STEPHEN HAWKING : UMA NOVA HISTÓRIA DO TEMPO

Lançado originalmente em 2005, “Uma Nova História do Tempo” ( A Briefer History of Time) by Stephen Hawking, com a colaboração de Leonard Mlodinow, professor de Física no Instituto de Tecnologia da Califórnia, é uma leitura obrigatória para todos aqueles que, independente de sua formação, são inspirados pelo pensamento critico e interessados pelos desafios e buscas que definem o desenvolvimento do saber cientifico contemporâneo.

Considero o livro em referência como sendo algo mais do que uma mera atualização do Best seller “Uma breve História do Tempo” de 1988, que tornou seu autor mundialmente conhecido como uma das mais respeitáveis autoridades científicas de nosso tempo.

Trata-se, na verdade, de uma releitura do livro original mais do que propriamente de uma mera atualização, o que reflete o dinamismo da reflexão desenvolvida pelo autor que, mais do que restrito ao esforço de divulgação do saber cientifico, parece inspirado pelo ambicioso projeto de construção de uma imagem cientifica do mundo e do universo que não fique restrita a meia dúzia de especialistas, em generosa aposta nas potencialidades do intelecto humano.

Em seu novo livro “The Great Design”, ainda inédito, tal esforço parece ter alcançado as ultimas conseqüências, ao sustentar a tese da criação espontânea do universo, descartando, assim, a metafísica premissa ou hipotese de um deus criador como princípio de tudo.

Em “Uma nova História do Tempo”, entretanto, predomina ainda certo dialogo complacente com as representações de mundo inspiradas pela religiosidade, o que absolutamente não diminui o valor da obra que tem por horizonte, como todo trabalho deste autor, um objetivo claro que, em suas próprias palavras, assim, se define:

“Uma teoria unificada completa, coerente, é somente o primeiro passo: nossa meta é uma compreensão total dos eventos que nos cercam e de nossa própria existência”

(S.W Hawking e Leonard Mlodinow. Uma nova História do Tempo/ tradução de Vera de Paula Assis, RJ: Ediouro, 2005, p. 140 )

Parece-me pertinente reproduzir aqui, mesmo que parcialmente, um inspirador fragmento da brochura em referência :

“DESCOBRIMOS QUE ESTAMOS NUM MUNDO SELVAGEM. Queremos dar um sentido aquilo que vemos à nossa volta e perguntamos: Qual é a natureza do universo? Qual nosso lugar nele e de onde ele e nós viemos? Por que ele é da maneira que é?

Para tentar responder a estas perguntas, adotamos alguma representação do mundo. Assim como uma torre infinita de tartarugas que sustentam a Terra plana é uma representação desse tipo, também o é a teoria das supercordas. Ambas são teorias do universo, embora a última seja bem mais matemática e precisa que a primeira. Faltam evidências observacionais às duas teorias: ninguém nunca viu uma tartaruga gigante com a Terra no dorso, mas, por outro lado, ninguém nunca viu também uma supercorda. Entretanto, a teoria da tartaruga não é uma boa tória científica porque prevê que as pessoas deveriam conseguir cair na borda do mundo. Descobriu-se que isto não está de acordo com a experiência, a menos que se revele ser a explicação das pessoas que teriam supostamente desaparecido no Triângulo das Bermudas!

(...)

De fato, redefinimos a tarefa da ciência como a descoberta das leis que nos permitirão prever eventos até os limites determinados pelo principio da incerteza. Resta, contudo, a pergunta: como ou por que foram escolhidas as leis e o estado inicial do universo?

Este livro deu um destaque especial às leis que governam a gravidade, porque é a gravidade que molda a estrutura em larga escala do universo, mesmo sendo a mais fraca das quatro categorias de forças. As leis da gravidade eram incompatíveis com a concepção, defendida até bem recentemente, de que o universo é imutável no tempo: o fato de que a gravidade ser sempre atrativa implica que o universo deve estar ou em expansão ou em contração. De acordo com a teoria da relatividade geral, deve ter existido um estado de densidade infinita no passado, o big bang (a grande explosão), que teria sido um inicio efetivo do tempo. Da mesma forma, se o universo inteiro entrou em colapso, deverá existir um outro estado de densidade infinita no futuro, o big crunch ( a grande implosão), que seria o fim do tempo. Mesmo que o universo inteiro não tenhja colapsado, existiriam singularidades em quaisquer regiões localizadas que entraram em colapso para formar buracos negros. Estas singularidades seriam um fim do tempo para qualquer um que caísse no buraco negro. No big bang e em outras singularidades, todas as leis teriam desmoronado e, portanto deus ainda teria total liberdade para escolher o que aconteceu e como o universo começou.

Quando combinamos a mecânica quântica com a relatividade geral, parece existir uma nova possibilidade que não surgiu antes: que, juntos, o espaço e o tempo poderiam formar um espaço finito quadrimensional sem singularidades nem contornos, como a superfície da Terra, mas com mais dimensões. Parece que esta idéia poderia explicar muitas das características observadas no universo, tais como sua uniformidade em larga escala e explicar também os desvios de homogeneidade em pequena escala, inclusive galáxias, estrelas e até seres humanos. Mas se o universo for inteiramente alto contido, sem singularidades nem limites, e inteiramente descrito por uma teoria unificada, isto terá implicações profundas para o papel de Deus como criador.”

(S.W Hawking e Leonard Mlodinow. Uma nova História do Tempo/ tradução de Vera de Paula Assis, RJ: Ediouro, 2005, p. 141 et seq. )