Telejornalismo no Brasil - Um perfil Editorial Guilherme Jorge de Rezende
"Escreve-se essencialmente mal na televisão brasileira."
Eric Nepomuceno
O livro se divide em duas partes - a Fundamentação Teórica que se constitui em Linguagem, Televisão e Telejornalismo que aborda o contexto da relação textual com imagem. E as peculiaridades da técnica jornalística da televisão brasileira.
E a segunda parte das Evidências Empíricas que faz uma análise comparativa e estuda os três principais telejornais diários brasileiros: Jornal Nacional (Globo), Telejornal Brasil (SBT) e Jornal da Cultura (TV Cultura).
O estudo se traduz na análise da estrutura, no conteúdo dos noticiários, nos formatos jornalísticos e na comparação das matérias divulgadas pelos telejornais.
A primeira parte nos mostra que o texto jornalístico televisivo na visão do autor é muito fraco, ou feito especialmente para a população pouco “letrada” do Brasil, e não se insere em um contexto que abrange todos os tipos de pessoas.
Isto devido a diversos fatores, dentre eles: a má distribuição de renda, a concentração da propriedade das emissoras e o baixo nível educacional da população.
O espetáculo também é um caráter de grande destaque no livro, em que Rezende alega que imagens atraentes muitas vezes sobressaem ao real valor jornalístico que é o mais importante em um noticiário. Há também uma pobreza estilística devido à grande concentração de telejornais nas emissoras brasileiras.
Ainda de valor relevante no livro, podemos citar a questão da notícia como um produto, que se insere no contexto de consumo das emissoras, ou seja, vender notícias, imagens e atrair telespectadores, uma relação de troca de capital.
Mas ao mesmo tempo em que Rezende crítica este fatores característicos do Telejornalismo Brasileiro, ele alega que há uma relação de interação e intimidade com o telespectador que no jornal impresso não tem.
Como a relação de diálogo com o público e a intimidade, por exemplo, cumprimentar o jornalista após o início do telejornal.
Com certeza, tudo na televisão se mostra na relação de persuadir o ouvinte para que o cative cada vez mais e mostre certa credibilidade.
O que pode ser ruim, ou manipulador como o autor cita na relação da Globo com o slogan:”Globo e você,tudo a ver”.
No telejornalismo há uma relação de envolvimento, pois a população brasileira se identifica com a comunicação oral empregada nos jornais e tudo isto para Rezende ocorre de maneira autêntica e natural, devido à informalidade do texto.
É importante dar destaque também que ao transcorrer do livro o autor cita que é imprescindível casar imagem com texto, que um não se faz sem o outro.
Na segunda parte o autor relata que a imprensa se calou por muito tempo devido à censura da época o que ocasionou uma falha na comunicação jornalística, desacostumada a fazer notícia.
Podemos citar:
“A riqueza plástica não encontrava compatibilidade com o trabalho jornalístico. Durante a fase de censura mais aguda, o telejornalismo, sobretudo o praticado na Globo,líder de audiência, acabou se afastando da realidade brasileira. Despolitizada, a emissora encontrava nos programas de entretenimento o atalho para se aproximar efetivamente de sua audiência”. (Rezende,2000).
Assim, o autor constata que as emissoras em especial a Globo ficaram sem identificação de partidos e superficiais, sem tempo para apresentar uma notícia em decorrência do governo autoritário e da censura da época.
Com relação aos gêneros e formatos o autor desdobra o tema explicando o que é espelho, blocos, pré-espelho, notas, features, escalada, matérias frias e quentes.
Além de explicar gênero opinativo e informativo dentro do telejornalismo brasileiro. Há um estudo específico no livro dos telejornais citados acima. Deste estudo cabe citar apenas algumas partes, pois a abrangência de assuntos é muito ampla, destacamos então, os tópicos principais:
Telejornal Brasil-
O jornal do SBT alcançava na época a vice-liderança dos jornais brasileiros.
No dia 28 de setembro de 1988, o Telejornal Brasil, o TJ Brasil, surgia como um modelo bastante original de telejornalismo. Devido a participação do âncora Boris Casoy que deu uma característica singular ao jornal.
Com a liberdade que outros jornalistas não possuíam na época Casoy fazia tudo o que queria, apresentava as notícias, fazia comentários e entrevistas.
Porém em troca de tudo isto, ele teria o compromisso de ser “partidariamente neutro e equilibrado”.
O jornalismo do TJ Brasil, não seguia nenhum manual de redação, apenas deveria cumprir o trabalho de informar com seriedade e ser honesto e não manipulador.
Jornal Nacional-
O jornal da Rede Globo é considerado o mais visto pela população brasileira, pois exibe programas com êxito em quantidade e qualidade razoáveis de produção. A estréia do programa ocorreu justamente no dia em que se iniciava o período mais duro do regime militar. O JN atravessou toda esta época com as marcas do refinamento formal e da limitação no conteúdo das notícias. Posteriormente o jornal desenvolveu novas técnicas de redação e apresentação de notícias que se tornaram parâmetro para todos os telejornais praticados no país.
Jornal da Cultura-
Esperava-se que a Cultura fizesse jus ao seu nome e implantasse aos brasileiros uma política de desenvolvimento educativo-cultural aos telespectadores.
Desde a sua criação a TV Cultura viveu, portanto ao sabor de embates ideológicos intensos, que se refletiam diretamente na programação.
Uma particularidade do jornalismo da TV Cultura é o modo como se encara a audiência. “Parte-se da ideia de que não deve haver relação imediata de causa e efeito entre o que é exibido e o retorno em audiência.”
Pois, conclui-se que a boa audiência é vista como resultado de um bom trabalho.
O Jornal da Cultura tem um perfil informativo que reúne o factual, com um resumo dos acontecimentos mais importantes do dia, e matérias especiais - em que se percebe o cunho educativo cultural-voltadas para a prestação de serviço e às questões de interesse comunitário.
Com um estilo redacional objetivo, porém mais livre do rigor das normas de elaboração de textos.
Um ponto importante a ser destacado no livro é que ao contrário do leitor do jornal impresso, que pode reler uma matéria quantas vezes quiser, o telespectador não pode fazer com que o telejornal retroceda para rever e decodificar uma notícia mal compreendida.
Esta parte novamente faz referência à linguagem clara e limpa que deve ser utilizada na TV, com o foco voltado para o espectador/ouvinte.
Guilherme Rezende por fim, constata ao longo de seus estudos que no Jornal Nacional, aspectos como o sensacionalismo sempre esteve presente em toda a sua produção jornalística.
O Jornal da Cultura foi um veículo exclusivamente informativo, com 99,2% de conteúdo neste gênero. Já as reportagens consumiram o maior tempo de veiculação nos três telejornais.
A TV, o noticiário tem de disputar com programas de entretenimento um lugar na programação. As maiorias das notícias em TV têm de caber no formato de 20 a 30 segundos, que é o tempo dos comerciais exibidos na televisão.
O livro traz uma linguagem fácil e dinâmica. E serve tanto para profissionais da comunicação como para leigos.
É um estudo do telejornalismo no Brasil, com uma descrição bem detalhada e minuciosa, que torna fácil a compreensão de qualquer um que tiver interesse em ler.
Obviamente há divergências ao longo do livro com relação a algumas citações, mas de forma geral é um livro que tem muito a acrescentar em seus diversos aspectos jornalísticos.