“Maresia”, de Raimundo Palmeira, por Edvaldo Rosa.

No momento em que estamos passando por crises de identidade, onde cada membro da sociedade tem seus papéis postos á prova, e em muitos casos, as pessoas caem em crises existenciais, recebi, em mãos, o livro “Maresia” do poeta Raimundo Palmeira. Um livro que põe a mostra um poeta sem medos ou traumas, consciente de si e do mundo em que vive.
Sua capa em tons de azul é um convite para que se entre no mundo deste poeta...
Suas primeiras páginas,deixa-nos a vontade,em suas apresentações, como se fizéssemos parte de sua vida, tanto poética quanto pessoal.
Mais que isso, Raimundo Palmeira, com um estilo ágil, sonoro, cadenciado,apresenta por inteiro; amores, familiares,  seu presente e seu passado,com fluidez e elegância.
Um homem que valoriza as suas raízes, delas não se afasta um instante sequer, e por isso mesmo,valoriza-se sobremaneira.
Raimundo Palmeira é um poeta completo, pois detém domínio sobre as palavras, refletindo por intermédio delas o que vai em sua alma.
As influencias que recebeu em sua vida, no que tange a poesia,presentes no livro, são de poetas de peso, com respeitado carisma...
Terá Raimundo Palmeira, influências para a sua poesia no lirismo de Vinícius?
Será que Raimundo Palmeira, teria norteado os rumos de suas poesias pela bússola de J. G. De Araújo Jorge?
Pela leitura de seus poemas, a resposta é sim, mas apresenta neles também, um novo enfoque, uma nova visão sensível e humana,bem pessoal...
Raimundo Palmeira é de Maceió, advogado criminalista, professor de direito e poeta.
Fico pensando como estes atributos puderam se combinar para produzir “Maresia”...
Tanta vivência,com certeza trouxe para a sua produção poética um amadurecimento sereno e tranqüilo...
O advogado criminalista, o professor de direito, tão acostumados com as mazelas humanas, trouxeram uma maior e melhor valorização das coisas mais simples e básicas da vida: as pessoas, suas histórias, sua permanência junto a nós, seu afastamento, sua morte inevitável!
Lendo as páginas de “Maresia”, senti como se fosse eu mesmo que estivesse frente ao mar. As confidências em seus poemas pareceram-me tão minhas!
Os poemas de Raimundo Palmeira calam fundo na alma da gente, despertando e aguçando as nossas sensibilidades e falam conosco de uma forma tão amável e amiga, que não nos sentimos sós...
Alguns de seus poemas, trazem consigo um algo mais, que mesmo finda a leitura, permanece em nossa mente... Alguns de seus poemas dizem mais do que esta escrito nas folhas do livro, onde repousam a espera de quem lê-las...
Se não querem dizer mais do que esta escrito, retiram de nós pensamentos e sentimentos que consoantes com o que esta escrito, parece ser da lavra do autor, e não parte de nós leitores...
“Maresia” é um grande diálogo, onde nós conversamos conosco mesmo, estando frente ao mar, relembrando os caminhos que trilhamos, buscando junto a maresia que vem do mar, os cheiros de nossa mocidade, o perfume de nossos amores, e as lembranças de  nossa infância e das pessoas que nos são tão
caras...
A presença de versos de Vinícius nas páginas iniciais do livro não é gratuita, é um alerta quanto a complexidade e ao mesmo tempo simplicidade inerentes á alma do poeta.
E J. G. De Araújo Jorge, vem corroborar com esta afirmação.
Na apresentação da obra, o poeta Raimundo Palmeira, desloca a importância de seus versos, e a existência de seu livro “Maresia”, para o leitor... Para o esteta, o leitor é mais importante do que ele próprio!
Visão humana, sensível, amorosa!
Será que a sua vivência como criminalista, ajudou Raimundo Palmeira a enxergar o que existe de melhor na alma humana?
E a dosar o que tem no coração?
Raimundo Palmeira é um ser que transita entre a luz e as trevas, inerentes á alma humana, que usa de metalinguagem para falar de si e em seu trabalho.
Em “Maresia” encontramos poemas em versos brancos e sonetos, que convivem em plena harmonia.
Em “Maresia” encontrei St. Exupéry,
encontrei Clarice Lispector!
“Maresia” é um livro que contempla aspectos materiais e espirituais, é a vida que pulsa livre e solta, com seus determinismos e seus mistérios!
Fiquei pensando após a leitura deste livro, "Maresia", de Raimundo Palmeira, se as mãos dos artesões têm noção do que tecem, enquanto escolhem determinados fios em detrimento de outros...
O que pensaria tal artesão, enquanto tece a sua tapeçaria?
Teria noção do que a sua arte provocará em sua audiência?
Assim é Raimundo Palmeira em “Maresia”!
Um esmerado artesão que tece a sua obra, sabendo ou não o que provocará em seus leitores.
Certos mistérios que ocorrem na vida, podem ter explicações muito simples, um comentário ouvido por mim, algum tempo atrás, traz sentido para o presente momento:
 “Deus cria da mesma forma todas as suas maravilhas, mas algumas só podem ser percebidas pelos olhos da sensibilidade!”
Raimundo Palmeira em “Maresia”, tem esta característica: sua sensibilidade esta de olhos bem abertos! Quem ganha muito com isso é sem sombra de dúvida, todos nós, os seus leitores...

Edvaldo Rosa

www.sacpaixao.net
17/09/2010