Livro: "O Poder da Intuição" de Gerd Gigerenzer. Rio de Janeiro: Best Seller, 2009.


      Gigerenzer é professor da Universidade de Chicago e diretor do Centro de Comportamento Adaptativo e Cognição do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, em Berlim. Neste livro ele tem o grande desafio de abordar um assunto considerado por muitos como algo que beira o esoterismo: a intuição. Já na introdução do livro ele alerta que suas afirmações estão ainda muito longe do consenso e que seu estudo avança sob terreno pantanoso. É muito difícil aplicar todo o rigor da ciência para explicar algo que, por sua natureza, nada tem de lógico ou racional. A dificuldade em falar sobre intuição, no entanto, não diminui o interesse e a curiosidade que o tema suscita.

      Todos nós utilizamos a intuição, em maior ou menor grau, várias vezes ao dia. Dizemos que uma ação ou escolha é intuitiva quando não compreendemos bem as razões que a fundamentam, quando são motivadas por processos inconscientes. O amor à primeira vista ou "ir com a cara" de alguém são bons exemplos. Pode acontecer de olharmos para uma pessoa e, sem entender muito bem por quê, sentirmos uma atração ou afeição por ela. Sentir afinidade e confiar em uma pessoa quase que imediatamente sem conhecê-la direito é algo que a intuição faz.

      Algumas definições
     
      Estruturas do meio: é o contexto na qual estamos inseridos. O meio é fundamental para modelar os métodos empíricos;

      Capacidades evolutivas: são as capacidades que adquirimos enquanto seres biológicos evolutivos. Os pássaros tem a capacidade para voar, o lince pode correr em grande velocidade, e o ser humano tem a habilidade, dentre muitas outras, de compreender e manipular objetos simbólicos como o alfabeto e os números;  

      Métodos empíricos: de acordo com o autor, os métodos empíricos são a chave para compreender a intuição. Basicamente, podemos dizer que método empírico é uma regra simples na qual uma certa atitude, ação ou escolha se apoia (para maiores detalhes leia o livro);


      Pressentimentos: é o sentimento que vem à tona que faz a pessoa agir. São os métodos empíricos que disparam os pressentimentos. 


      Vamos dar um exemplo de um método empírico: escolher o que é conhecido. Essa regra está embutida na cabeça de muitas pessoas. Se estamos no mercado de um país diferente e precisamos comprar molho de tomate, a tendência é que dentre as várias marcas e tipos de molhos diferentes disponíveis na prateleira nós escolhamos, intuitivamente, aquela de marca conhecida. É automático. É claro que essa regra não é válida sempre, mas vale quase sempre. Na dúvida ou na falta de informações, nós sempre privilegiamos aquilo que é conhecido ou familiar. O método empírico "escolher o que é conhecido" desperta sentimentos de confiança fazendo-nos escolher, inconscientemente, o que é mais conhecido. Você tem um pressentimento bom quando vê traços familiares em algo não completamente conhecido, e o que dispara esse pressentimento é o método empírico "escolha o que é conhecido".

      Simplicidade

      A intuição funciona quando há pouca ou nenhuma informação disponível e a decisão precisa ser rápida. Se temos informações suficientes e tempo disponível, uma análise estatística poderia ser a ferramenta mais apropriada para a análise e tomada de decisão. Mas nem sempre temos disponíveis a informação, tempo ou uma complexa ferramenta estatística. O nosso dia-a-dia está repleto de decisões que precisam ser tomadas de forma rápida, sobre assuntos maiores ou menores. Ficar indeciso ou pensar em demasia pode não ser muito útil em diversas ocasiões.

       Que prato pedir? Em que time apostar no bolão? Que roupa vestir? Aceitar ou não o convite? Falar ou não falar o que está pensando? Agir ou não agir? Devo confiar nessa pessoa? Isso o que ele fez é certo? Apesar de algumas destas questões não parecerem assim tão importantes, elas podem repercutir em ondas muito maiores em nossa vida até por que a frequência com que ocorrem é grande. E não há planilha de cálculo que atribua valores e resolva essa equação por você a todo momento - é você quem tem que decidir. E para tomar tais decisões, conte com sua intuição.

      Portanto, uma das características do funcionamento da intuição é: quanto mais simples, melhor. Nós não temos uma planilha de cálculo avançado na cabeça. Ao invés de avaliar uma infinidade de variáveis, a nossa intuição seleciona as melhores e monta uma árvore rápida e simples. Se satisfaz a primeira condição, então a decisão é tomada, senão, verifica a próxima condição e assim por diante. Não é uma árvore complexa que se ramifica exponencialmente, mas uma árvore simples e pequena (para maiores detalhes leia o livro).

      Às vezes a intuição funciona, e muito bem, verificando apenas uma variável - a melhor delas. É o que o autor chama de tomada de decisão por motivo único. A intuição ignora qualquer tipo de complicação e informações excedentes e foca apenas em um único motivo para tomar uma decisão. Por exemplo, podemos querer assistir um filme no cinema por um único motivo, que é o fato deste ser o primeiro na bilheteria. Ou então por que é o mais bem cotado pela crítica. Ou por que é estrelado por seu ator ou atriz preferido. O palpite sobre o que pode ser um bom filme varia de pessoa para pessoa e não é nada trivial entender como isso se dá ao certo.

      Como vemos, a intuição é um tema muito difícil de se abordar pelas precisas e rigorosas lentes da ciência. Mas é interessantíssimo ter contato com as ideias de Gigerenzer mesmo sabendo que ele lança apenas um pequeno feixe de luz sobre o assunto. Vale a pena conferir. Aliás, qual o seu palpite, vale a pena ou não ler este livro?


Outubro de 2010

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