Aliança da Poesia e a História
Fagner Roberto Sitta da Silva*
Freire, Edson. Do D. Manuel ao Lula. São Paulo. Casa do Novo Autor Editora, 2010.
Goethe costumava dizer que a “alta cultura é uma aliança da poesia e a História”... E é esta aliança que o poeta e professor de História Edson Freire propôs a construir no seu mais recente livro, lançado pela editora Casa do Novo Autor na XXI Bienal do Livro. Como o próprio subtítulo diz esta é uma viagem diferente, feita por quase mil versos em redondilhas maiores, por alguns fatos importantes da História do Brasil.
Mas será que o poeta conseguiu realizar desafio proposto de navegar por mares de nossa História? Será que o poeta conseguiu fazer esta aliança da poesia com a história. O poeta Alberto da Costa e Silva diz que “qualquer historiador que é poeta tem uma vantagem sobre aquele que não é poeta, que é ter uma certa capacidade de inventar o passado”. E é isso que o poeta amigo faz ao final sua introdução cantando que “se houver algum abuso/ por acaso cometido/que me seja permitido/ usar ‘licença poética’”.
Depois desta justificativa, o poeta começa a construir a sua ponte até a corte de D. Manuel, rei de Portugal, e embarcando junto com a frota do Descobrimento e relatando tal qual um Caminha repentista o que por aqui foi visto, desta forma:
“Todavia, o desvio
pela esquadra praticado,
por certo foi recompensado,
pois Cabral com sua gente
achou índias deste lado.
Peço licença se acaso
me expresso irreverente:
eles gostaram do achado,
não eram Índias país,
eram mulheres despidas,
fosse atrás, fosse na frente
e assim não constrangidas
numa postura inocente.”
Nota-se o humor fino que Edson Freire utiliza para narrar os nossos acontecimentos, dado que ele, professor aposentado de História e advogado, conhece profundamente do assunto que é tratado.
Depois desse encontro, tal como é relatado por Caminha em sua Carta, os nossos descobridores tomaram conta destas terras, como se ela fosse uma profecia, pois como ele mesmo disse a D. Manuel os que aqui viviam eram inocentes. E antes de terminar a sua Carta, Caminha já foi criando o nepotismo, pedindo para Vossa Alteza um emprego para seu genro.
Segue a narração da nação que ali vai aos poucos sendo criada , os seus primeiros nomes, as primeiras lutas pelo domínio da terra achada, o Tratado que dividiu as terras entre Portugal e Espanha, as Capitanias Hereditárias que dividiram em fatias a Colônia, o Governo Geral e a chegada dos Jesuítas.
Do índio inicialmente escravizado e defendido pelos jesuítas, o Brasil começa a receber escravos vindos da África, e essa dor daqueles que construíram esta nação com seu suor e, muitas vezes, com a própria vida também é narrada pelo poeta que não deixa nenhum dos grandes acontecimentos, como este do qual nos envergonhamos, de lado.
Saltando na linha da História é chegada a naus que traz a Família Real e, com ela, os primeiros ares de progresso para a Colônia que é elevada a Vice-Reinado. Logo chega a Independência, as Regências e o primeiro e o segundo Império, e já no crepúsculo do século XIX a Abolição e a República.
Bem rapidamente são tratados, como flashes, dos primeiros tempos do período republicano, suas divisões, passando pela Revolução de 32, o Estado Novo, a construção de Brasília, vai chegando o tempo da Ditadura e após ela as “Diretas, já”.
Vai chegando a última década do século XX, o Impeachemant, o Plano Real. O poeta vai terminando a sua jornada pela História cantando o Brasil redemocratizado, a entrada em um novo século, ainda com muitos problemas não resolvidos. Vai falando do mensalão.
E terminando, para encerrar todo o seu canto e a longa viagem, o poeta clama por um país melhor, que faça valer o que está escrito na sua Constituição, o que é cantado em seu Hino, conclamando o povo e os políticos para a construção de um país melhor, em que a Justiça prevaleça.
Edson, depois dessa longa jornada de mais de quinhentos anos, finaliza sua viagem, pelas redondilhas e pelo repente, agradecendo por ter sido lido, pedindo desculpas se algum fato tenha sido esquecido, mas deixando a certeza no leitor que essa aliança da poesia e a História foi plenamente realizada.
Do D. Manuel ao Lula: Através da poesia, uma diferente História do Brasil
Autor: Edson Freire
Páginas: 111
Editora: Casa do Novo Autor.
Em Tempo: Este livro e outros de Edson Freire podem ser adquiridos no site do poeta e escritor: http://www.edsonfreire.net/livros.php
*Membro da APEG - Associação de Poetas e Escritores de Garça.
Página Pessoal: http://fagnerroberto.blogspot.com