Deus é amor.
Tema principal: O amor é apenas fruto de um Deus que é amor
Fonte inspiradora: Resumo da Encíclica Deus é amor (Bento XVI)
• PARTE I - A unidade do amor na criação e na história da salvação
o Um problema de linguagem: o tema do amor de Deus por nós é algo fundamental em nossa vida e a palavra amor, hoje, expressa muitas realidades. Fala-se de vários tipos de amor, sendo o amor a Deus apenas mais um tipo e, entre estes tipos, o mais sublime é o amor homem e mulher.
o Eros e Agape – diferença e unidade: o amor entre homem e mulher, que se impõe ao ser humano, é o Eros. Agape (oblativo, doação de si), não muito usado pelos gregos, adquire sua forma no Novo Testamento. Logo, o cristianismo, como que com uma novidade, retoma o amor ágape e marginaliza o Eros. Isso é usado por alguns pensadores para dizer que a igreja acabou com o Eros, o que não é uma verdade. Nunca rejeitou o Eros em si, rejeitou a falsa divinização (gregos e outras civilizações) do Eros, que vivido em seus extremos desumaniza o homem. O Eros necessita de purificação, de disciplina a fim de não se resumir em apenas um instante de prazer e nada mais, pois o amor tem algo, em si, que promete o infinito, eternidade. Assim sendo, não se deve deixar guiar apenas pelos instintos como se fossem nossos deuses e guiadores de nossa vida, e isso só é possível após uma purificação, amadurecimento e renuncia. O homem é corpo e alma e o Eros só exerce sua magnitude, e não se torna algo ruim quando uni (ou favorece) estas realidades. O homem, em sua plena unidade, é que ama, ou seja, ama por inteiro (ágape e Eros). Hoje, o eros é retomado somente enquanto sexo, tornando o homem mercadoria (isso é uma degradação do Eros), ou seja, só o Eros é o que vale hoje. Mas a fé cristã olha o homem em sua dualidade intrínseca e propõe que o homem purifique (pela ascese, renuncia) este Eros para que exerça seu fim verdadeiro, ou seja, conduza o homem para o Agape, que é descoberta do outro, cuidado do outro e pelo outro; amor que deixa de ser só amado e busca o amado (ama). Assim, pode-se dizer que o amor evolui em graus e culmina num amor de caráter definitivo que é exclusivo (apenas a uma pessoa) e eterno (ser); é caminho – saída de si e dom de si. Jesus descreve a essência do amor e a essência da existência humana quando diz que quem guarda sua vida a perderá e quem perde-la, a salvará. Por fim, Eros e Agape nunca se separam completamente, embora tenham distintas dimensões. Eros nos faz procurar Deus e Agape nos faz transmitir o dom recebido. Ou seja, o amor [e uma única realidade.
o A novidade da Fe bíblica: Na bíblia, temos o conceito de único Deus, que é criador de tudo e, este Deus, ama o homem, ama com um amor pessoal, amor seletivo, no sentido de que elegeu um povo para amar e assim curar a humanidade. Seu amor é Eros (usa termos como noivado e casamento para expressar seu amor, bem como prostituição e adultério para a idolatria a outros deuses), e é Agape também por que perdoa, chegando a ficar contra Si próprio (amor versus justiça). Por ser a fonte de tudo, é um amante com toda a paixão de um verdadeiro amor. Ainda biblicamente falando, o homem é incompleto, o que o força a buscar no outro sexo sua completude (serão uma só carne, diz o Senhor), em outras palavras, o Eros está na constituição humana e o impulsiona ao matrimonio. A idéia de um único Deus corresponde ao matrimonio monogâmico.
o Jesus Cristo – o amor encarnado de Deus: O Novo Testamento não traz como novidade idéias maravilhosas, mas o próprio Cristo. Em sua morte expressasse a forma mais radical de amor. É no seu lado trespassado que podemos ver que Deus é amor. Através desta oferta, deu-se de uma maneira duradoura na eucaristia. Em sua mística, a Eucaristia é fundada num abaixamento de Deus até nós, o que nenhuma mística humana poderia fazer-nos alcançar. Tem um caráter social, pois todos participamos do mesmo pão, logo, o amor a Deus e ao próximo estão juntos. Por isso é que Agape também é um nome para a Eucaristia. A isso equivale dizer que ethos e culto se relacionam intimamente; são uma única realidade que se realizam no Agape de Deus. Na parábola do “bom samaritano” (Lc 10, 25-37), Cristo nos ensina quem é o próximo, que até então se referia aos concidadãos e estrangeiros estabelecidos em Israel. Próximo é qualquer um que precise de mim que possa ajudá-lo, ou seja, Jesus universaliza (abstrai) o conceito sem deixar de concretizá-lo (requer ação, pratica, emprenho aqui e agora). Também Cristo nos ensina que o amor será o crivo, no juízo final e particular, sobre o valor da vida humana (Mt 25).
o Amor a Deus e ao próximo: Em 1Jo 4, 20, o amor ao próximo deve ser entendido como uma estrada para encontrar Deus, de modo que não ver o outro significa não ver a Deus. De fato, ninguém nunca viu a Deus, mas Deus não nos é de todo invisível, pois em Jesus mostra o Pai. De maneira múltipla, ou seja, na história bíblica e na história da igreja (doutrina dos apóstolos, sacramentos – em especial na eucaristia), Deus se faz ver. Por que Ele nos amou primeiro é que podemos responder amando-O. Não nos mandaria amar se não soubesse que poderíamos, e podemos (é constituição nossa). A experiência do amor de Deus faz em nos um movimento de amor (como resposta). O amor não é somente um sentimento, que pode vir e ir, mas é uma totalidade da qual o sentimento “amor” é apenas uma parte. Está sempre em continuo completar-se, amadurece, transforma-se ao longo da vida, de tal forma que o amor entre Deus e o homem consiste numa comunhão de vontade que cresce em comunhão de pensamento e de sentimento, ou seja, nosso querer coincide com a vontade de Deus fazendo com que Sua vontade (os mandamentos) deixe de ser algo estranho, externo, mas seja algo tão intimo (mais intimo que eu de mim), e seja minha própria vontade. Sendo assim, veremos com os olhos de Cristo e poderemos dar aos outros mais do que as necessidades externas, mais que respeito cidadão, mais que respeito humano, podemos dar o amor que precisa. Logo, se falta-nos o contato com Deus, faltará vê-lo como imagem e semelhança de Deus, será apenas o outro e nada mais. O serviço ao próximo abre nossos olhos para o que Deus faz por nos e para o modo com que nos ama. Assim, “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” deixa de ser uma ordem de Deus externa a nós, impossível de ser alcançada, para ser fruto de uma experiência intima, interior, profunda, de um amor que deve ser comunicado. O amor é divino por que vem de Deus e nos une a Ele, e esta união torna-nos um NÓS.
Obs.: por favor, comente. Abraço