A Flor e o Botão: Som, Ruído e Brisa

             Não me canso de dizer que a aventura da leitura é mesmo algo surpreendente, experiência única para cada pessoa que elege o ato de ler como algo importante na sua constituição como ser. Por acreditar nesta aventura, não raro me deparo com textos que literalmente fazem brilhar meus olhos e me flagro dizendo: “Este texto leu a minha alma! Este eu poderia ter escrito!”
             Fazemos nossas escolhas e alguns autores por história de vida, trajetória profissional ou estilo de escrita se afinam mais com o nosso pensar e o nosso sentir de leitores. Então fica fácil a empatia com seus escritos, pois constatamos que a argumentação e a linha de reflexão adotadas sobre os temas em que se baseiam cada texto são, quase sempre, o “nosso” modo de pensar a vida, os sentimentos e o jeito de ser ali impresso.
              O livro A Flor e o Botão: Som, Ruído e Brisa do mestre Raimundo Antonio de Souza Lopes, certamente tem, para seus leitores, este sentido e significado: a intimidade com um universo muito próximo, reconhecível e caro. Cronista e poeta, lado a lado, nos fazem cúmplices dos seus devaneios, de sua perspicácia e sensibilidade em observar e descrever o mundo real ou o mundo poético dos sonhos, presentes em vários textos.
            Da sua habilidade com as palavras é fácil para Raimundo Antonio colocar quem o lê no cenário de cada texto. Em muitos, o sentimento é de observadores privilegiados das belas histórias contadas, em quase todos, no exercício supremo da imaginação que é inerente ao leitor de textos poéticos, de personagem da ação.
            Tudo é possível nessa viagem, menos ser leitor ou leitora passiva, indiferente. Quando escreve na primeira pessoa, parece que estamos ouvindo-o. Outra vezes, propositadamente é o narrador atento, cuidadoso e apaixonado produzindo situações que poderiam ser protagonizadas por qualquer um de nós.
             E foi maravilhoso perceber que o autor, neste livro - ainda bem - não abriu mão de ser poeta em tempo integral. Cada texto tem a marca do seu olhar profundamente humano, generoso na compreensão dos sentimentos dos personagens tão bem descritos que parece que os conhecemos, o que de certa maneira é verdade, pois muitos, senão todos eles, já foram publicados no Caderno Expressão no jornal Gazeta do Oeste de Mossoró ou aqui mesmo, no Recanto das Letras.
             Ao terminar de ler o último texto me dei conta do que tinha nas mãos a prova do que é capaz o olhar sensível de um poeta para coisas tão corriqueiras como sentimentos da amizade, da paixão, do amor, da saudade, da tristeza de uma despedida ou da alegria de um encontro. Vi que é o olhar terno e eterno de alguém que certamente respeita cada sentimento e empresta a cada personagem seu calor, sua vida, seus sonhos.
           No mais é só dizer que o projeto gráfico está impecável, que o prefácio do amigo jornalista e também escritor Mário Gerson confirma um autor encantado com a palavra e a alegria de escrever, e que, mais uma vez, o carinho do amigo nos presenteia, eu e mais alguns amigos - Ângela Gurgel, Bernard Gontier, Cellyme, Maria Paula Alvin, entre outros - com comentários nossos sobre alguns de seus textos, nas orelhas dessa beleza de livro.
            Sei que não será preciso  lhe dizer o quanto torço pelo seu sucesso e nem   dizer que já estou esperando o terceiro, que certamente será de poesias.

Mais do autor:


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