O ALEPH DE PAULO COELHO
“O que a eternidade é para o tempo, o Aleph é para o espaço. Na eternidade, todo tempo ― passado, presente e futuro ― coexiste simultaneamente. No Aleph, a soma total do universo espacial encontra-se em uma diminuta esfera resplandecente de pouco mais de três centímetros.”
Jorge Luis Borges
O ALEPH DE PAULO COELHO
Paulo Coelho está de volta às livrarias com um novo sucesso, o Aleph. Confesso que ele não é o meu escritor favorito, mas reconheço que ele sabe explorar temas de interesse espiritual com maestria e é mestre em costurar boas histórias a partir de arquétipos que excitam a imaginação do leitor. Creio que essa é a receita do seu sucesso.
Em seu novo livro ele explora o tema da reencarnação. Será que a vida acaba com a morte? Existe outro plano de existência onde o “eu” sobrevive, ainda que não se lembre de nada do que se passou nas vidas anteriores? Reencarnamos de novo ao planeta Terra ou em outra dimensão do universo?
Aqui ele trabalha com a ideia de que o tempo é uma dimensão contínua que não pode ser medida. Nós o transformamos em unidades porque necessitamos dessa ilusão para viver. Se a nossa consciência não fosse capaz de criar essa ilusão, nenhuma das nossas ações teria um sentido em si mesma porque jamais se completaria. Assim, o tempo é uma convenção que a nossa mente cria para por ordem no nosso próprio caos interno.
Essa convenção é um “programa” neurológico necessário que nos permite sobreviver num ambiente que nos é hostil. Dessa forma a nossa memória tem a função de armazenar “momentos” de aprendizagem, necessários para a nossa sobrevivência. E para que essa memória funcione, ela precisa de uma noção de tempo, senão seria impossível recuperar essas experiências. É com elas que aprendemos a viver, a nos proteger, a perpetuar a espécie, a construir a noção de “ser”.
Nesse sentido, a reflexão proposta pelo autor em seu novo livro é interessante. Une conceitos parapsicológicos com preocupações espirituais, e costura conceitos cabalísticos com temas que poderiam muito bem caber num seminário sobre neurolinguística ou cientologia. A gosto do freguês.
Sobre o Aleph
O Aleph é a primeira letra do alfabeto hebraico. Segundo a tradição cabalística ela foi o primeiro som emitido por Deus no processo de criação do mundo. Representa, outrossim, a ideia de primeira manifestação da divindade no terreno da matéria. A Cabala ensina que Deus, antes de começar a criar o mundo existia como Potência Não Manifesta, ou seja, Ele era uma Existência Negativa. Quando resolveu se manifestar positivamente, Ele se tornou uma Existência Positiva, ou seja, algo que se manifestou no mundo real, algo que pode ser visto e sentido. Ou seja, Espírito que se manifestou em Matéria.
A noção mais próxima desse conceito profundamente esotérico é o da eletricidade. Sabemos que a eletricidade existe porque ela movimenta as nossas máquinas e ilumina as nossas cidades. E que se tocarmos nela seremos afetados de alguma forma. Mas ninguém sabe do que a eletricidade é feita, nem o que a produz. Sabemos sim, que ela é gerada a partir de um movimento de forças atômicas que se organizam de certo modo. Que há uma combinação de forças positivas e negativas que fazem com que ela se manifeste. Os chineses a chamaram de Yin e Yang, os masdeístas de Ormuzd e Arimã, os judeus e cristãos de Deus e Diabo. A ciência as chama de relatividade e gravidade. Tudo são apenas nomes.
Mas isso é tudo que sabemos até agora. É a mesma coisa com as forças espirituais que conformam a nossa vida. O que sabemos da nossa vida espiritual? Existirá mesmo um espírito? Será que a nossa existência tem por base uma matriz energética anterior a nós mesmos, chamada alma? Quando o tempo (que é mera abstração), termina para nós nesta dimensão do universo, nós continuamos a existir em outra dimensão? Sim, porque a existência de outras dimensões no universo já é verdade provada pela ciência, mas se nós passamos de uma para outra ainda é mera especulação.
A Cabala é uma das mais interessantes concepções que a mente humana já engendrou para explicar os mistérios do universo. Ela sustenta que o mundo é construído de acordo um projeto muito bem urdido pelo seu Sublime Arquiteto, e que ele tem diversos planos de construção. Nós fazemos parte de um desses planos, da mesma forma que anjos e demônios ― nomenclatura meramente semântica― que tem suas funções na estrutura do edifício universal. Isso quer dizer que bem e mal são duas faces de uma moeda que só tem valor justamente porque elas se completam. As coisas que fazemos, as vidas que vivemos, tudo tem um sentido e um papel na estrutura desse edifício.
O Aleph, originalmente, é um conto famoso de Jorge Luiz Borges. Com esse conto, que é o ponto mais alto da sua literatura, ele foi indicado para o Prêmio Nobel. Não ganhou, mas como outros grandes nomes da literatura mundial, o dele também ficou famoso.
Certamente Paulo Coelho também não será contemplado com esse galardão pelo seu Aleph. Ele, na verdade, aproveitou o arquétipo para expressar suas próprias dúvidas e incertezas a respeito de suas crenças e emoções. Isso é próprio de um homem que tem vivido tantas aventuras espirituais. E, a bem da verdade, tem a ver com todos nós. Só por isso já vale a pena ser lido.
“O que a eternidade é para o tempo, o Aleph é para o espaço. Na eternidade, todo tempo ― passado, presente e futuro ― coexiste simultaneamente. No Aleph, a soma total do universo espacial encontra-se em uma diminuta esfera resplandecente de pouco mais de três centímetros.”
Jorge Luis Borges
O ALEPH DE PAULO COELHO
Paulo Coelho está de volta às livrarias com um novo sucesso, o Aleph. Confesso que ele não é o meu escritor favorito, mas reconheço que ele sabe explorar temas de interesse espiritual com maestria e é mestre em costurar boas histórias a partir de arquétipos que excitam a imaginação do leitor. Creio que essa é a receita do seu sucesso.
Em seu novo livro ele explora o tema da reencarnação. Será que a vida acaba com a morte? Existe outro plano de existência onde o “eu” sobrevive, ainda que não se lembre de nada do que se passou nas vidas anteriores? Reencarnamos de novo ao planeta Terra ou em outra dimensão do universo?
Aqui ele trabalha com a ideia de que o tempo é uma dimensão contínua que não pode ser medida. Nós o transformamos em unidades porque necessitamos dessa ilusão para viver. Se a nossa consciência não fosse capaz de criar essa ilusão, nenhuma das nossas ações teria um sentido em si mesma porque jamais se completaria. Assim, o tempo é uma convenção que a nossa mente cria para por ordem no nosso próprio caos interno.
Essa convenção é um “programa” neurológico necessário que nos permite sobreviver num ambiente que nos é hostil. Dessa forma a nossa memória tem a função de armazenar “momentos” de aprendizagem, necessários para a nossa sobrevivência. E para que essa memória funcione, ela precisa de uma noção de tempo, senão seria impossível recuperar essas experiências. É com elas que aprendemos a viver, a nos proteger, a perpetuar a espécie, a construir a noção de “ser”.
Nesse sentido, a reflexão proposta pelo autor em seu novo livro é interessante. Une conceitos parapsicológicos com preocupações espirituais, e costura conceitos cabalísticos com temas que poderiam muito bem caber num seminário sobre neurolinguística ou cientologia. A gosto do freguês.
Sobre o Aleph
O Aleph é a primeira letra do alfabeto hebraico. Segundo a tradição cabalística ela foi o primeiro som emitido por Deus no processo de criação do mundo. Representa, outrossim, a ideia de primeira manifestação da divindade no terreno da matéria. A Cabala ensina que Deus, antes de começar a criar o mundo existia como Potência Não Manifesta, ou seja, Ele era uma Existência Negativa. Quando resolveu se manifestar positivamente, Ele se tornou uma Existência Positiva, ou seja, algo que se manifestou no mundo real, algo que pode ser visto e sentido. Ou seja, Espírito que se manifestou em Matéria.
A noção mais próxima desse conceito profundamente esotérico é o da eletricidade. Sabemos que a eletricidade existe porque ela movimenta as nossas máquinas e ilumina as nossas cidades. E que se tocarmos nela seremos afetados de alguma forma. Mas ninguém sabe do que a eletricidade é feita, nem o que a produz. Sabemos sim, que ela é gerada a partir de um movimento de forças atômicas que se organizam de certo modo. Que há uma combinação de forças positivas e negativas que fazem com que ela se manifeste. Os chineses a chamaram de Yin e Yang, os masdeístas de Ormuzd e Arimã, os judeus e cristãos de Deus e Diabo. A ciência as chama de relatividade e gravidade. Tudo são apenas nomes.
Mas isso é tudo que sabemos até agora. É a mesma coisa com as forças espirituais que conformam a nossa vida. O que sabemos da nossa vida espiritual? Existirá mesmo um espírito? Será que a nossa existência tem por base uma matriz energética anterior a nós mesmos, chamada alma? Quando o tempo (que é mera abstração), termina para nós nesta dimensão do universo, nós continuamos a existir em outra dimensão? Sim, porque a existência de outras dimensões no universo já é verdade provada pela ciência, mas se nós passamos de uma para outra ainda é mera especulação.
A Cabala é uma das mais interessantes concepções que a mente humana já engendrou para explicar os mistérios do universo. Ela sustenta que o mundo é construído de acordo um projeto muito bem urdido pelo seu Sublime Arquiteto, e que ele tem diversos planos de construção. Nós fazemos parte de um desses planos, da mesma forma que anjos e demônios ― nomenclatura meramente semântica― que tem suas funções na estrutura do edifício universal. Isso quer dizer que bem e mal são duas faces de uma moeda que só tem valor justamente porque elas se completam. As coisas que fazemos, as vidas que vivemos, tudo tem um sentido e um papel na estrutura desse edifício.
O Aleph, originalmente, é um conto famoso de Jorge Luiz Borges. Com esse conto, que é o ponto mais alto da sua literatura, ele foi indicado para o Prêmio Nobel. Não ganhou, mas como outros grandes nomes da literatura mundial, o dele também ficou famoso.
Certamente Paulo Coelho também não será contemplado com esse galardão pelo seu Aleph. Ele, na verdade, aproveitou o arquétipo para expressar suas próprias dúvidas e incertezas a respeito de suas crenças e emoções. Isso é próprio de um homem que tem vivido tantas aventuras espirituais. E, a bem da verdade, tem a ver com todos nós. Só por isso já vale a pena ser lido.