que por ser mulher, era uma ameaça ainda maior para a Igreja, que ao contrário de Merlin, ficou perdida nas areias do tempo.
É fascinante perceber o quanto os homens da Igreja conseguiram moldar a história, modificando muito da verdade, em alguns casos, até fazendo desaparecer. Quando olhamos a razão pela qual o cristianismo foi adotado pela maioria dos soberanos europeus – substituição da individualidade em favor da obediência cega – não dando a chance de nem perguntar se acreditavam no Deus cristão, e sim forçá-los a crerem. Um bom exemplo, é que a única menção da irmã de Merlin foi que era adúltera e não a figura de rainha da Escócia, casada com um rei possivelmente gay, que desempenhou um papel muito importante na história do país e foi contemporâneo de grandes figuras do período. Fato que soa estranho até nos dias de hoje, por nossas heranças cristãs.
Em busca de Merlim é um livro que não sabemos o quanto é exato, mas a pesquisa e a metodologia parece sólida o suficiente para recomendar a leitura pela quantidade considerável de resultados que cruzou em vários campos de estudo, incluindo a geografia, a línguistica e em especial, da história. Aguardemos o seu Em busca de Arthur, que trará uma outra luz ao “rei” escocês.