resenha do livro manual de semântica de Luciano Oliveira (2008).

Semântica estrutural

No texto Manual de Semântica de Luciano Oliveira (2008), o autor começa o capitulo Semântica estrutural fazendo um paralelismo sobre a frequente ocorrência dos estudos linguísticos estarem interligados ao pensamento de Ferdinand Saussure. Uma das coisas mais interessantes relacionadas a esse texto é a frequente recorrência a criticas feitas por outros estudiosos no assunto em contra oposição as teorias apresentadas, fazendo com que o texto apresente uma maior riqueza de detalhes e velha, posteriormente a levantar uma serie de discussões.

E a primeira questão apresentada no capítulo é que mesmo a obra Cours de linguistique générale sendo atribuída a Saussure, ela nada, mas é do que umas obras organizadas a partir das anotações feitas por seus alunos, principalmente pelas anotações de Charles Bally e Albert Sechehaye, que como muitos acreditam podem ter alterado muitas das informações lá contidas.

Relevando o fato de toda a discussão sobre a veracidade ou não da obra de Saussure e partindo para as teorias em si, o autor do texto faz uma ressalva à principal preocupação de Saussure como ele mesmo disse:

Uma das principais preocupações de Saussure foi delimitar claramente o objeto de estudo da lingüística, o qual, em sua visão, deveria ser homogêneo e concreto para, assim, dar à lingüística um caráter científico, submetendo-a as exigências positivistas da época.

(OLIVEIRA, 2008, p.59).

Um outro ponto a ser levado em consideração seria a concepção de fala para Saussure como mostrado pelo o autor:

A fala é a parte individual da linguagem, a qual depende da vontade do indivíduo; a língua é a parte social da linguagem, a qual está acima da vontade do indivíduo.

Se repararmos bem podemos perceber neste trecho veremos uma certa controvérsia, observem primeiro “a fala é a parte individual da linguagem, a qual depende da vontade do indivíduo” e logo depois ele diz “a língua é a parte social da linguagem, a qual está acima da vontade do indivíduo”. Afinal a fala depende ou não da vontade do individuo? E o autor prossegue sem responder essa questão, e parte agora por dizer que o objeto de estudo da linguística é a língua.

Para entendermos melhor o que seria a semântica estrutural o autor cita o famoso exemplo de Saussure:

“Sinônimos como recear, temer, ter medo só têm valor próprio pela oposição; se recear não existisse, todo seu conteúdo iria para os seus concorrentes”. Portanto, cada palavra de uma língua tem seu conteúdo semântico influenciado pelo conteúdo semântico das outras palavras dessa língua, e todas as palavras, por se relacionarem entre si, fazem da língua um sistema estruturado.

(OLIVEIRA, 2008, p.60).

Prosseguindo com a semântica estruturalista o autor demonstra como Saussure cunhou mais um elemento importante para a lingüística, o signo lingüístico e as implicações causadas pelas definições de significado e significante.

Ao negligenciar completamente as coisas que os signos representam, foi, desde o começo, isolada de qualquer contato com métodos científicos de verificação.

(OLIVEIRA, 2008, P.61).

Talvez o maior desafio encontrado em se estudar Saussure seja primeiro; todo o material que temos em nossas mãos não foi realmente escrito pelo próprio Saussure o que implica drasticamente na veracidade de todo o conteúdo. Segundo; como Saussure morreu muito jovem não houve um certo tempo para a verificação cientifica de cada uma das suas teorias, embora hoje haja muitos pesquisadores interessados em verificar se realmente essas teorias são verídicas e até qual ponto.

Mais adiante o autor passa para a discussão sobre o triângulo semiótico de Ogden e Richards, no qual Eco mais tarde fez uma crítica sobre os possíveis prejuízos dessa forma de pensar:

“O prejuízo que causou e ainda causa à Semiótica consiste em perpetuar a idéia (pela qual o responsável máximo é Frege) de que o significado de um termo tem algo a ver com a coisa a que se refere o termo se refere”.

(ECO, 2001, p.11 apud OLIVEIRA, 2008, p.62).

Como sabemos nem sempre os termos das palavras então diretamente relacionadas com o objeto ou a imagem que temos em mente. Por exemplo, quando penso em um carro este referente de carro pode ser diferente ao do que você provavelmente pensaria, os referentes são diferentes, mas, no entanto a comunicação flui porque o referente é diferente, mas o objeto ainda é o mesmo.

Partindo agora para a concepção estruturalista, o autor traz novos dados da visão estruturalista saussuriana no qual foram reforçadas também pelos lingüistas do Círculo de Praga ele assim diz:

À medida que a visão estruturalista ia dominando os lingüistas na segunda metade do século XX e os lingüistas começaram a adotar o ponto de vista sincrônico em suas pesquisas, gradativamente os estudos semânticos de cunho historicista começaram a perder força.

(OLIVEIRA, 2008, p.64).

Passando da semântica estrutural, do campo lexical e campo semântico proposto por Trier e indo direto para as lacunas lexicais, podemos perceber que Trier ao tentar explicar a sua teoria do campo semântico acabou por descartar a existência de palavras pelas quais não tem um significado igual, parecido ou até mesmo substituível em outra língua, razão pela qual haver nas línguas ocorrências de estrangeirismo ou empréstimo lexical de uma língua para outra.

Um ponto criticado na teoria triteriana é a idéia de que as palavras cobrem as esferas conceituais de uma comunidade linguistica sem deixar lacunas lexicais. Para Trier, além de não conter lacunas, o léxico de uma língua é organizado de maneira a formar um grande mosaico.

(GECKELER, 1976 apud OLIVEIRA, 2008, p.65).

Fica claro, portanto, que a idéia de Trier acerca da inexistência de lacunas no léxico de uma língua não procede, sendo criticada justamente. A existência de lacunas tem conseqüência direta no trabalho de tradutores, que precisam buscar formas de preencher essas lacunas no processo tradutório. As lacunas lexicais são exatamente aquilo a que alguns teóricos da tradução, como Mona Baker (1999), se referem quando falam de falta de equivalência lexical em ter línguas diferentes.

(OLIVEIRA, 2008, p.66)

No ponto seguinte o autor demonstra de forma sistemática a teoria dos campos e a sua real significância para os estudos do significado.

A teoria dos campos incorpora a orientação estruturalista saussureana à semântica, abandonando o caráter atomístico dos estudos do significado que seguem uma orientação historicista, já que a semântica histórica analisa elementos isolados enquanto a semântica estrutural analisa elementos dentro de um sistema.

(OLIVEIRA, 2008, p.67)

Partindo agora para análise componencial o autor passa para a exploração do significado/sentido das palavras passando pelos componentes semânticos. Na análise componencial cada conjunto de palavras é decomposta em inúmeras partes até se chegar a um componente que possa distinguir um do outro. No entanto, “muitos lingüistas não consideram a análise componencial satisfatória”. (OLIVEIRA, 2008, p.69).

A análise componencial não atrai muitos adeptos devido a dois problemas que ela apresenta. Primeiramente, Lyons acredita que é complicado decidir qual o sentido do termo básico, usado para se referir a determinados componentes semânticos, pois ele pode se referir tanto ao que um falante entende por básico no dia-a-dia quanto à qualidade de ser o mais geral possível. Em segundo lugar, o processo de análise dos componentes semânticos que podem ser identificados na maioria das palavras resulta numa análise pouco sistemática e pouco econômica.

(LYONS, 1996 apud OLIVEIRA, 2008, p.69).

Partindo agora para a teoria dos campos associativos de Bally inspirada pelo esquema saussureano, não devemos confundi-lo com as teorias precursoras dos sistemas do conteúdo, por assim dizer:

A teoria dos campos associativos não tem nada a ver com a teoria trieriana dos campos. As associações feitas entre palavras para criar um campo associativo não são essencialmente lingüísticas, pois elas envolvem as idéias que os falantes têm sobre o mundo, evidenciando uma questão extralingüística.

(OLIVEIRA, 2008, p.72).

Essa teoria implica em quando uma pessoa ouve uma palavra essa mesma pessoa começa a fazer mesmo inconscientemente algumas associações diretas ou indiretas apartir de uma determinada que foi dada.

Para finalizar o capitulo de semântica estrutural o autor capta a nossa atenção para alguns elementos mínimos encontrados no campo lexical como é o caso do arquilexema do campo entre outros, e assim termina esse capitulo.

Referência:

OLIVEIRA, L. A. (2008), Manual de Semântica. Rio de Janeiro, Vozes.

Ranyane Melo
Enviado por Ranyane Melo em 03/10/2010
Código do texto: T2535334
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