DE ONDE VÊM AS IDEIAS?

“Se existe uma coisa que a natureza produziu, que é refratária, mas foi transformada em propriedade, é a ideia...” (Hermano Vianna)

O livro Contos Reunidos, Volume I, de Nilto Maciel, é recheado de ideias em uma seleção que traduz a arte de viver. É revelador. Mostra aquilo que (não) queremos ver – ao olhar o detalhe, pergunto: de onde vêm as ideias? E ele mesmo responde, num dos seus tantos trechos:

“... Por acaso necessitamos da mentira para falar e continuar a viver? Por acaso não temos olhos de ver e ouvidos de ouvir?...”

Nilto assume a autoria da sua própria cultura, o sumo do poder criativo. Também encontramos nos seus contos culturas que dão significado à vida, demonstrando novos mundos; o que faz o leitor, ao ser desafiado, se reinventar.

“... Pedro Campos esfaqueou o tempo e o sol. Uma luz medonha queimou os olhos do homem...

... Pedro Campos fincou as esporas no cavalo, gritou, chicoteou o vento e desembestou no rumo da venta...”

A alma dos seus textos são as histórias pitorescas que se transformam em arte viva e cada uma delas tem a sua forma, tornando os personagens cada vez mais reais (presentes).

“Caminha Ana pelo beco esburacado, perninhas de embuá, doida para alcançar a esquina. Saltita, feito catita, de ilha em ilha, com medo de se afogar nas poças da lama...”

Todos gostam de sonhar, tanto que há quem finja ser mágico e que acredita fazer parte das revelações encontradas nos contos – como linguagem de liberdade.

“... Ódio mudo, fermentado entre quatro paredes, espumoso, envelhecido à rolha”.

Nos Contos Reunidos, as ideias se manifestam em todo lugar e situação. Percebo outro patamar de consciência: transformar a sociedade “esquecida” à imagem da vida que a cerca; que, por vezes, mostra que enfrenta o tempo no período em que descobre na diferença o seu valor. A capacidade de expor e inovar estão nas páginas para serem exploradas, espelhando a criação do autor.

Não importa qual seja a pergunta, você se surpreende com a resposta deixada por Nilto, porque ele possui o incrível poder de captar os impactos do emaranhado cotidiano em suas diferentes dimensões.