O corpo fala - Pierre Weil e Roland Tompakow
Você lê as pessoas desde pequenino. Já sabia desde bebê ‘ler’ a face de sua mãe e quando ela sorria você sorria de volta. É a linguagem do corpo que aprendemos a decodificar desde tenra idade. Não seria absurdo falar que antes mesmo de aprendermos a ler as letras aprendemos a ler os gestos, as pessoas.
É assim também quando estamos loucos pra ir embora logo ao finzinho da aula. Nossos pés, inconscientemente, já apontam pra saída, já se posicionam pra porta da sala. Aprendemos a ler os professores, seus gestos, como demonstram segurança ou o inverso. E os professores, por sua vez, conseguem ler nossos corpos, percebendo o nível de envolvimento na aula ou não. A linguagem do corpo nunca mente.
É isso que o livro “O Corpo Fala”, de Pierre Weil e Roland Tompakow, procura nos mostrar: a linguagem manifestada pelo corpo, uma fala que pode às vezes parecer sutil, como também pode até gritar. Isso durante todo o decorrer das nossas vidas nos mais diferentes tipos de relacionamentos humanos. O livro é publicação da Editora Vozes, que o lançou em 1986, possui 288 páginas e já está na sua 59ª edição.
Os autores usam a esfinge como alegoria, como uma metáfora, é ela a chave para a tradução da linguagem corporal. Como a esfinge é dividida em três partes o homem também o é: o Boi [abdômen] seria a referência para os instintos ou desejos inconscientes; o Leão [tórax] refere-se aos sentimentos e, a águia [cabeça] seria a alusão aos pensamentos conscientes e a inteligência. Segundo Weil e Tompakow o homem só será equilibrado quando conseguir dominar os três animais dentro de si.
Desta forma podemos dizer que o Leão, o Boi e a Águia são as três figuras corporais que representam, respectivamente, o raciocínio, o instinto e o bem estar corporal. Estas três figuras estão sempre disputando o controle do nosso corpo e cabe a nós controlá-las para que alcancemos o equilíbrio. Sendo assim, não podemos resolver tudo pela razão, o instinto tem informações do nosso inconsciente que a nossa razão [consciência] não tem acesso e, portanto deve ser ouvido, dando oportunidade para que ele se manifeste. Não podemos deixar que também que a Águia ou o Leão, ou ambos juntos, não 'ouçam' o Boi quando ele informa que está cansado, faminto ou com qualquer outra necessidade física a qual, se não for atendida, colocará em risco tanto a atuação do Leão quanto da Águia, ou seja, a razão e instinto. É claro que o nosso corpo funciona analogicamente, portanto não basta examinar um sinal e presumir tal coisa, felizmente, o processo não é tão simples assim.
O livro é como um grande dicionário. Cheio de imagens, desenhos e explicações sobre a linguagem não-verbal do corpo. Algumas muito interessantes outras nem tanto. A mulher, em muitas passagens do livro é mostrada como submissa ao homem, fadada a responder sempre positivamente às suas vontades. Pareceu-me algo muito do senso comum mostrar a mulher desta forma.
Já se passaram vinte e quatro anos de seu lançamento, muita coisa precisa ser retificada, outras, necessitam ser reiteradas. Até mesmo as tantas críticas que vemos na internet sobre o livro, fazem referência ao livro como necessitado de reedição. Mas não podemos deixar de dizer que é um livro pautado em pesquisas, cientificamente comprovadas, e talvez até por serem dados de pesquisa é que nos cause cansaço e estranhamento. E sabemos que, como futuros psicólogos, temos que estar afinados na leitura da linguagem corporal.
Seria um ótimo livro se não fosse tão repetitivo. Nas primeiras cinqüenta páginas nós nos deslumbramos. Constatamos que realmente nosso corpo fala, algo que nós já imaginávamos, já sabíamos, mas não duma maneira assim, tão complexa. Relembramos as tantas vezes em que nosso corpo falou enquanto nossa boca permanecia quieta. Relembramos o quanto e quão rapidamente somos capazes de ler o outro. Da rapidez no feedback corporal. Porém, depois da página oitenta, noventa em diante, é quase impossível terminar de ler o livro, dada a repetição maçante que se desenrola. Só conseguimos terminar de lê-lo porque nossa parte Águia fala mais alto.